8 de abril de 2012

Invista no poder da gentileza


Invista no poder da gentileza

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O que é ser gentil?

Gentileza é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o mundo. Ser gentil, portanto, é um atributo muito mais sofisticado e profundo que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta, porque embora possamos (e devamos) ser educados, a gentileza se trata de uma característica diretamente relacionada com caráter, valores e ética; sobretudo, tem a ver com o desejo de contribuir com um mundo mais humano e eficiente para todos. Ou seja, para se tornar uma pessoa mais gentil, é preciso que cada um reflita sobre o modo como tem se relacionado consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo.
O que você percebeu com os números da Organização Mundial da Saúde?
Percebi, bastante entristecida, o quanto temos nos colocado numa espécie de armadilha, o quanto temos nos deixado sucumbir pelas ilusões da modernidade, o quanto temos nos perdido de nós mesmos e esquecido de nossa capacidade de agir com o coração e de valorizar aquilo que realmente nos preenche, que realmente nos faz sentir felizes e plenos. Os dados são assustadores e delicadíssimos, uma vez que a depressão tende a ser, até 2020, a segunda causa de improdutividade das pessoas, seguida apenas das doenças cardiovasculares. Além disso, distúrbios afetivos como ansiedade, depressão e transtorno bipolar crescem absurdamente, sem falar em síndrome do pânico, TOC, entre outros nomes que se tornam cada vez mais comuns entre as pessoas. Diante da indignação que esses dados me causaram, encontrei mais motivos ainda para investir na gentileza e insistir no fato de que é somente agindo de modo coerente com o que realmente desejamos da vida que poderemos viver de modo mais equilibrado e menos doentio.

Por que esquecemos de ser gentis?
A rotina nos cega, costumo dizer. Pressionados por idéias equivocadas, que nos pressionam a ter sempre mais, a cumprir prazos sem nos respeitarmos, a atingir metas que, muitas vezes, não fazem parte de nossa missão de vida e daquilo em que acreditamos, nos tornamos mais e mais insensíveis. E nesta insensibilidade, vamos agindo e nos relacionando com as pessoas - mesmo com aquelas que amamos - de forma menos gentil, mais apressada e mais automatizada, sem nem nos darmos conta disso. É por isso que, a meu ver, ser gentil não pode depender do outro, não pode ser uma moeda de troca, tem de ser uma escolha pessoal, um entendimento de que podemos fazer a nossa parte e contribuir sim para um mundo melhor. Leonardo Boff tem uma frase maravilhosa que resume bem o que quero dizer: Não serão nossos gritos a fazer a diferença e sim a força contida em nossas mais delicadas e íntegras ações.

Você diz no livro que ser gentil nada tem a ver com ser bobo e dizer sim a todos?

Exatamente. Ser gentil nada tem a ver com ser bobo e fazer o que todos querem que a gente faça. Muito pelo contrário: quanto mais gentil somos com as pessoas, mais gentil somos também com nossa verdade, com nossos valores. Assim, dificilmente nos aviltaremos em nome de algo que não esteja de acordo com nosso coração. Pessoas que dizem sim a todos estão, na realidade, reforçando uma imagem de ‘vítimas da vida’, alimentando um argumento de ‘coitadinhas’, de extremamente boas e injustiçadas. Isso não é ser gentil e demonstra mais uma dificuldade em lidar com sua própria carência do que a força ou o poder contido na gentileza. Aprender a dizer não nem sempre é uma tarefa simples. A gente aprende que tem de corresponder às expectativas de quem amamos, desde pequeninos; daí, quando crescemos, não sabemos dizer não sem nos sentirmos culpados. Daí para justificar nosso medo de dizer não, é um pulo; afinal, é bem mais fácil transferirmos a responsabilidade de nossas limitações para o outro.

Dá pra falar ‘não’ sendo gentil? Como?

Não só dá como é o mais inteligente. Muitas vezes, a gente associa a palavra não à raiva ou à falta de gentileza, quando na verdade ela é apenas uma resposta, tão cabível quanto o sim. Desde que seja dito com sinceridade e respeito, sabendo por que motivo você está dizendo não, a gentileza é absolutamente coerente. O problema é que a gente já diz com culpa e, para não demonstrar, altera o tom de voz, tenta se justificar acusando o outro ou inventando pequenas mentiras que tornam a relação pesada, tensa. Basta que sejamos honestos, que nos permitamos respeitar nossos limites, que aprendamos a nos dar o direito de dizer não. Além disso, vale um questionamento: será que é tão difícil dizer não porque, na verdade, você não consegue ouvir o não do outro? Será que esta dificuldade em negar ao outro não está a serviço de poder lhe cobrar sempre o sim? Enfim, lance mão de um tom de voz compreensivo e afetuoso e o seu não será muito mais humano e aceitável do que aquele que a gente costuma dizer gritando, acompanhado de gestos agressivos.

Que benefícios a gentileza nos traz? 

Ser gentil é extremamente benéfico quando se entende que a gentileza abre portas, muda o rumo dos conflitos, facilita negociações, transforma humores, melhora as relações, enfim, propicia inúmeras vantagens tanto na vida de quem é gentil quanto na de quem se permite receber gentilezas.
No ambiente de trabalho, por exemplo, é fato que as empresas têm preferido, cada vez mais, profissionais dispostos a solucionar problemas e favorecer as conciliações. Afinal de contas, competência técnica é oferecida em universidades de todo o país, mas habilidades humanas como a gentileza são características escassas e muito bem quistas no mundo atual.
Como a gentileza interfere no nosso dia-a-dia? Nas relações de trabalho, no amor, na família?
Como disse anteriormente, a gentileza facilita todas as relações. No livro, conto a comovente história de vida do Profeta Gentileza, que viveu na cidade do Rio de Janeiro pregando a paz entre as pessoas. Ele tinha uma frase que ilustra muito bem o que chamo de “poder” da gentileza: GENTILEZA gera GENTILEZA. Do mesmo modo, o contrário também é verdadeiro. Ou seja, grosserias geram grosserias e a gente sabe que ninguém gosta de ser tratado de forma grosseira. Em minha palestra (com o mesmo título do livro), abordo os malefícios que a falta de gentileza causa em nossa saúde física, emocional e mental. Para se ter uma pequena idéia do quanto a gentileza interfere em nosso dia-a-dia, basta notar: pessoas intolerantes, briguentas e pouco ou nada gentis geralmente sofrem de enxaqueca, gastrite, ansiedade, cansaço, falta de criatividade, entre outras limitações. Sendo assim, o que podemos fazer de mais inteligente é tratar de praticar a gentileza quanto mais conseguirmos. E isso é uma escolha, antes de mais nada.
Como nasceu a idéia do tema para escrever o livro?
Eu já tratava, há algum tempo, do tema “Inteligência Afetiva”, que tem muito a ver com essa capacidade de se relacionar harmoniosamente com as pessoas, sempre buscando compreender melhor como se comunicar, de que forma ser claro sem precisar ultrapassar os limites da boa convivência. Sempre busquei, inclusive, mostrar o quanto a afetividade tem a ver com o desenvolvimento da inteligência humana e de que forma isso contribui para nossa realização pessoal, profissional e amorosa. Certo dia, pensando em como abordar este tema de uma forma ainda mais fácil, me veio uma percepção muito clara: o quanto temos desaprendido a acolher o outro, a ter paciência, a compreender que cada um tem suas dificuldades, mas que todos nós desejamos apenas ser felizes... e a palavra GENTILEZA me veio na hora! Comecei a pesquisar sobre o tema e fui encontrando dados surpreendentes, o que me empolgou cada vez mais. Saí de “férias” por uns dias, como sempre faço quando vou escrever, e o resultado foi este - o livro O PODER DA GENTILEZA.

No seu livro, você dá dicas práticas de como exercitar a gentileza no dia-a-dia? 

Sim, com certeza. Procurei transformar este trabalho em algo muito prático. Quero reproduzir aqui 10 dicas para facilitar a prática da gentileza. Creio que se conseguirmos incorporar pelo menos algumas dessas ações, nossa vida já se tornará bem mais leve e gostosa.
1. Tente se colocar no lugar do outro. Isso o ajuda a entender melhor as pessoas, seu modo de pensar e agir.
2. Aprenda a escutar. Ouvir é muito importante para solucionar qualquer desavença ou problema.
3. Pratique a arte da paciência. Evite julgamentos e ações precipitadas.
4. Peça desculpas. Isso pode prevenir a violência e salvar relacionamentos.
5. Pense positivo. Procure valorizar o que a situação e o outro têm de bom e perceba que este hábito pode promover verdadeiros milagres.
6. Respeite as pessoas quando elas pensarem e agirem de modo diferente de você. As diferenças são uma verdadeira riqueza para todos.
7. Seja solidário e companheiro. Demonstre interesse pelo outro, por seus sentimentos e por sua realidade de vida.
8. Analise a situação. Alcançar soluções pacíficas depende de se descobrir a raiz do problema.
9. Faça justiça. Esforce-se para compreender as diferenças e não para ganhar, como se as eventuais desavenças fossem jogos ou guerras.
10. Mude a sua maneira de ver os conflitos. A gentileza nos mostra que o conflito pode ter resultados positivos e ainda tornar a convivência mais íntima e confiável.
Rosana Braga - via

A verdadeira era das trevas - DKR


    

Por Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche
The Buddhist Channel”, 30 de janeiro de 2012
Himachal Pradesh, India
Algumas pessoas dizem que a era das trevas, a era do vício – kaliyuga (o último dos quatro estágios que o mundo atravessará como parte do ciclo dos yugas descritos nas escrituras indianas), está acontecendo agora, ou no mínimo, se iniciará em breve. Alguns até mesmo temem que no final de 2012, o mundo do modo como o conhecemos, irá terminar.
Mas, o que determina se uma era é das trevas ou de ouro? Quais os sintomas e sinais? Terremotos, um céu púrpura, atividades meteóricas, estes não são presságios do juízo final, como nos fizeram crer.
Do mesmo modo, querubins voando, uma economia proeminente, liberdade de informação e tempos pacíficos não são necessariamente sinais de uma era de ouro.
A era de ouro ocorre quando as pessoas valorizam sentimentos como a empatia e o perdão, quando têm disposição para compreender o ponto de vista dos outros e se sentem contentes com o que possuem.
Quando tais valores são sistematicamente sabotados, então se pode dizer que o amanhecer do dia do juízo final já começou. Quando olhamos um mendigo inofensivo como sendo uma praga e invejamos os bilionários que destroem o planeta estamos contribuindo para o início do fim.
Como o Buda ensinou, tudo depende de causas e condições. Eras das trevas e eras de ouro não são uma exceção. Elas não são predestinadas, nem imprevisíveis ou caóticas.
O destino é algo condicionado. Nosso próprio “eu” determina tais causas e condições. Você pode criar seu destino, suas escolhas são o seu destino. Aquilo que somos e como somos nesse momento depende daquilo que fizemos no passado. E o que seremos no futuro depende do que somos e como somos agora.
Sakyamuni com seus pés de lótus, pode aproximar-se da sua porta e oferecer sua tigela, mas se continuarmos obcecados por relógios Patek Philipe, fama e amigos, ou por um abdômen malhado, então a verdade do Buda irá nos incomodar, se tornará uma verdade inconveniente.
Muito embora possamos estar no meio da Kaliyuga – sujeitos a uma infinidade de causas e condições de uma época de escuridão, facilmente distraídos e presos a pensamentos ligados a nossa própria auto-preservação e aspirando encontrar referenciais em valores materialistas ou consumistas – podemos tirar vantagem dessa situação.
Diz-se que durante os tempos de degenerescência a compaixão dos Budas e dos Bodisatvas se torna ainda mais fortalecida. Alguém espiritualmente capacitado pode tirar proveito dessa situação. A era da escuridão pode ser como um lembrete da urgência e da preciosidade do Buda, do Darma e da Sanga.
Como seres que dependem de condições, temos que buscar a luz, e cultivar as condições que nos tragam luz. Precisamos constantemente nos lembrar do oposto do materialismo. Para isso, precisamos da imagem do Buda, do som do Darma, e da estrutura da Sanga.
Nos últimos anos perdemos algumas das maiores manifestações do Buda, como Kyabje Trulshik Rinpoche, Mindroling Trinchen Rinpoche e Penor Rinpoche, que foram grandes inspirações e lembranças. Mas, embora essas manifestações tenham se dissolvido, tenha em mente que a sua compaixão desconhece o significado das limitações.
Dentro do espírito de onde há uma demanda, há uma oferta, devemos ter aspirações e anseios de que as manifestações dos Budas e Bodisatvas nunca cessem, e – usando um termo da moda – que seus renascimentos sejam rápidos.
Mas tal renascimento não deve se limitar à figura de uma criança tibetana, criada no interior da tradição e de uma cultura particular. Podemos aspirar que os Budas renasçam de todas formas, mesmo como algo aparentemente tão insignificante como uma brisa, para nos lembrar de valores como amor, compaixão e tolerância.
Devemos gerar um campo magnético para que miríades de manifestações do Buda possam surgir e não apenas tulkus que slata de trono em trono ou que dirigem um Rolls Royce, produtos muitas vezes de um nepotismo religioso.

Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche, também conhecido como Khyentse Norbu, é um lama butanês, cineasta e escritor. Seus dois filmes mais importantes são A Copa (1999) e Viajantes e Mágicos (2003). Ele é o autor do livro “O Que Faz Você Ser Budista?”.
Tradução Brenda Neves. Revisão Letícia Ramos, Miguel Berredo e Carmen Jinpa.
http://bodisatva.com.br/a-verdadeira-era-das-trevas/
 

Blog Samsara - Benefício de salvar vidas


Benefício de salvar vidas

Posted: 09 Mar 2012 04:36 AM PST
Chatral Rinpoche
Chatral Rinpoche (Tibete, 1913 ~):
Faça todo o esforço para não matar qualquer ser vivo: passáros, peixes, gazelas, vacas e até mesmo pequenos insetos. Ao invés disto, ocupe-se de salvar a vida deles oferecendo proteção em face de todos os perigos. O benefício desta ação está além da imaginação. Está é a melhor prática para a sua própria longevidade. E o mais grandioso ritual para os vivos ou mortos. É a minha principal prática para beneficiar os outros. Ela dissipa todos os obstáculos e adversidades externos e internos. Sem esforço e espontaneamente, traz condições favoráveis. E, quando inspirada pela nobre mente de bodhichitta e selada com preces puras de dedicação e aspiração irá levá-lo à completa iluminação e à realização do seu bem-estar e o dos outros. Disto você não precisa ter qualquer dúvida!
de “O Benefício de Salvar Vidas”
do blog quietamente
Eventos:

Textos relacionados:
  1. Benefício duplo
  2. Transcender todos os níveis
  3. Aprofundar a prática

Encontrando a Tranqüilidade da Mente



Encontrando a Tranqüilidade da Mente



de Chagdud Tulku Rinpoche
Transcrição de um ensinamento dado
em Oakville, Califórnia, em junho de 1990
Traduzido por Tsering Everest


Chagdud Tulku Rinpoche, nascido em 1930, pertence à última geração de mestres que herdaram os tesouros dos ensinamentos e métodos Vajrayana.
Filho de Dawa Drolma, uma das mais célebres mulheres lamas deste século, abade do secular monastério de Chagdud Gonpa no Tibet, Rinpoche viveu os primeiros vinte anos de exílio, depois da invasão chinesa de 1959, na Índia e no Nepal. Lá serviu à comunidade tibetana como lama, médico e promotor das artes.
Em 1979, chegou aos Estados Unidos. Quatro anos depois, Rinpoche criou a
Chagdud Gonpa Foundation, hoje com centros também no Canadá, Suíça e Brasil, onde reside.


Se examinarmos nossas vidas, nosso descontentamento real, a angústia e o transtorno que experienciamos não se devem a condições externas. Ao invés disso, reagimos a essas condições internamente, e essa é a fonte da nossa infelicidade.
Pegue a pimenta vermelha, por exemplo. Para alguns, comida sem pimenta não vale a pena comer. Não tem qualquer sabor ou qualidade, é branda. Para outros, comida temperada com pimenta é terrível. Fará com que elas tussam e engasguem, e com que seus olhos lacrimejem. Elas poderão até pensar que quem quer que tenha posto pimenta na sua comida tinha más intenções! A pimenta em si não é diferente; é apenas o que é. Uma pessoa encontra prazer na pimenta, enquanto outra encontra dor e desconforto. Cada pessoa reage a ela de uma maneira diferente, dependendo dos seus próprios gostos e temperamento.
Não é o que acontece concretamente que nos faz felizes ou tristes. Pelo contrário, é nossa própria mente. Se nós realmente queremos realizar um estado de paz, se queremos entender nossa própria natureza perfeita, que vai além dos extremos da mente ordinária — feliz e triste, bom e mau —, devemos mudar a mente.
A mente ordinária percorre uma trilha pequena. De modo a descobrir as capacidades plenas da mente, devemos ampliar a nossa visão. Somos como alguém olhando por uma pequena porta numa cerca. Podemos ver apenas um pouco. Mas se pusermos a cerca de lado, teremos uma visão muito mais ampla, mais compreensiva. 
A maioria de nós não está realmente consciente do quão afortunado e especial é ser humano. Como seres humanos, temos grandes capacidades que outros seres não têm. A mente é extremamente poderosa e conduz todas as nossas ações; temos a capacidade de dirigir nossas mentes.
A maioria das mentes humanas tem uma forte tendência de identificar problemas. Em si, isto não cria dificuldades, exceto que nos tornamos presos. Estamos constantemente resolvendo problemas. Quando estreitamos a mente para focarmos os nossos problemas, perdemos nossa visão mais ampla. E se não conseguimos resolver um problema, não conseguimos dormir, não conseguimos aproveitar a vida.

Isso é um pouco como olhar para uma fenda diminuta numa xícara de chá. A xícara ainda comporta chá. Não vaza. Mas se você foca na rachadura, você traz o poder da sua mente para ela, e então é como olhar para a fenda sob um microscópio. Não parece mais uma rachadura; parece o Grand Canyon. Da mesma maneira, quando focamos nossa mente num problema, perdemos nossa perspectiva e então o problema parece enorme. Sentimos que não conseguimos lidar com ele e então ficamos transtornados.
Embora, como humanos, tenhamos corpos e mentes muito bons, e embora as condições de nossas vidas sejam muito afortunadas, não reconhecemos isso — ou, se o fazemos, é apenas superficialmente. Por exemplo, noventa por cento pode ser maravilhoso, enquanto dez por cento é difícil. Mas notamos apenas os dez por cento e isso domina nossos pensamentos.
Não estamos aptos a apreciar a felicidade em nossas vidas. Mudar isso não é difícil, mas requer que olhemos para além de nossas próprias circunstâncias.
Precisamos olhar para as condições da humanidade — para a fome, a guerra, a doença e a morte que existem ao nosso redor, e ainda mais longe, para as condições dos seres através da existência. Se nos colocássemos no lugar daqueles que estão sofrendo, teríamos grande compaixão por eles.
O propósito disso não é fazê-lo sentir-se mal, mas fazê-lo entender o quão afortunado você é. Uma vez que você tenha se colocado no lugar dos outros, uma vez que você tenha imaginado o que eles sentem, você percebe que a sua própria vida não é tão ruim. É verdade que você tem dificuldades na sua vida, mas há uma escala de dificuldade de um a dez. Você pode determinar onde você está nesta escala — e descobrir onde suas dificuldades realmente jazem — apenas se você entender o sofrimento de todos os seres.
Quando você olha para as condições dos outros, você sente compaixão. Compaixão significa desejar que o sofrimento dos outros possa acabar. Ter compaixão cultiva boas qualidades dentro de você e lhe ajuda a perceber a sua própria boa fortuna. Seus problemas, embora reais, não são esmagadores; você pode lidar com eles. Saber isso liberará algo do estresse e da tensão na sua vida.
Se você contemplar como é estar na pele dos outros seres e então voltar à sua própria experiência de realidade, você encontrará tranqüilidade na mente — um lugar onde há conforto e calma, onde você percebe que os seus problemas não são tão esmagadores. Deixe sua mente descansar nesta calmaria tanto quanto dure. Quando a agitação, as inquietações e preocupações surgirem de novo, volte seus pensamentos de volta às condições dos outros. Então, vá ao lugar de calma e relaxe. Esse é um tipo de meditação.
A meditação tem dois propósitos: remover a delusão da mente e então acentuar o que é natural na mente. Muitas pessoas pensam que meditação significa limpar a lousa da mente e sentar quietamente sem pensamentos, até que experimentem algo agradável. Este tipo de meditação pode ser feita por um curto período de tempo, mas há muito mais do que isto a ser feito. Uma mente descansada e confortável é algo que cultivamos. Não é um estado de relaxamento que impomos à força numa mente perturbada. 
Essencialmente, há duas coisas que nos sobrecarregam e nos causam uma falta de paz: medo e esperança. Essas emoções estão constantemente nos empurrando e puxando em uma direção e depois em outra. Tememos isso ou queremos aquilo todo o tempo. Sentar em quietude por um pouco de tempo ajuda, mas não produz mudança durável. 
O que produz uma transformação profunda começa com a contemplação. Nossa mente ordinária é como uma fita tocando num gravador. Já foi gravada com os pensamentos e com a fala de todos a nossa volta — nossos pais, nossos professores, nossos colegas de trabalho. Todas as nossas experiências de vida estão lá na fita. Quando sentamos e meditamos por um instante, é como colocar o gravador na "pausa". Mas logo que paramos de meditar — tão logo o botão de "pausa" é desapertado — o mesmo velho barulho começa a tocar de novo pela nossa mente, e novamente somos empurrados e puxados sem socorro pela esperança e pelo medo.
É por isto que é importante regravar a fita. Se você é uma pessoa raivosa, você encontrará muitas coisas na sua vida para justificar sua raiva. Se você é uma pessoa triste, você encontrará muitas coisas na sua vida para justificar sua tristeza. Mas se você se concentrar em algo suficientemente mais forte, você esquecerá estas coisas. Por exemplo, se você se envolve em pintar ou olhar uma bela flor, sua mente estará ocupada por um momento e você se esquecerá de todas as coisas que estavam lhe fazendo ter raiva ou tristeza. Por um momento, elas escorregarão da dianteira de sua mente. Mais cedo ou mais tarde, ainda assim, elas voltarão.
Através da contemplação, entretanto, você pode regravar a fita e então criar mais paz na mente. Então, mesmo quando a fita estiver rodando, o som será agradável ao invés de desagradável e não lhe incomodará. Você não terá de desligá-lo.

Contemplando a ImpermanênciaNa contemplação, é importante reconhecer o quão afortunados nós somos, mas também temos de perceber que a nossa vida é impermanente, que não irá durar para sempre. Entender a impermanência é crucial para a maturidade espiritual. 
Ao contemplar a impermanência, olhe para a sua vida. De onde você veio? Onde você nasceu? Você ainda vive lá? Quem são as pessoas com quem você viveu? Você ainda vive com elas? Em que casa você viveu? Quanto tempo faz que você a viu? O que aconteceu ao seu próprio corpo? As coisas estão diferentes agora. Tudo através da sua vida é impermanente. 
Quando você começa a explorar a natureza da impermanência, você pode ficar deprimido(a). Você pode pensar "Ah, é tudo inútil. Tudo o que eu tenho, tudo o que criei, é impermanente. O tanto quanto amo minhas crianças, nossa relação é impermanente." Se, por outro lado, você vier a entender verdadeiramente a impermanência, você entenderá o valor de cada momento. Você dirá, "Sim, minha vida é impermanente, mas enquanto eu a tenho, irei aproveitá-la. Enquanto eu puder ver o rosto de meu filho, irei apreciá-lo. Enquanto tiver meu lar, irei apreciá-lo. Essas coisas são apenas temporárias, então, enquanto as tenho, irei aproveitá-las."

Isso é particularmente importante de lembrar em relacionamentos, por causa das dificuldades que surgem. Uma vez que você perceba que não sabe quanto tempo terá para ficar com seu parceiro, você entenderá o quão sem sentido é discutir. Por exemplo, por que se preocupar se o seu nariz está torto se você irá perder sua cabeça?

Se não entendermos a impermanência, se assumirmos que não iremos durar para sempre, então quando perdermos algo, a perda pode causar em nós uma grande angústia. Mas se soubemos que podemos perder tudo o que temos, e que por último, no momento da nossa morte, tudo se perderá, então quando algo se for, podemos aceitar facilmente que ele se foi.
Suponha que você compre um carro zero, um carro maravilhoso que você sempre quis. Se você pensar, antes mesmo que você o dirija até sua casa, sobre o quão impermanente ele é, então se você batê-lo, se ele for roubado ou se ele quebrar, você não experimentará o mesmo tipo de dor que você uma vez poderia sentir.
Há sabedoria e liberdade nesse entendimento, que nos permite apreciar o que temos quando o tivermos, e extrair o valor de cada momento. Então, a alegria que experimentamos é exuberante. Mesmo ver o rosto de um estranho na doçaria é um momento especial. Precisamos apreciar cada momento de nossas vidas desta maneira. 
De acordo com o entendimento buddhista, há muitos tipos diferentes de existência, nenhum dos quais são tão maravilhosos quanto os nossos. Então, enquanto temos essa preciosa oportunidade, deveríamos apreciá-la e degustá-la, ao invés de nos focarmos em nossos problemas e falhas. Nossa vida é como um piquenique, como o é a vida de cada ser humano individual. As circunstâncias dos piqueniques dos outros podem não ser exatamente iguais às nossas, mas eles ainda têm um corpo humano precioso e uma mente extraordinária. Seu piquenique é de grande valor para eles. Não deveríamos nunca ser os responsáveis por arruina-lo.
Em nossos relacionamentos com os outros — com nosso marido ou esposa, nossos parentes, nossos filhos ou nossos colegas de trabalho — nunca deveríamos dizer ou fazer algo que irá lhes causar sofrimento. Eles são seres humanos que têm tanto direito à felicidade quanto nós. Se mantivermos isso constantemente em nossa mente, não iremos feri-los; pelo contrário, faremos tudo que for necessário para assegurar a felicidade deles. Quando nossa(o) esposa(o) ou filhos deixam a casa, nunca sabemos se eles se foram por dez minutos ou se nunca voltarão para o lar. Nunca sabemos se nós mesmos voltaremos ao lar, porque a vida é impermanente. Nosso tempo, e o de todo mundo, é precioso. Sabendo isto, devemos ser extraordinariamente gentis e úteis aos outros.

Algumas vezes tentamos corrigir os outros. Mas quando tentamos mudá-los, eles resistem. Tão determinados quanto estivermos para mudá-los, eles estarão igualmente determinados a resistir. Isso é bem natural. Tentar mudar pessoas pela agressão e pela dominação é como tentar extinguir uma fogueira colocando mais madeira nela. Você só está piorando as coisas. Se, ao invés disso, você tirar pedaços de madeira do fogo, um por um, o fogo não terá uma fonte de energia e se esvairá — o problema foi resolvido. A agressão e a dominação nunca funcionam — eles apenas causam uma escalada. Qualquer que seja a circunstância, se você trouxer a ela um entendimento da impermanência, você será mais paciente.
Algumas vezes pensamos que, ao sermos pacientes, estaremos sendo ingênuos, estúpidos ou permitindo que a outra pessoa ganhe. Mas este realmente não é o caso. Todo mundo perde se não há paciência. Você pode conceder num assunto particular, mas no todo há um ganho maior porque você chegou mais perto da verdadeira paz na sua própria mente.
Sendo difícil aplicar a paciência no meio de um problema, é importante praticar a contemplação da impermanência antes que os problemas surjam. Praticar essa consciência é como fazer pequenos buracos através da falsa crença da permanência. Você reconhece, "Isso é impermanente, isso é impermanente, isso é impermanente." Cedo ou tarde, alguém que é impermanente irá dizer algo rude a você. Mas ao invés de reagir do seu modo habitual, você irá entender, "Essa situação é impermanente; essa pessoa é impermanente."
Ao lembrar da impermanência, você estará apto a lidar com a sua vida de um jeito diferente. Você terá mais paciência. Quando você perde a vista da impermanência, então tudo parece absorver sua atenção e ser crucialmente importante, e você reagirá com muita ansiedade, criando dificuldade não apenas para você, mas para qualquer um a quem você esteja reagindo.
A meditação sobre a impermanência é um recurso para quando a vida se torna turbulenta. Não é como uma bandagem para ser aplicada a uma ferida já existente. Pelo contrário, é algo com o qual você se fortifica para que, assim, você tenha mais força e uma maior capacidade para lidar com questões difíceis conforme elas surgirem. No início, não é tão fácil; há apenas uma pequena margem na sua mente para reagir, e quando alguém faz ou diz algo que você não gosta, você responde muito rapidamente, sem muito controle. Mas quando a meditação na impermanência tiver realmente penetrado na mente, sua reação é diferente. Você tem um momento para pensar antes de reagir: "Como eu desejo responder a essa situação? Poderia perder minha serenidade ou poderia ser paciente." Neste momento de consideração, há mais liberdade na mente e mais paz.

Iluminação: Revelando a Verdadeira Natureza da MenteO corpo humano é especialmente apropriado para revelar a verdadeira natureza da mente, para atingir a iluminação. Alguns animais, como os golfinhos, são muito espertos e podem ser treinados para fazer coisas fantásticas. Mas eles não podem ser treinados para reduzir sua raiva ou desejo. Eles podem ser treinados para nadar numa certa direção, mas não podem se dirigir às suas próprias mentes e aos seus conteúdos. Apenas os seres humanos conseguem fazer isto. Os humanos têm a capacidade de entender e aplicar os ensinamentos que fazem possível transformar a mente. Se alguém escolhe tornar a busca espiritual uma prioridade, esta mesma vida humana pode ser usada para alcançar a iluminação, para revelar completamente a verdadeira natureza da mente.
O significado da palavra "iluminação" não é tão remoto quanto parece. Para entendê-lo, começamos com a contemplação. Tudo no mundo é composto de outras coisas. Num momento o mundo não estava aí; então, todos os elementos e substâncias se formaram e agora a terra está aqui. Algum dia, todas essas substâncias irão se separar e o mundo não mais existirá. Da mesma maneira, num momento nosso corpo não existia. Então nossos pais fizeram um pouco disto e daquilo, e nosso corpo veio a ser. Algum dia, não teremos um corpo; irá cessar seu funcionamento e se decompor. 
A mente não é assim. A mente não é composta; não é algo substancial. Você não consegue encontrar nenhuma prova da mente e ainda assim você não consegue negar a qualidade cognitiva que vai junto do que chamamos de "mente".
Contemplar a relação do oceano com as ondas nos ajuda a entender a verdadeira natureza da mente em relação à mente ordinária. A verdadeira natureza da mente é como o oceano. A mente ordinária é como as ondas que surgem continuamente do oceano e que então se aquietam de volta nele. Esperança e medo, felicidade e tristeza, surgem na mente a todo instante e então se dissolvem. São impermanentes. Mas a verdadeira natureza da mente está além da impermanência. A natureza da mente é similar a um oceano —a mente é similar à flutuação das ondas — é a essência da existência humana. Eventualmente, através da meditação, percebemos que todas as ocorrências da mente similares às ondas são realmente inseparáveis da natureza da mente, vasta e além de vida e morte. 
Ter felicidade na vida é maravilhoso, mas a felicidade é impermanente. Riqueza e fama são maravilhosas, mas também são impermanentes. A única coisa que realmente perdura — que é imutável porque nunca nasceu e nunca morre — é a natureza intrínseca da mente. Agora, esta natureza não está evidente para nós. Estamos tão centrados nas ondas que perdemos a visão do oceano.
O processo espiritual é um processo de revelar as qualidades da mente similar a um oceano. A iluminação não é algo que é alcançado no topo de uma montanha. Não é algo a ser procurado em alguém mais. A iluminação é a verdadeira natureza da mente de alguém, a qualidade inerente de alguém.
As pessoas pensam que você só pode ser mundano ou espiritual, mas na verdade os dois andam lado a lado. Para ser espiritual, você não tem de desistir do mundo. Há uma maneira da integrar os princípios espirituais na sua vida, no que quer que você faça ou pelo que você seja responsável. Isso não necessariamente causa grandes mudanças externamente. Pelo contrário, você pensa diferentemente sobre as coisas; você tem uma meta diferente. Nos caminhos ordinários do mundo, a meta é a felicidade — mas essa felicidade é apenas temporária. No caminho espiritual, a meta também é a felicidade, mas uma felicidade que seja imutável e perfeita, que é chamada de "iluminação". Essa é a única diferença. Uma é uma meta a curto prazo e a outra é uma meta a longo prazo.
A maneira como nos aplicamos à meta de longo prazo na nossa vida diária é examinando nossa experiência. Sem uma prática espiritual, tendemos a ser muito distraíveis e compulsivos. Queremos isso, não queremos aquilo; gostamos disso, não gostamos daquilo. Temos esperança e medo sobre ter aquilo que queremos ou nos prevenimos contra o que não queremos. A mente está sempre perturbada desse jeito. Isso indica que estamos nos apegando a algo — uma idéia, um objeto ou um relacionamento — muito fortemente.
Precisamos examinar ao que estamos nos apegando através de três critérios. Primeiro, precisamos perguntar se é algo permanente ou impermanente.
Segundo, precisamos examinar se é uma coisa em si mesma ou um composto de outras coisas. Por exemplo, o que chamamos uma mesa não é apenas uma mesa; é um composto de muitas outras coisas. Cada uma destas coisas tem seu próprio nome, até o nível molecular. Logo, o nome "mesa", com o qual nós contamos externamente como uma mesa, em essência não é exatamente isto. São muitas outras coisas.
Mesmo o corpo que pensamos como o "eu" é um composto. É constituído pela cabeça, mãos, pernas, órgãos, cabelo e olhos. O corpo não é uma singularidade. Se você tirasse a sua cabeça fora e a pusesse numa mesa, você não chamaria isso de corpo, você chamaria de cabeça. Normalmente pensamos na nossa cabeça como o "corpo", mas o "corpo" é um título arbitrário dado a um composto de muitas coisas, cada uma com o seu próprio nome.
Terceiro, temos de examinar se a coisa à qual estamos apegados é livre. Em outras palavras, ela pode ser afetada por algo mais? O corpo parece ser bem livre. É o nosso próprio recurso. Mas a doença, o envelhecimento, o clima quente ou frio, todas as condições da vida o afetam. Isso significa que basicamente nos falta liberdade porque estamos constantemente sendo influenciados por algo mais. Tudo está sendo constantemente afetado por condições externas. Mesmo uma montanha, que parece completamente livre, pode ser movida aos poucos por um trator, ou retalhada pela água e pelo vento.
Tudo o que examinamos, tudo na existência, é impermanente, composto e sem liberdade. E ainda assim, somos desesperadamente apegados às coisas — queremos que as condições da nossa vida estejam num certo rumo. Mas como nada é permanente, singular ou livre, como as coisas conseguirão possivelmente tomar o rumo que queiramos que tomem? Somos como crianças perseguindo um arco-íris, pensando que podemos tê-lo. O que quer que seja a que estejamos nos apegando não pode ser mantido. Podemos nos esforçar para mantê-lo, mas não teremos sucesso. 
É necessária muita contemplação para entender o significado disso. Mas uma vez que você o compreenda inteiramente, sua relação com a vida e com tudo o que está nela mudará. Você será como uma pessoa velha observando um grupo de crianças fazendo um castelo da areia na praia. Essas jovens crianças constroem toda uma fantasia ao redor de sua brincadeira — e para elas é real. A pessoa idosa pode se juntar e ajudá-las, mas não há qualquer dúvida na mente desta pessoa sobre a realidade da brincadeira. 
Todas as coisas são impermanentes, castelos na areia. Sabendo disso, exatamente como a pessoa velha, você pode viver cada momento ao máximo, fazendo o que puder para trazer felicidade para as vidas dos outros, não se apegando a nada nem se tornando infeliz se as coisas não saírem do jeito que você queria.
Deste modo, através do entendimento espiritual, sua mente mudará gradualmente, conforme você se livra das falsas pressuposições que são a fonte do sofrimento para si e para os outros.

Possa haver benefício para todos os seres!

Prece para o rápido renascimento de HH Dungsey Thinley Norbu Rinpoche



Prece para o rápido renascimento de HH Dungsey Thinley Norbu Rinpoche

Você que girou a roda de oceanos de textos 
transmitidos  e revelados das Primeiras Traduções,  rei de iluminados 
escolásticos e praticantes, (Jóia da Atividade) Thinley Norbu.
Possa a lua cheia de (seu) supremo Nirmanakaya (tulku) surgir,

Aparecendo e permeando os três planos da existência com auspiciosidade!
Por favor, realize a intenção da mente iluminada do Glorioso Lama,Fazendo surgir felicidade e bem estar entre todos os seres, Tanto quanto é vasto o espaço.
Reunindo todas as acumulações (de mérito e sabedoria), e purificando nossas máculas e dos outros, De modo que sejamos rapidamente estabelecidos no estado búdico.
(Em resposta ao pedido de Lama Kunzang Wangdi e Dolop Sonam, (Eu,) Namkhai Nyingpo, fiz esta súplica (prece) para o Tulku.)

Blog Samsara -Deixar ir o sofrimento



Posted: 19 Mar 2012 02:07 PM PDT
Joseph Goldstein:
[...] Todos sabemos que as coisas mudam, mas quantos de nós vivem e agem a partir desse ponto de compreensão? Quando nós verdadeira e profundamente vemos a verdade da impermanência, nossos corações e mentes relaxam.
Ficaremos menos inclinados a nos agarrar às coisas, ou até mesmo aos nossos próprios desejos, tão desesperadamente. Ao afrouxarmos nosso agarrar àquilo que está sempre mudando, nós necessariamente deixamos ir a luta e, assim, deixamos ir o sofrimento. Podemos ver isso claramente com nossos corpos envelhecendo. Se estamos apegados que eles permaneçam de certo modo, então quando eles mudam por acidente, doença ou simplesmente velhice, sofremos.
Ajahn Chaa, um professor maravilhoso da tradição da floresta da Tailândia, expressou isso de modo bem simples: “Se você deixar ir um pouco, terá um pouco de paz. Se deixar ir bastante, terá muito paz. Se deixar ir completamente, terá paz completa. Sua luta neste mundo terá chegado a um fim”.
“One Dharma” (loc. 487)
Eventos:

Textos relacionados:
  1. Sofrimento por si só não é tão ruim
  2. Sofrimento e amor
  3. Sofrimento presente

“There’s no spoon” – A mudança de perspectiva sobre o mundo




No filme Matrix há uma cena com um diálogo interessante entre Neo e um garoto com vestes budistas. Por trás deste diálogo existem conceitos muito importantes (estudados pelas tradições contemplativas e pela ciência) ligados à construção da realidade pela mente, à natureza do processo (de dentro para fora) e à nossa falha em não percebê-la.

Tente ver a verdade. A colher não existe



Garoto: Não tente entortar a colher. É impossível. Apenas tente ver a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: A colher não existe (There’s no spoon).
Neo: A colher não existe?
Garoto: Você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.


Vamos a uma das possíveis interpretações:
“Não tente entortar a colher, é impossível.” Não devemos tentar mudar o mundo externo, pois é impossível, já que não podemos controlar as situações externas.
“Apenas tente ver a verdade. A colher não existe.” A colher não existe por não possuir uma natureza própria. Nada nessa colher a faz “colher”, tanto que ela pode ser entendida somente como um aglomerado de metais e outras substâncias. Ela é apenas uma construção interna da nossa própria mente e só pode existir externamente se surgir dentro de nós ao mesmo tempo.
“Você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.” Se quisermos que algo externo mude, devemos mudar primeiro o nosso interior e a forma de ver e entender o que se passa ao nosso redor.

A realidade além de conceitos

Vou dar um exemplo em relação à maneira como conceituamos as coisas: Um carro nada mais é do que um conceito arbitrário criado por nossa mente para facilitar a identificação das coisas. Ele é composto por uma série de itens: pneus, volante, motor, vidro, metal, plástico e borracha, entre outros e, de maneira externa, não existe por si só. Ele precisa da nossa mente. Se pegarmos cada parte do carro para analisar, veremos que não existe carro algum. Agora analise comigo: o vidro por si só, é o carro? Não é! Então vamos tirar essa parte. A porta é o que faz do carro um carro? Também não. Logo a excluímos também. O motor é o carro? Não. Então o tiramos. Se fizermos isso com todas as partes, não sobrará nada! Veremos que o carro não existe. Mas, quando juntamos novamente todas as partes que não são o carro (porta, banco, volante, motor), ele surge novamente como uma construção da nossa mente.

Tá. E para que isso serve e como eu aplico no meu dia a dia?

Se aprendermos a olhar o mundo desta perspectiva, entendendo que as coisas não possuem uma natureza própria, intrínseca, e que tudo é uma construção da mente (a colher não é uma colher, é um pedaço de algum tipo de metal, que existe apenas porque nossa mente “imputa” um conceito para ela surgir como colher), logo veremos que “o quadro é maior”: as pessoas não são nem boas, nem más; as coisas não são nem gostosas, nem ruins etc. A própria mente é que constroi todos esses conceitos e, por isso, não precisamos nos apegar a eles. A partir dessa ideia, então, podemos construir a realidade da maneira como quisermos! Veja um exemplo de como podemos usar essa mudança de perspectiva a nosso favor:
Imagine que alguém lhe faça algum mal, seja físico ou verbal. Podemos ficar nervosos ou… reconstruir a maneira de pensar mudando a perspectiva sobre situação. Como já vimos, nós não podemos mudar o que está fora – nesse caso o fato de alguém nos “machucar” – mas podemos lidar com a maneira com que vamos reagir. Só de perceber ou refletir por esse ponto de vista, já ganhamos tempo para pensar e não reagir automaticamente, retrucando na mesma moeda. Afinal, se estamos buscando algo mais elevado para melhorar como seres humanos, deveríamos dar o bom exemplo.
E, como em qualquer processo de aprendizado, isso só é possível com um pouco de prática. Por isso, lembre-se de que:
  • As coisas e pessoas não possuem uma natureza intrínseca – nada é bom, ruim, bonito, feio etc. Tudo pode ser como quisermos;
  • Qualquer situação pode ser transformada – mudando nossa reação, damos a características, às vezes, até opostas às que normalmente daríamos;
  • Experimente fingir que aquela coisa/pessoa/situação é completamente nova para você. Parece ridículo, ignorar o que já conhecemos por experiência, mas é um ótimo exercício.
Aplicando estas dicas você verá como tudo o que conhecemos não passa de um reflexo de nós mesmos. Pense nisso.
Categorias: Mente & Atitude | Tags: matrix, mente | Permalink

Autor: Leonardo Ota

Estudo budismo tibetano e sou aprendiz de meditante. Tento ficar em silêncio, mas falo mais que a boca. Procuro dar bons exemplos e nem sempre consigo. Às vezes acho que sei algo e a vida me mostra o contrário. Enfim, um eterno aluno em busca de lucidez.