A Arte do Altar
Em geral, a arte que é bela e inspiradora é um meio importante para nos alinharmos com a sabedoria transcendente. No Vajrayana especificamente, a arte de Dharma é considerada a expressão natural da "luz" da sabedoria. Seu objetivo é transmitir aos seres sencientes a lembrança do Buddha e a despertar a sensação de que o Buddha não está separado deles, mas sim realmente presente em nosso ser mais profundo. Em um sentido amplo, como o ser iluminado permeia tudo como o espaço, tudo é Buddha. Porém, ainda sim seria útil termos algo como um altar em nossas casas, mesmo que seja apenas para nos lembrarmos disso tudo.
Primeiro, você deve escolher um lugar importante de sua casa para colocar o altar e então montá-lo, meticulosa e belamente. O altar é altamente representativo: estátuas e thangkas representam o corpo iluminado; os textos e livros de Dharma representam a fala iluminada; as stupas, as p'hurbas e os conjuntos de sino e vajra representam a mente iluminada; as mandalas representam as qualidades iluminadas; e os ornamentos representam as atividades iluminadas. É muito importante ter livros do Dharma em seu altar. O formato das letras que formam as palavras representam o corpo do Buddha; o som da leitura das palavras representa a fala do Buddha; e o significado das palavras representa a mente do Buddha.
O nível inferior do altar é reservado para colocar oferendas. As oferendas externas são representadas por sete potes de água, de acordo com o costume indiano. O primeiro pote contém água para beber (você pode usar água com três as substâncias doces — açúcar branco, açúcar escuro e mel). O segundo contém água para lavar os pés (água com sabão de sândalo). O terceiro, flores que são agradáveis aos olhos (tanto flores que crescem na terra quanto na água). As flores de oferenda resultarão em termos um corpo belo enquanto ainda estivermos no caminho, e na fruição elas resultarão em um corpo com as trinta e duas marcas maiores e oitenta marcas menores). A quarta oferenda é o incenso que representa a moralidade e que conduz a um renascimento favorável nos reinos humano e divino. A quinta é a luz que representa a sabedoria (você pode usar uma lamparina ou uma vela, mas deve pensar que está oferecendo também a luz do sol e da lua, a luz das jóias que realizam desejos e assim por diante). A sexta é a água perfumada que é uma oferenda para o corpo (você pode usar água com açafrão). Você também pode usar água com açafrão nas duas primeiras oferendas. A sétima oferenda é de comida. No Tibet, geralmente misturávamos tsampa com manteiga, leite, queijo e com as três substâncias doces. A música é a oitava oferenda. Quanto a ela, o grande mestre não-sectarista Kongtrül Rinpoche ensinou a não colocar o tingshag (pequenos címbalos de mão) sobre o altar porque a oferenda de música é realmente o som e não o instrumento em si.
As oferendas internas sobre o altar são o men, o rakta e a torma. O men é o néctar que é colocado sobre o altar no lado esquerdo. Você pode encher uma taça de crânio (kapala) de metal com álcool e adicionar dutsi, que é uma substância consagrada feita de oito substâncias raiz e mil substâncias secundárias. O dutsi tem muitas funções, como aparecer como a luz que invoca a sabedoria ou se transformar em um gancho que captura os siddhis, e assim por diante.
O rakta é colocado sobre o altar no lado direito. Você pode encher a taça de crânio com chá preto e adicionar uma substância rakta se você a tiver. A substância rakta é feita com o "sangue" de elementos inanimados como grama e árvores. Por exemplo, o sândalo vermelho é o rakta das árvores; o pó de sindura é o rakta da água. Todas as substâncias rakta são vermelhas.
O altar age como um lembrete de que os buddhas e os seres sencientes têm a mesma essência. Se entendermos corretamente, ter um altar será como ter uma conexão direta, através de nossa devoção, com os buddhas iluminados. Possa seu altar levar muitos seres ao despertar!
As oito oferendas de água
Estas são as oito oferendas de água sobre o altar, que representam as oferendas externas (chyi) que são agradáveis aos cinco sentidos:
Água para beber (argham) como uma oferenda para a boca; contém as três substâncias brancas [leite, iogurte e manteiga] e as três substâncias doces [açúcar branco, açúcar escuro e mel].
Água para lavar os pés (padyam) como uma oferenda para o corpo.
Flores (pushpe) como uma oferenda para os olhos, incluindo as flores que crescem no solo ou na água.
Incenso (dhupe) como uma oferenda para o nariz, tanto naturalmente existentes quando feitas pelo homem.
Luz (aloke) como uma oferenda para mente, como as luzes do sol, da lua e das jóias, assim como a luz da consciência prístina.
Perfume (ghende) como uma oferenda para o corpo.
Comida (newidhe) como uma oferenda para língua; contém cem sabores e mil poderes.
Música (shabdha) como uma oferenda para os ouvidos, particularmente a música cerimonial. A música não é representada por uma oferenda de água porque é a música real da prática de sadhana — do sino, do tambor damaru e de outros instrumentos.
Para apresentar as oferendas, visualizamos incontáveis deusas emanando do centro de nosso coração, cada uma delas carregando uma oferenda. Estas deusas emanam outras deusas, que também emanam outras deusas. Este processo vai se multiplicando até o céu inteiro estar preenchido com oferendas externas.
(Tharchin Rinpoche)http://www.dharmane t.com.br/ vajrayana/ tharchin2. htm
(enviado por Cristina Bertulani)