Meditar sobre a compaixão é imaginar seres atormentados por sofrimento cruel e desejar que eles se livrem dele. Como está escrito:
Pense em alguém imensamente atormentado – uma pessoa jogada no calabouço mais profundo esperando pela execução, ou um animal de frente para o açougueiro, prestes a ser abatido. Sinta amor por estes seres como se eles fossem sua própria mãe ou filho.
Imagine um prisioneiro condenado à morte pelo governante e sendo levado para o lugar de execução, ou uma ovelha sendo pega e amarrada pelo açougueiro. Quando pensar sobre um prisioneiro condenado, em vez de pensar naquela pessoa sofredora como uma outra qualquer, imagine que ela é você. Pergunte-se o que você faria nesta situação. E agora? Não há nenhum lugar para fugir. Nenhum lugar para se esconder. Nenhum refúgio e ninguém para protegê-lo. Você não tem meios para escapar. Você não pode voar. Você não tem força, nem um exército para defendê-lo. Agora, neste mesmo momento, todas as percepções desta vida estão prestes a cessar. Você terá que deixar para trás até mesmo este seu próprio corpo querido que você sustentou com tanto cuidado e partir para a próxima vida. Que angústia! Treine sua mente tomando para si o sofrimento daquele prisioneiro condenado.
E quando você pensar numa ovelha sendo levada para o matadouro, não pense nela apenas como uma ovelha. Em vez disso, sinta sinceramente que ela é a sua velha mãe que eles estão prestes a matar e pergunte-se o que você faria em tal situação. O que você vai fazer agora que eles vão matar a sua velha mãe, mesmo que ela não tenha feito nenhum mal? Experimente do fundo do seu coração o tipo de sofrimento pelo qual a sua mãe está passando. Quando seu coração estiver explodindo de desejo de fazer alguma coisa imediatamente para impedir que a sua velha mãe seja abatida logo ali, reflita que, apesar desta criatura não ser na verdade seu pai ou sua mãe nesta vida, é certo que ela tenha sido seus pais em outra vida e carregaram você com grande carinho mesmo assim. Coitados dos seus pobres pais que estão sofrendo tanto! Se pelo menos eles pudessem ficar livres de suas angústias agora mesmo, sem demora – neste exato momento! Com estes pensamentos no seu coração, medite com uma compaixão tão insuportável que seus olhos se enchem d’água.
Quando sua compaixão surgir, pense como todo este sofrimento é o efeito de ações danosas cometidas no passado. Todos estes pobres seres que agora se comprazem em ações danosas inevitavelmente sofrerão também. Com isto em mente, medite com compaixão por todos os seres que estão criando causas para si mesmos por matar ou por outras ações danosas.
Então, considere o sofrimento de todos os seres nascidos nos infernos, entre os pretas e outros reinos de tormento. Identifique- os como se eles fossem seus pais ou você mesmo e medite energicamente na compaixão.
Finalmente, reflita profundamente sobre todos os seres nos três mundos. Onde há espaço, há seres. Onde há seres há ações negativas e o sofrimento resultante delas. Pobres seres envolvidos somente em toda ação negativa e sofrimento! Como seria maravilhoso se cada um dos seres dos seis reinos pudesse se libertar de todas as percepções trazidas pelas ações passadas, todos estes sofrimentos e tendências negativas e alcançassem a felicidade duradoura da perfeita budeidade. (...)
de "Palavras do Meu Professor Perfeito" – Capítulo II – (Arousing the Boddhicitta, the root of the Great Vehicle) Página 201 / 202.
Tradução: Ana Carmen Castelo Branco.
