31 de agosto de 2011

O Caminho do Bodhisattva





Ter, 08 de Julho de 2008 21:53
Palestra proferida na Loja Liberdade em 11 de abril de 2008 por Ani Sherab Wang-mo (monja budista tibetana - Dag Shang Kagyu - Vajrayana)
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Discursar sobre o caminho do Bodhisattva é discursar sobre o que existe de mais nobre. É o caminho que realizam todos os Budas, é o caminho da iluminação, é a essência dos ensinamentos budistas, é a essência do mahayana.
Tem vários níveis de bodhisattva:
Existe o bodhisattva que está aprendendo, que entra no caminho da liberação, da iluminação.
O bodhisattva que está nas terras dos bodhisattvas, nas dimensões da consciência (existem várias dimensões) já é aquele que está engajado na prática espiritual.
E temos uma terceira categoria, que são as emanações dos Budas, ou seja, devido à compaixão da mente universal para o bem dos seres, se manifestam emanações de Buda, são seres que tomam um corpo de compaixão com o propósito de atuar junto com nós no caminho da liberação.
Então, temos três níveis de bodhisattva: aquele que está aprendendo, que está entrando no caminho; aquele que já está no caminho; e aqueles que já são bodhisattvas e retornam para o benefício de todos os seres.
O Bodhisattva é aquele que assume o objetivo mais amplo que possa existir, o objetivo maior que existe é o propósito de liberar todos os seres do sofrimento, é a mente madura espiritualmente e a sensibilidade de ver o sofrimento dos seres que aspira a que todos os seres se libertem deste sofrimento. Esse ó o propósito maior que empreende um Bodhisattva. O meio que ele faz para poder realizar esse propósito também é incomensurável. Ele reconhece que somente o poder da iluminação, o poder da onisciência lhe capacita para poder, dentro das particularidades de cada ser, aplicar com muita habilidade o método necessário para que se libere destas causas e condições que estão produzindo as circunstâncias mais ou menos agravantes, de maior ou menor sofrimento, então essa é a nobreza do Bodhisattva.
Aquele que empreende o caminho da liberação de todos os seres através da iluminação da sua própria mente. É um propósito muito elevado para uma pessoa que ainda não entrou dentro da prática do caminho espiritual, por isso existem vários níveis dentro do despertar do Bodhisattva de cada um. Todo praticante espiritual é um aprendiz de Bodhisattva, ele está no caminho da iluminação.

Então, existem dois níveis:
Um nível que é aspirar - que é quando ouvimos os ensinamentos, quando temos uma experiência interior da verdade última e essa experiência é em si mesma a plenitude, e vimos que os seres sofrem por não ter acesso a essa plenitude e buscam fora o que está dentro. Essa experiência interior que nos dá o caminho espiritual é o que matura o desejo de liberar os seres, porque eles não conseguem se liberar dos sofrimentos devido aos enganos, aos enganos que são buscados fora aquilo que tem dentro, os enganos relacionados com toda a inclusão do "eu", o egocentrismo, buscar a felicidade por si mesmo. Então a compaixão que nasce da visão espiritual ou da experiência espiritual é enorme, porque vemos que todos os seres sofrem absurdamente, então daí surge esse ímpeto ou essa coragem do Bodhisattva de liberar todos os seres, reconhece que o sofrimento em si é ilusório e por isso ele empreende esse grande propósito, que é o despertar da consciência para que possam realizar a verdade última.
Esse é o propósito do Bodhisattva e ele empreende esta senda através da iluminação da sua própria mente. Esse é o caminho que ele realiza para poder iluminar os seres. Somente um Buda, um ser completamente iluminado, uma mente que a consciência se expande até abarcar a completa onisciência, possui todo o poder para liberar os seres em cada circunstância em que se encontram.
Então o caminho do Bodhisattva é despertar a bodhichitta. Bodhichitta é o coração do despertar, é o coração "bondoso". O coração altruísta, então o Bodhisattva é aquele que tem o coração aberto e que sente cada ser e tenta aliviar o sofrimento de cada ser em cada circunstância em que ele se encontra. Isso é a bodhichitta, isso é a mente do despertar. Não existe iluminação sem bodhichitta; a iluminação é interdependente com bodhichitta, com o coração bondoso.
Podemos ser grandes meditadores, grandes filósofos, ter uma compreensão e uma experiência real e profunda da natureza de todos os fenômenos, mas não vamos lograr o que é a onisciência completa. A onisciência completa sucede quando o coração abarca todos os seres.
Por isso o caminho do Bodhisattva é o caminho da iluminação, é o caminho que percorre todos os Budas, é o caminho da completa liberação. É somente através deste coração aberto, desse desejo de fazer com que todos os seres sejam realmente felizes, com que todos os seres estejam absolutamente livres de todo tipo de sofrimento, que ele obtém a iluminação, ou que nós obteremos a iluminação.
Então para realizar este caminho, para este processo da mente do despertar que é uma maturação espiritual, existem dois tipos de bodhichitta:
Existe a bodhichitta última, a bodhichitta última absoluta é aquela que obtemos através da meditação. Na meditação, quando entramos na absorção meditativa, quando transcendemos as fixações relacionadas com a personalidade, tempo, espaço, conceitos, temos uma experiência de união, de dissolução. Esta experiência da vacuidade, ela em si vai acompanhada de compaixão e essa experiência da bodhichitta última quando experimentamos esse coração único, essa mente única, quando perdemos a diferença do que somos e nos unimos com todos os seres; essa é a bodhichitta última que se realiza através da meditação. Agora também temos a bodhichitta relativa, que é o trabalho realizado com a personalidade dentro do mundo relativo, dentro da dualidade que é onde nos encontramos: sujeito e objeto.
Então devemos começar a trabalhar com a visão pura de reconhecer que todos os seres são seres divinos. Que eu sou um ser divino, o outro é um ser divino. E começar a ter uma visão integrada. Para isso, vamos começar um treinamento do coração altruísta, vamos considerar que cada ser que encontramos é a nossa mãe, é o nosso filho único, é o nosso irmão. Vamos tentar manter uma mente equânime frente a todos os seres, assim é como vamos despertar a bodhichitta.
Este é o caminho do bodhisattva, este é o caminho da aprendizagem do bodhisattva, que é a primeira etapa, etapa primeira, relativa e de aspiração. Primeiro vamos aspirar a sermos um bodhisattva e vamos empreender a prática do treinamento que faz maturar a bodhichitta. E depois, entramos na aplicação, primeiro a mente se reforça de aspiração do desejo de realmente ser um bodhisattva para poder ajudar, beneficiar, aliviar o sofrimento dos seres e que toda a nossa atividade seja para servir os seres para que eles experimentem menos sofrimento. Compreendemos que os seres são muitos e nós somos um só. Toda felicidade que buscamos, todos os seres buscamos a felicidade, buscamos a plenitude.
Todo sofrimento e toda infelicidade vem da busca da "felicidade"; aquele que busca a felicidade por cima dos demais está sempre encontrando muitos obstáculos, está em definitivo sofrimento. Quando compreendemos que é fazendo felizes aos demais que obtemos a felicidade, e começamos a nos dar conta que os demais são muitos e que as circunstâncias para serem felizes são todas, este é o caminho do Bodhisattva: fazer felizes aos demais; assim é como somos felizes. Iluminando os demais através da sabedoria da verdade última, é como nos iluminamos. Esse é o caminho do bodhisattva, a iluminação dos seres; essa é a única verdade, a única sabedoria que realmente nos libera do sofrimento.
O Bodhisattva atua tanto a nível relativo circunstancial, dando um prato de comida, ajudando a carregar uma bolsa, servindo, ele está sempre servindo, sempre não focado no "eu", no "que eu necessito", nem no "que eu quero", senão o que é melhor para os demais. Ele não olha o "eu", ele olha a circunstância, e ele é muito sensível ao movimento das circunstâncias para saber aonde ele se situa, que vai gerar maior benefício para todos.
Quando ele se relaciona, nunca pensa "o que é melhor para mim", o que é melhor para que o outro esteja melhor, porque reconhece se o outro está bem, ele também vai estar bem, e tudo que possa gerar de bem estar é aquilo que ele vai experimentar de bem estar, isso a nível relativo.
A nível mais profundo, o bodhisattva está continuamente empreendendo atividade de dar sabedoria, de situar-se na visão da verdade, que é a interdependência, que é o estado de integração, e transmitir esta visão ali, onde ele está. Ele transmite isto através do seu movimento corporal, da modulação da sua voz, através de não utilizar a palavra de uma forma equivocada, sempre articular a palavra com sabedoria para que gere na pessoa, na circunstância, a sabedoria; transmitir, de coração a coração, a verdade última de todos os fenômenos, ou seja: a gente não pode tirar o sofrimento do outro, mas a gente pode dar as ferramentas para que o outro se libere do sofrimento. E todo esse processo sucede de uma forma muito subliminal. Não é com conceitos, é com realização, é com experiência.
Então, o Bodhisattva está sempre com a mente situada na verdade, esta mente expandida e unida. Ele é um canal, um suporte perfeito, para o bem de todos; então a sua mente sempre está expandida e unida à sabedoria universal, seu coração está sempre aberto expressando amor e compaixão. Dessa forma, toda a sua atividade é para o bem dos seres. Isto é um Bodhisattva.
Dentro deste caminho, começamos primeiro aprendendo a ser um Bodhisattva.
Como aprendemos a ser um Bodhisattva? Primeiro passo é ser boas pessoas, é a prática de ter uma mente pura, uma mente positiva com mim mesmo e com os demais. Não ver defeitos, reconhecer as qualidades, não criticar o que não compreender, como gerar uma mente, uma saúde integral e virtuosa, sempre muito positiva. Esse é o primeiro passo do caminho, da entrada do senda, da prática do Bodhisattva e isto é o despertar da bodhichitta, manter a mente num estado de equanimidade.
Depois existe o caminho da aplicação, já é quando nos engajamos numa prática espiritual, num processo de purificação, de despertar das qualidades da mente única. Então existem muitos caminhos e de acordo com a afinidade de cada um, nós vamos nos engajar num sistema gradual que nos vai levar a um despertar das nossas qualidades e nos purificar das nossas impurezas.
Então já começa o caminho da aplicação, então aí já trabalhamos com a bodhichitta de aplicação, não a bodhichitta de aspiração.
Dentro do budismo, o caminho da aplicação, basicamente se fala das seis paramitas, das seis perfeições que são: a generosidade, uma mente que dá, que dá continuamente; a ética, boa pessoa, transparente ( chacoalha a alma e só sai luz ), todos os pensamentos e propósitos é virtude; uma pessoa que mantém a mente num estado energético superior, sempre bem disposto a servir; diligência, entusiasmo; a paciência - muita paciência, infinita paciência, a paciência do Bodhisattva é a grande perfeição, é incomensurável; a atenção e concentração, uma mente sempre presente, atenta e concentrada, para não estar distraída para que as emoções perturbadoras não dominem a sua mente, para que esteja sempre esteja neste estado virtuoso e gerando o bem para os seres. A mente deve estar atenta e concentrada. E a sexta, sabedoria, a sexta paramita, perfeição, é a sabedoria transcendental, a mente sempre com o olho da sabedoria que reconhece que tudo é vacuidade, que tudo isso não é mais que um sonho, que tudo isso é movimento de energia, interdependência, que não existe um eu separado do conjunto, tal qual experimentamos dentro da ignorância. À medida que purificamos a nossa visão e despertamos a qualidade da nossa natureza, a visão se abre e reconhecemos que estamos integrados em uma mente única, uma única consciência e que o ego, e o outro, a personalidade não é mais que um instrumento para que possamos reconhecer essa natureza última a qual todos pertencemos e na qual todos estamos unidos. Isto se chama onisciência, a consciência particular é o reflexo da onisciência e é através do relativo que chegamos ao absoluto. É através da investigação do que é a nossa consciência, no sentido de lucidez, no sentido de claridade que reconhecemos a onisciência. Então isto é a sabedoria, isto é o olho das perfeições.
São seis as práticas do bodhisattva, são as seis perfeições. As cinco primeiras são cegas, a sexta é o olho da sabedoria, é a sabedoria que reconhece a vacuidade, que reconhece a vacuidade de existência separada do conjunto. Não a vacuidade como vácuo, senão que não existe nada por si mesmo. Tudo é interdependente: uma coisa depende da outra, depende da outra, depende da outra... Não existe nada de realidade por si mesma. Então a existência é como se fosse um complexo muito estruturado de causas e condições, que se interdependem, dando fatores coemergentes, em contínuo movimento e transformação. As montanhas, os universos, os corpos e os seres. Não existe um instante que esteja parada a existência e não existe um átomo de solidez. Tudo é um contínuo movimento de energia, isto é o olho da sabedoria. Esta é a visão profunda na qual a mente do Bodhisattva descansa enquanto pratica as cinco perfeições: generosidade, ética, diligência, paciência, concentração-atenção. Este é o conjunto geral da prática dos filhos do vitorioso, da prática dos Bodhisattvas.
Agora eu quero ler para vocês (...) um texto precioso.
Os esforços do Buda Shakiamuni, os ensinamentos do Buda Shakiamuni, que é o Buda histórico, o que ele proferiu com a palavra, são chamados de sutras, são os esforços que ele deu em vida. Logo temos os shastras, que são os comentários, os tratados filosóficos feitos ao longo dos séculos por grandes sábios eruditos e seres realizados para facilitar nossa compreensão do "Buda Dharma". Dharma é a lei, é a palavra, é a via, é o caminho. São os ensinamentos. Quando falamos "Buda Dharma", são os ensinamentos do Buda Shakiamuni, o Dharma. Então, os shastras são estas explicações, elaborações feitas em cima dos ensinamentos do Buda Shakiamuni.
Shantideva escreveu "O caminho dos filhos do vitorioso", que é o Bodhisharya Avatara, ou seja, o caminho dos Bodhisattvas. É um texto precioso, de muita sensibilidade, é um texto poético e eu vou ler algumas partes do texto que vai deixar mais claro o que eu estou expressando.
Falando sobre a bodhichitta, Shantideva diz:
A bodhichitta é dupla, ela é em suma, o voto da iluminação e o partir para a iluminação. A bodhichitta é o coração do despertar. É o coração bondoso, é o coração altruísta, é a interdependência com a iluminação. Não existe iluminação sem bodhichitta, sem coração aberto, sem influir na nossa experiência da visão profunda a todos os seres.
A bodhichitta é dupla, ela é o voto da iluminação e o partir para a iluminação. Ela tem entre si, segundo os sábios, a mesma diferença que há entre querer fazer uma viagem e se colocar a caminho.
Shantideva diz: "possa eu ser para os doentes o remédio, o médico e o enfermeiro, até a doença se extinguir completamente. Possa eu, em recuadas de alimento e bebidas, atenuar o suplício da fome e da sede. E nos períodos de grande penúria, serei eu próprio a comida saciante e a bebida para todos. Possa eu ser para os pobres um tesouro inesgotável, resposta sempre pronta para tudo o que lhes falte. Que todos os meus corpos, posses e bens, todo meu mérito do passado ou do presente e do futuro, tudo abandono sem hesitar para que o benefício de todos os seres seja atendido. Possa eu ser o protetor dos abandonados, o guia dos que caminham e para os que aspiram à outra margem, ser a caravela, a barca ou a ponte, a ilha para os que buscam uma ilha, a lâmpada para os precisam de lâmpada, o leito de quem queira um leito, o escravo de quem queira um escravo, ser a pedra do milagre, a jarra do tesouro inesgotável, a fórmula mágica, a planta que cura, a árvore dos desejos. Isto é bodhichitta!" Assim expressa Shantideva. A sua aspiração para o bem de todos os seres, isto é um Bodhisattva.
Então, algumas referências. Querer levar a todos os seres ao estado perfeito de um Buda, isto é o propósito de um bodhisattva, para isto ele se propõe a receber os ensinamentos dos mestres qualificados para poder atingir esta mente completamente iluminada, para poder servir perfeitamente os seres. Ele recebe ensinamentos, ele reflete sobre os ensinamentos e depois ele medita e põe em prática os ensinamentos. Estas são as sabedorias que devemos aprender a exercitar na nossa aprendizagem a bodhisattva: ouvir, refletir, meditar e levar a prática.
Existem três defeitos que os ensinamentos explicam e, é bom sempre dizer no começo, para que as pessoas evitem estes erros e possam aproveitar os ensinamentos, sejam budistas ou de outras tradições.
Devemos evitar manter a nossa mente como se fosse um copo com a boca para baixo, que significa uma mente distraída, uma mente que não está presente. Então os ensinamentos são transmitidos, mas eles escorregam por cima.
Devemos evitar o pote furado. O pote furado é aquele que recebe os ensinamentos, a pessoa está presente, mas depois não reflete em cima dos ensinamentos. Então o que foi recebido se escapa, como se o pote estivesse furado. Por isto é importante os ensinamentos: a gente ouvir com a atenção, mas não a atenção que busca reter, senão com a atenção da sensibilidade, da receptividade e ao mesmo tempo, a reflexão posterior que gera esta sensibilidade de absorver os ensinamentos dentro do coração, não desde a razão.
O próximo defeito é o pote sujo. É a mente que está completamente julgando, criticando à medida que recebe os ensinamentos. Então ela está misturando com a sua visão parcial da realidade.
Quando ouvimos um ensinamento, devemos sempre ouvir o ensinamento com o coração, de uma forma receptiva, depois refletir, depois entrar com a análise. Mas no momento do ensinamento, não é o momento de manter uma atitude crítica, de estar avaliando o que já ouvimos de outras tradições. É o momento - qualquer ensinamento - isto a tradição expressa dessa forma: a atitude de receber. Devemos considerar o ensinamento sempre como um remédio, devemos considerar que a prática do Dharma, ou a prática do ensinamento, é como tomar remédio, o mal é a ignorância, isso é o que devemos curar. E o remédio é a sabedoria. Esta é uma das visões que se expressa na tradição que eu gostaria de transmitir a vocês.
Agora, voltando ao caminho do bodhisattva, ao caminho dos filhos do vitorioso. Porque chamamos "vitorioso"? Porque é o vencedor das emoções, é aquele que conseguiu eliminar da sua mente todos os demônios, que são as emoções conflitivas. Ele é o vitorioso porque ele venceu a tendência egocêntrica tão fortemente arraigada na nossa natureza, por isso é chamado vitorioso. Vitoriosos são todos os Budas, não somente o Buda Sakayamuni, que é o Buda histórico, mas todos os budas que venceram as emoções perturbadoras e atingiram este estado de união com a mente absoluta, este é o caminho que estamos seguindo.
É um caminho considerado como um caminho real, caminho verdadeiro e é o caminho que surge da prática do amor e da compaixão; entrar nesse caminho implica a entrega do "eu" ao serviço dos demais, e o propósito de realizar a verdade última por de cima de todas as coisas.
O caminho próprio dos Bodhisattvas, daqueles que cultivam a bodhichitta, que cultivam o espírito do despertar, despertar da ignorância fundamental que caracteriza o ser humano, a todos aqueles que tomamos como real, o que não é real. Despertar do sonho mortal no qual se experimenta o egoísmo e a cobiça, a frustração e o engano, a crueldade e a injustiça, que afunda o mundo nosso de cada dia. O caminho do bodhisattva se caracteriza pela ausência de egoísmo, pelo empenho de ir mais além do amor: do amor próprio, do amor egocêntrico e das preocupações e ansiedade que eles geram. Significa despertar gradualmente, e de um modo decidido, o desejo de satisfazer, de fazer felizes a todos os seres, é o caminho da liberação.
Não há caminho mais fácil, se não fosse pelo hábito egoísta que temos adquirido: a imensa preocupação pelo "eu".
Essa atitude altruísta constitui a base, o coração, de todos os ensinamentos do Buda Dharma, o chamado Grande Caminho, porque sua ênfase está no bem estar e na felicidade de todos os seres, na solidariedade universal. Não é o caminho de um, o caminho de um se pode percorrer até chegar aqui, onde ele se faz grande, e se entrega aos demais.
Normalmente, quando nos engajamos na prática espiritual, buscamos a liberação pessoal, buscamos a liberação das aflições que no levam a esse encontro com o ser interior. A experiência em si da natureza última ou absoluta, ela nos vai levar ao Grande Caminho. Então, sempre começamos no pequeno caminho, no caminho estreito da liberação pessoal, e ela nos vai levar numa dimensão que é reconhecida como "ser nobre", a gente vai purificar a nossa mente, e nessa purificação, se despertam as qualidades da nossa natureza que nos levam a entrada no caminho grande, que é o caminho do amor e da compaixão. É quando abrimos os olhos e vemos que não só nós sofremos, senão que o sofrimento que experimentamos, também é experimentado por todos os seres. Então aí empreendemos o caminho grande, então o ser nobre matura o bodhisattva, que empreende o caminho da iluminação para o bem de todos. É assim como nos engajamos no caminho da iluminação.
Shantideva diz:
"O nascimento deste particular nobre espírito é maravilhoso e sem precedentes. Como valorar o nascimento deste precioso espírito, que troca o sofrimento em felicidade para todos? É um caminho interior. Devemos sentir realmente o desejo de que todos os seres atinjam a iluminação nesta mesma vida. É o caminho percorrido, que percorrem todos os filhos do vitorioso, que levam a sabedoria do reconhecimento da natureza última do espírito, vacuidade, luminosidade, a natureza que não nasce nem morre, que vê que todos os fenômenos são ilusórios, sejam eles objetos mentais ou materiais, vendo que tudo surge por causas e condições múltiplas, vendo que são parecidos a uma ilusão mágica, tal como descobrir que a serpente que encontramos na porta de casa não é mais que uma corda. Ao descobrir a ilusoriedade do "eu", nós nos liberamos de todo o peso, a experiência do "não eu", de modo que ao dar felicidade e benefício aos demais, não só não experimentamos que perdemos algo, senão que participamos das felicidades daqueles que tudo dá. A maior benção é dar. O segredo da felicidade é dar.
Devemos entender com muita clareza este aspecto de que realmente é a grande experiência da felicidade é a felicidade dos demais. Sentir regozijo quando as coisas vão bem para os demais, quando prosperam, quando recebem elogios, em vez de sentir inveja, é o grande mérito, a grande felicidade é quando nos alegramos com a felicidade dos demais. E os demais são muitos, então podemos estar sempre em uma contínua experiência de felicidade, de êxtase. Este é o caminho da liberação, gerando felicidade e experimentando a felicidade de todos, então nosso caminho se transforma incomensurável e a iluminação cada vez se acrescenta na nossa mente com a prática da virtude, com a prática da felicidade, vamos iluminando. Fica muito fácil a senda, muito fácil estabilizar a mente na consciência universal e ir iluminando, iluminando.
Agora, vou transmitir para vocês um texto precioso, que é Thogme Zangpo, do século XIII, da linhagem Sakyapa. Thogme Zangpo foi um grande estudioso de Atisha. Atisha é conhecido como uma manifestação do Buda Shakiamuni mesmo. No budismo tibetano, de concreto, existe o Buda histórico, mas existem manifestações da mente búdica, seres muito realizados, onde suas consciências se expandiram e, num estado de perfeita união, eles receberam uma transmissão por compaixão para o bem dos seres. Temos no século VI Nagajuna, com todos os tratados filosóficos do caminho médio, que é um texto de um brilho espetacular, ele é reconhecido dentro do budismo tibetano como um segundo Buda, como uma emanação do Buda Shakiamuni encarnada. Temos também Atisha, século XI, que foi quem transmitiu todos os ensinamentos da bodhichita, o caminho do bodhisattva, ele também é reconhecido como uma manifestação do Buda, como uma emanação direta de Buda.
Thogme Zangpo foi um grande estudante do mestre Atisha, ele reuniu de forma também muito poética, que nós vamos ver, mas muito clara, todo o trabalho feito por Shantideva e por Atisha, que são as trinta e sete práticas do caminho do bodhisattva.
Então, agora nós vamos comentá-las.
Este texto é um texto muito bom para a gente ter e de vez em quando ler. Não precisa ler uma vez por semana, mas de vez em quando, quando temos um dia com aspiração, pois ler estas trinta e sete práticas nos vai arrefrescar e dar uma orientação, do propósito da nossa prática espiritual.
O texto começa com uma homenagem:
"Ininterruptamente, em ardorosa homenagem de corpo, fala e mente, inclino-me diante dos mestres supremos e do protetor Avalokiteshvara..."
Avalokiteshvara é também chamado o Buda da Compaixão, ou o Bodhisattva Mahasattva Avalokiteshvara. Ao que nos referimos: que ele foi um ser humano, um ser humano como somos nós e ele empreendeu o caminho da aprendizagem, o caminho das terras, e ele fez o propósito que, enquanto existissem seres sofrendo, ele não se dissolveria no paraíso puro dos budas.
Existem de uma forma geral, dentro da cosmologia, três níveis de manifestação da consciência:
Uma consciência pura, completamente unificada, onisciência. Esta onisciência se manifesta como consciência pura, sem forma, não tem forma nenhuma. A consciência se manifesta neste nível como intuição, como insight, é compreensão "hologrâmica", vou dizer de alguma forma. A consciência se expande, mas a gente não ouve e não vê, mas tem um insight profundo de intuição. Esta é a esfera dos budas. Aí a alma tem que estar pura, se a alma não está pura, a gente não consegue expandi-la até esta dimensão.
Logo temos a dimensão da forma, que é onde estão os bodhisattvas, onde estão todos os seres, os mestres ascendidos, todos os seres que se ataram com o compromisso para o bem dos seres. E esta dimensão é próxima a nós. A nossa consciência facilmente... Podemos não ser puros, mas ter uma mente virtuosa, e na nossa prática meditativa, expandir a nossa consciência e ter acesso à sabedoria. Eles são como uma ponte para os paraísos puros. Um estado intermediário, digamos. Então, o Mahasattva, Bodhisattva Mahabodhisattva Avalokiteshvara falou que não iria se dissolver na mente única enquanto tivesse sofrimento, e por isso ele é chamado o Buda da Compaixão, e é chamado da manifestação da compaixão de todos os Budas. Ele tem uma existência neste plano superior, como se fosse o astral superior, que é chamado no budismo Shambhogakaya. Ele não se dissolveu no Dharmakaya. Então se rende uma homenagem a este grande bodhisattva que mantém sua atividade até hoje para o bem dos seres, nesses planos superiores. Ele também manifesta emanações em seres com corpo de compaixão, porque o poder destas esferas de astral superior é que eles podem por compaixão manifestar emanações. Então o Dalai Lama é uma emanação do Bodhisattva Mahasattva Avalokiteshvara, o Buda da Compaixão. Então temos, não só ele, mas temos vários seres encarnados que são uma manifestação.
Esta é a linguagem do budismo tibetano. Mas são conceitos, mas a sabedoria não tem conceitos. Então temos distintos nomes, em outras tradições, para expressar a mesma manifestação.
Existem distintos seres, e eu conheço os que são da tradição que eu pratico: Dalai Lama, Santidade Karmapa e grandes Rimponches. Mas, em outras tradições, também temos emanações da compaixão dos grandes bodhisattvas. Cristo também é outro grande bodhisattva, que mantém um compromisso do bem com os seres e que não se dissolveu no Darmakaya, como Avalokiteshvara.
"Os budas perfeitos, fonte de todo o bem e toda a felicidade, surgem da realização do Dharma sagrado. Como isto vem do conhecimento do seu exercício, passo a explicar as práticas de um bodhisattva."
Assim é como introduz o texto Thogme Zangpo. É uma série de estrofes.
[1] Tendo obtido o livre e bem favorecido nascimento humano,
Tão difícil de vir e tão poderoso,
Perseverando firmemente, noite e dia,
Para liberar a si e aos outros do oceano do samsara -
Ouvir, contemplar e meditar
É a prática de um bodhisattva.
Aqui temos algumas palavras do Shantideva dando referência a esse espírito do despertar, a essa natureza preciosa da existência humana.
Shantideva diz: "Assim como numa noite, em que as nuvens adensam ainda mais as trevas, o relâmpago pode, às vezes, brilhar. Também, às vezes, pelo poder dos Budas, o pensamento dos homens posa por um breve instante, sobre o "bem". Assim o bem é sempre frágil e o poder do mal tão forte e terrível, se não fosse a bodhichita, que outro bem o poderia vencer?
Com as mãos juntas, suplico aos Budas de todo o universo, acendei a lâmpada do Dharma, para todos aqueles que estão perdidos, e que caem no abismo da dor. Com as mãos juntas imploro aos Budas, desejosos de se extinguir, ficai ainda entre nós por ciclos sem fim para que o mundo não fique mergulhado na cegueira. Tendo realizado tudo isso, e pela virtude do mérito que assim adquiri, possa eu ser, para todos, aquele que é apaziguador, possa eu ser, para os doentes, o remédio, o médico e o enfermeiro, até a extinção da doença ( algumas referências de Shantideva ).
Seguimos com Thogme Zangpo, a prática do bodhisattva:
[2] Diante dos amigos, apego como água turbulenta;
Diante dos inimigos, ódio como o fogo raivoso;
Obscurecidos pela ignorância, esquecemos o que deve
E o que não deve ser feito -
Deixar para trás a terra natal
É a prática de um bodhisattva.
Aqui não significa que devemos sair de onde estamos. Devemos renunciar as tendências habituais, relacionadas com as circunstâncias que vivemos. Então, sair do país natal é renunciar aos modos, aos padrões repetitivos da circunstância do nosso entorno. A isso se refere, ou seja, liberarmos do que os amigos nos provocam de apego, o que os inimigos nos provocam de rejeição e tentar manter uma mente equânime e livre.
Então, devemos transformar as nossas atitudes frente às circunstâncias que estamos vivendo, isso realmente significa que nossa vida muda, passamos a ser outra pessoa, se gera outra personalidade; transferimos a nossa identidade do relativo, do condicionado a uma personalidade ou a uma identidade que não é uma personalidade mais expandida, mas relacionada com o absoluto. Isso transforma completamente as nossas relações e as nossas circunstâncias, isso significa deixar para trás a terra natal, deixar para trás o apego que temos à nossa identidade e às nossas condições nos nossos relacionamentos. Essa é a prática do Bodhisattva.
[3] Quando as más circunstâncias são deixadas para trás,
As emoções e crenças obscuras diminuem gradualmente.
Sem distrações, a persistência diante da virtude aumenta naturalmente.
À medida que a consciência se esclarece, surge a certeza no Dharma -
Passar o tempo em solidão
É a prática de um bodhisattva.
Isso não significa que vamos estar em solidão, significa que no nosso silêncio é como encontramos a todos os seres, significa manter a mente nessa atitude de silêncio interior, de paz interior. É na calma mental que abre a visão profunda, e a visão profunda é a experiência da solidariedade universal.
Então, quando Thogme Zangpo fala de passar o tempo em solidão, significa manter a mente num estado de calma. Quando necessitamos de atividade mental, que temos que organizar, utilizamos a mente para o propósito o qual ela serve e, quando não, a mente se mantém num estado de calma, num estado de silêncio, que ele chama aqui, passar o tempo em solidão, não estar distraída, não estar vagabundeando de um lado para outro, senão descansando na paz e experimentando a presença de todos os seres unidos a nossa experiência. Isso significa passar o tempo em solidão.
Da prática do Bodhisattva:
[4] Durante a morte, a consciência visitante deixa o corpo para trás,
Como um hóspede deixando uma pensão,
Deixando para trás as pessoas amadas com quem ficamos por muito tempo,
Deixando para trás a riqueza ganha através do esforço.
Assim, abandonar as preocupações desta vida
É a prática de um bodhisattva.
Ele vive sem apegos, ele vive com o propósito de gerar bem estar para os demais, ele não dá importância para circunstâncias relativas da vida ordinárias, trabalho, acúmulo de fortuna. Ele não dedica a sua energia, o seu tempo, com um propósito efêmero das realidades circunstanciais dessa nossa existência relativa, curta, transitória e impermanente.
Ele dedica toda a sua atividade para o propósito nobre que é o despertar da consciência, para o benefício de todos os outros. Isso é o que ele quer dizer nesta estrofe.
[5] As pessoas com quem você está,
Que aumentam os três venenos,
Que enfraquecem as práticas do ouvir, contemplar e meditar,
Que minam a bondade amorosa e a compaixão -
Abandonar as más amizades
É a prática de um bodhisattva.
Devemos ter em conta que as pessoas que nos estão induzindo continuamente a um pensamento negativo não são convenientes, elas estão reforçando a nossa ignorância. Devemos manter uma higiene o mais absoluta possível em tudo: o que ouvimos, o que vemos, o que lemos; não somente com as pessoas que nos relacionamos mas, a nível geral, que tudo que lemos seja sabedoria, seja despertar, que tudo que ouvimos seja sabedoria, que tudo que vemos seja sabedoria, que tudo que seja a nossa atividade seja com o propósito de despertar. E as nossas relações devem ser com amigos espirituais, que estejam acrescentando às nossas virtudes, não as delibitando, não reforçando os padrões ou as tendências que temos, já tão arraigadas, para o mal ou para a ignorância.
Então, como não estamos iluminados, não temos o poder de transformar a mente de algumas pessoas, então quando vemos que alguns amigos não estão receptivos a essa visão de sabedoria, devemos abandoná-los, não são convenientes para a nossa prática, porque não são seres realizados. Então, devemos aproximar-nos daqueles que fazem crescer as nossas virtudes, não daqueles que debilitam as nossas virtudes.
Essa é a prática do Bodhisattva.
Enquanto não sejamos Budas perfeitos, não temos o poder para resolver os problemas, os grandes problemas. Então, às pessoas que são muito rígidas ou que estão com a mente muito manchada, que não estão receptivas à sabedoria, não devemos insistir. Devemos deixá-las tranqüilas, emanando a nossa luz, na nossa meditação, mas não deixar-nos manchar por esta tendência a escurecer a nossa mente.
[6] Aqueles de quem você depende, que colocam fim aos vícios,
Que fazem aumentar as boas qualidades, como a lua crescente -
Manter estes amigos espirituais
Como sendo mais preciosos
Do que o seu próprio corpo
É a prática de um bodhisattva.
É justamente isso: devemos manter o compromisso interior de sempre estar com amigos espirituais. Às vezes, são pessoas que nem se quer estão engajadas dentro de uma doutrina, mas que tem um coração puro, que tem um coração bondoso naturalmente. São seres que tem uma natureza espiritual, mesmo sem estar aplicando a uma prática. Devemos estar sempre rodeado destes seres, dos bons amigos, dos amigos espirituais.
[7] A quem os deuses mundanos podem ajudar
Se eles mesmos estão confinados na prisão do samsara?
Assim, quando você procurar ajuda,
Tomar o refúgio genuíno nas Três Jóias
É a prática de um bodhisattva.
Os deuses mundanos são os seres construídos pelos seres humanos para a gente pedir para eles proteção, que nos façam coisas, que nos ajudem. O poder deles é muito limitado, porque eles também estão dentro da construção da existência física. O único poder capaz de dissipar e de resolver todas as nossas aflições é a nossa conexão com o infinito, com a sabedoria universal que, no caso, a gente chama de Buda, a mente completamente iluminada e completamente purificada. Então, não devemos buscar refúgio nos deuses mundanos, em tradições inferiores, que nos estão dando um alívio circunstancial e momentâneo ao nosso problema, porque, em si, estamos nos auto-enganando; em si, não estamos resolvendo realmente a raiz do problema. Então, devemos aprender a descansar no ser interior, a expandir a nossa consciência e a unir-nos na sabedoria universal. É a luz da sabedoria que tem o poder de eliminar a escuridão. É aí onde vamos absorver todos os problemas, todas as aflições. É aonde vem a intuição, a voz do mestre, a voz do coração. É onde receberemos a orientação. Não buscar refúgio no que é circunstancial, transitório.
É o que quer dizer as três jóias. É o Buda, a mente única. Se nós temos a capacidade que a mente está muito aflita, às vezes com os problemas e não temos nesse momento a capacidade de expandir a consciência, temos o recurso da prática espiritual, do Dharma, que são os exercícios, os ensinamentos que nos vão dar a visão da verdade, a luz da sabedoria para iluminar nossos problemas. Se não temos também nesse momento a concentração suficiente, porque a aflição às vezes, a perda de um ser querido, por exemplo, ou um fracasso econômico, que às vezes desestabiliza muito a nossa mente. A terceira jóia são os companheiros do bem, os amigos, aqueles que estão engajados na prática. Também é um objeto de refúgio valioso. Mas nunca os deuses mundanos, que são os deuses criados pelos homens, para pedir coisas para eles. Sempre o refúgio deve ser a sabedoria universal, a sabedoria transcendental, através da nossa mente expandida, através do Dharma, ou através dos companheiros engajados na prática do bodhisattva.
[8] O Buddha disse,
"O resultado das ações negativas
É o sofrimento dos reinos inferiores, tão difícil de suportar."
Portanto, não cometer atos ruins
Mesmo ao custo da própria vida
É a prática de um bodhisattva.
É o reconhecimento da lei da causalidade. Enquanto existe um "eu", o "eu" vai existir até a sétima terra do Bodhisattva, ele vai ficando cada vez mais sutil. Enquanto existir essa presença de um "eu" separado do conjunto, estamos dentro da existência. A existência está configurada por causas e resultados. Estamos produzindo carma, estamos realizando atividade. O "eu" é quem realiza o carma, a atividade do "eu" é a lei de causa e resultado, que é o carma. Então temos causas boas, que dão resultados de felicidade, o bom carma. Causas negativas que dão como resultado sofrimento, o mau carma. Temos bom carma e mal carma; todo carma, toda atividade realizada pelo "eu".
Quando a atividade é realizada pela sabedoria universal, quando a nossa mente se estabiliza no estado de união e o nosso precioso corpo se transforma num suporte para o bem dos seres, emanando bodhichitta, então já não produzimos carma, somos Dharma.
Somos a atividade da lei universal para o bem de todos; esse é o nosso propósito: que a nossa atividade seja Dharma e não seja carma.
Quando é o "eu" que faz as coisas, é carma, então como estamos engajados na ilusão do "eu", estamos produzindo carma. Devemos cultivar as causas de felicidade e evitar as causas de sofrimento, desenvolvendo a sabedoria do discernimento, através da atenção e da concentração. Estar presente, não com a mente distraída, e ser boas pessoas, praticar o bem. Isso quer dizer esta estrofe. Não gerar atos negativos, que vão produzir sofrimentos e aflições. E assim, vamos purificando a nossa mente, e vamos criando mérito, e vamos gerando bons resultados.
O mérito é fundamental no budismo tibetano. Quando a gente produz boas atividades, quando a gente pensa no bem dos seres e atua para o bem dos seres, acumulamos muitos méritos. O mérito tem a qualidade de uma proteção, a gente fica protegida pelo Buda, pelos seres santos. E o que significa essa proteção do mérito? Significa que temos sorte, que as coisas fluem bem. Então, a prática das ações positivas, não somente dão bons resultados como conseqüência da lei de causalidade, senão a que ademais acumulamos muito mérito, que é proteção espiritual, então o caminho vai fluindo fantasticamente bem, para a iluminação de todos os seres. Vamos iluminando, iluminando, e a cada vez a nossa áurea se expande mais e o benefício é cada vez maior.
[9] A felicidade dos três mundos
É como o orvalho sobre uma folha de grama,
Que desaparece em um instante.
Esforçar-se pelo estado supremo -
A liberação que nunca muda -
É a prática de um bodhisattva.
Significa que tudo que é felicidade no mundo é exígua, passageira, circunstancial, que devemos aplicar a felicidade que não morre, felicidade que não nasce, a felicidade que é a nossa natureza. Esta é a prática do Bodhisattva, descansar a mente no estado de completa união, inesgotável, livre de nascimento, livre de morte. Residir num ser eterno.
[10] De que adianta a felicidade pessoal
Se cada mãe, que foi tão afetuosa com você
Desde um tempo sem início, está sofrendo?
Assim, para liberar um infinito número de seres sencientes,
Gerar a mente da iluminação
É a prática de um bodhisattva.
Este reconhecimento que, apesar de que você tenha uma experiência de união, ou de verdade absoluta, num estado de expansão, como você pode descansar nesta paz, neste paraíso, vendo que todos os seres, nossas queridas mães, estão sofrendo? Então, este é o caminho do Bodhisattva, ele não fica em retiro, num estado de união, senão que empreende atividade para o bem dos seres, é o que tem a dizer isso.
[11] Sem exceção, todo sofrimento vem
De querer felicidade apenas para si mesmo;
Os buddhas perfeitos são nascidos da aspiração de beneficiar os outros.
Assim, trocar verdadeiramente a própria felicidade
Pelo sofrimento dos outros
É a prática de um bodhisattva.
Um bodhisattva é como uma bomba. Ele está continuamente com a mente conectada no universal e absorvendo o sofrimento, dando felicidade. Então, devemos manter esta oração contínua através da nossa respiração, absorvendo o sofrimento e expulsando virtude, paz, harmonia. Não é uma atividade do "eu", é uma atividade de sabedoria do ser interior, da mente única, do bodhisattva. Então, essa mente que está sempre unida a essa infinita nuvem de néctar de sabedoria, que está preenchendo a nossa natureza e manifestando-se através do amor e da compaixão, da paz e da harmonia, e ao mesmo tempo, absorvendo, trocando o sofrimento por felicidade. Assim deve ser a nossa forma de existir, uma oração contínua através de "inspirar-expirar".
[12] Mesmo se alguém de grande cobiça
Roubar toda a sua riqueza, ou se alguém a roubou,
Dedicar ao ladrão o seu corpo,
Suas alegrias e seu mérito -
Passados, presentes e futuros -
É a prática de um bodhisattva.
Um bodhisattva nunca sente que perde nada, porque ele já tem tudo, ele está residindo na sabedoria primordial. Então, se alguém rouba algo de um bodhisattva, ele vai dar bons desejos, pelo menos que seja de utilidade. Ele vai absorver esse mau carma sobre ele e gerar para o ladrão uma mente clara, que ele não vai acumular um carma mais negativo, um propósito, mais problema para esse ser que já está criando muitos problemas. Essa deve ser a nossa atitude. Não maldizer o ladrão, senão trabalhar, senão trabalhar com amor e compaixão; se algo perdemos, no sentido de que não experimentemos que perdemos, senão um dar com alegria. Essa deve ser a nossa atitude.
[13] Mesmo se alguém cortar fora sua cabeça,
Sem você nada ter feito errado,
Tomar as negatividades daquela pessoa
Através do poder da compaixão
É a prática de um bodhisattva.
Aí temos o exemplo do Cristo, quando profere "perdoai os meus irmão, porque eles não sabem o que fazem". Essa é a atitude do Bodhisattva. Então, quando alguém nos machuca equivocadamente, devemos suplicar o perdão, porque este ser não é consciente do carma, das causas que ele está acumulando e que darão como conseqüência o sofrimento que ele experimentará. Então: sempre a mente residindo no amor e na compaixão. Esta é a prática do Bodhisattva.
[14] Mesmo se alguém difamá-lo
Pela extensão de um bilhão de universos,
Falar das boas qualidades daquela pessoa
Com uma mente cuidadosa
É a prática de um bodhisattva.
Nunca falar mal dos demais e, sobretudo, daqueles que falam mal de nós. Esses são os que realmente necessitam de uma atenção muito especial de nossa parte. Devemos realmente buscar as qualidades e reforçá-las, porque se este ser está falando mal de nós, é porque o estado inferior dele é de muito sofrimento. Então merece uma atenção especial da nossa parte..
Então, devemos ser muito cuidadosos em realmente buscar as suas qualidades e expandi-las nas dez direções, para que assim, esse mal interior que faz com que critique, às vezes erroneamente, e nos difame, seja curado. Essa é a prática do Bodhisattva.
[15] Mesmo se alguém insultá-lo no meio de uma multidão,
Apontando suas falhas escondidas -
Reverenciá-lo respeitosamente,
Vendo aquela pessoa como um amigo espiritual,
É a prática de um bodhisattva.
A prática da humildade, a prática de sempre dar a razão para o outro, não merece apenas, nem se quer a guerra pela paz. Não merece apenas a discussão. Então, se realmente alguém está te difamando na frente de uma multidão, está te apontando algum defeito seu que, às vezes, até é verdade, algum erro, e está expondo na frente de todos: juntar as mãos e agradecer. Aí estamos realmente fazendo a prática do dhisattva, a prática da humildade. É o que tem a dizer este verso.
O Bodhisattva não tem nada a perder, porque ele está trabalhando o "não-eu", ele está trabalhando a verdade absoluta. Então não tem um "eu" que se sinta ferido.
Em todo caso, esse ser que está humilhando ele é um grande mestre, porque está colocando à prova a sua sabedoria, está colocando à prova, ao Bodhisattva, descansando na sua verdade e reconhecendo o grande mestre que está nesse momento ensinado a ele a estar estável, a estar reconhecendo esta verdade na frente de todos e a ser humilde. Então ele não sente a humilhação, ele se sente humilde. Essa é a prática do Bodhisattva.
[16] Mesmo se alguém que você cuidou
Como se fosse o seu próprio filho
Considerá-lo como um inimigo -
Ser especialmente afetivo diante dele,
Como uma mãe cujo filho está doente,
É a prática de um bodhisattva.
Acontece muitas vezes, quando os seres que a gente tratou como se fosse nosso irmão, a gente cuidou, a gente facilitou e, por causa de condições, ele se irrita com essa atitude. Quando se fortalece, nos golpea por de trás, nos machuca, é muito comum, nos atraiçoa. Então, em vez de sentir raiva e falar "olha o que eu fiz, eu que ajudei e agora, em vez de agradecer, olha o que ele me faz!". Isso é muito normal na nossa vida. O Bodhisattva atua reconhecendo que esse irmão, que esse ser, está muito doente. Então ele vê esta pessoa como um filho único, que está doente, que merece um carinho muito especial. Esta deve ser a atitude; isso deve despertar no nosso coração, e não a arrogância e a raiva, que é o erro de onde reforçamos o nosso "eu" e nos separamos, e criamos um inimigo, e geramos aí muita atividade negativa, causa de sofrimento. A mente que gera pensamentos negativos, ou que experimenta negatividade, está gerando para si mesma, causas que vão dar conseqüentemente circunstâncias de sofrimento, acidentes e maus tratos. Então a gente não está se prejudicando, a gente está se prejudicando a nós mesmos, prejudicando o nosso entorno, e colaborando com o sofrimento universal, que na interdependência ( porque não estamos separados, estamos unidos ), tudo o que experimentamos, experimentam todos os seres.
Se experimentamos raiva, fazemos com que suceda a guerra. Porque a guerra é produzida pela raiva de todos, que coemerge em focos no planeta. Assim como a miséria é provocada pela nossa cobiça, então devemos ser muito calmos na nossa mente, naquilo que pensamos, na atividade ideal que estamos gerando dentro da nossa mente. Porque isso dará as conseqüências para nossas vidas, as conseqüências para os seres que estão próximos e as conseqüências para o conjunto da evolução em todo o universo. Então o nosso compromisso é muito grande, quando começamos o caminho do despertar, o caminho da iluminação, o caminho do Bodhisattva.
Por isso, Thogme Zangpo é bem claro nas suas instruções de como devemos proceder, como os filhos do vitorioso, e qual é a prática que devemos por em ação
[18] Mesmo que você esteja sem dinheiro,
Desprezado continuamente pelos homens,
Terrivelmente doente, golpeado pelas forças maléficas -
Tomar para si mesmo todos os atos ruins
E o sofrimentos dos outros, sem perder a afeição,
É a prática de um bodhisattva.
Para um Bodhisattva, o momento que ele sofre é momento excelente, porque ele pode, neste momento, aproveitar o seu sofrimento para absorver sobre si mesmo, o sofrimento de todos. Já que sofro, que através dessa dor possa absorver a dor de todos os seres. Então ele aproveita o seu sofrimento para que o sofrimento de todos se alivie junto com o seu. Já que tenho que experimentar dor, que esta dor sirva para absorver a dor de todos.
É assim que trabalha um Bodhisattva.
[20] Enquanto o inimigo interior, o próprio ódio, permanecer descontrolado,
Tentar subjugar os inimigos externos fará apenas aumentá-los ainda mais.
Portanto, domar o próprio fluxo mental
Com as forças da bondade amorosa e da compaixão
É a prática de um bodhisattva.
É assim como vamos eliminar os inimigos, através de manter uma saúde interior, uma saúde mental. São os pensamentos de aversão, os que geram os inimigos. Então, se tentarmos afastar os inimigos, rejeitar os inimigos, querer que eles desapareçam, através da aversão, do ódio, mantemos os inimigos na nossa vida.
É através de uma mente que gera sempre bons pensamentos, pensamentos virtuosos, pensamentos de bem estar para aqueles que nos estão provocando problemas, ou dor às vezes, que nos liberamos dos inimigos.
Todo trabalho está no nosso interior, está dentro da nossa mente.
[21] O desejo é como beber água salgada -
Quanto mais você deixa, mais o apego aumento.
Deixar ir imediatamente tudo o que faz surgir o apego
É a prática de um bodhisattva.
Essencialmente, nosso maior problema como seres humanos, não é aversão, porque aversão provoca uma sensação desagradável. Então a gente já busca a liberação deste estado emocional negativo.
O maior problema são os objetos de desejo, que geram apego e esse apego é o que nos leva a estar girando no ciclo das existências condicionadas. Gerando apego, gerando desejo de existir. Então devemos estar muito atentos a desfrutar dos prazeres sensoriais, livres de apego, com a liberdade daquele que agradece, como uma oferenda que se faz ao ser divino, mas sem querer reter, sem querer criar manipulação, sem querer que não se vá, e assim estar buscando sempre isso.
Essa é a prática do Bodhisattva.
Não é que ele renuncia ao prazer, ele renuncia ao apego que geram os objetos, que provocam uma sensação de bem estar sensorial.
[22] Os fenômenos aparentes, todos eles,
São fabricações da mente;
A natureza inata da mente
É separada das fabricações da mente.
Tento visto isso, não se envolver com a percepção dualista
Ao ver coisas belas.
É a mente equânime, é a mente de contemplação, é a mente capaz de desfrutar sem se identificar, de não gerar "gosto - não gosto", "bonito - feio". De estar sempre contemplando os fenômenos: quando aparece o belo, reconhece o belo, mas também reconhece que é transitório, que é impermanente e percebe como ele aparece e como ele desaparece, em liberdade, em equanimidade. Não gera "eu gosto"- "eu não gosto", não gera apego, não gera rejeição, a isto se refere. Manter a mente sempre em um estado de contemplação.
Na meditação, a gente estuda que como nuvens que passam no céu, ou como ondas que se elevam no oceano, grande, menor, mais bonita ou mais feia. Mas a imputação "grande, pequena, bonita e feia" estamos dando dentro da ignorância, da visão dualista. Em realidade, são movimentos que surgem e que se dissolvem. Esta é a atitude equânime e de contemplação, vendo a transitoriedade. E daí, surge um grande gozo, um grande êxtase, um êxtase superior a todo prazer sensorial. É o êxtase da claridade, da lucidez, da consciência, da equanimidade.
[23] Abster-se do apego ao ver os objetos
Como sendo tão amáveis e irreais
Quanto os arco-íris de verão,
É a prática de um bodhisattva.
Novamente ele reforça essa visão da contemplação, de manter a sabedoria que reconhece que todos os fenômenos são ilusões mágicas, causas e condições, transitam, surgem e se dissolvem como o arco-íris.
[24] Tomar as aparências ilusórias como sendo reais
É tão exaustivo quanto ver a morte do próprio filho em um sonho -
Nossos muitos sofrimentos são assim.
Deste modo, considerando como fantasias
Os acontecimentos não desejados da vida,
É a prática de um bodhisattva.
É reconhecer o caráter ilusório. É manter a visão, como se estivéssemos em um sonho. Não conferir realidade aos sonhos, não dar importância às circunstâncias. Contemplar tanto a circunstância boa quanto a ruim, como transitórias, como impermanentes. E recorrer a sabedoria, a sabedoria da equanimidade, a sabedoria que não concebe realidade a um sujeito e que não dá realidade a um objeto, senão se mantém equânime, atuando sempre para o bem de todos, mas desde que com esta visão de união de equanimidade.
[25] Aqueles que querem a iluminação
Devem dar seus próprios corpos se for necessário,
Sem falar também da doação de coisas externas.
Dar generosamente - sem esperança ou recompensa,
E sem o desejo de resultados -
É a prática de um bodhisattva.
A grande ação, a grande atividade do Bodhisattva é o dar, dar continuamente.
[26] Sem ética, você não poderá alcançar benefício nem mesmo para si;
Então, querer beneficiar os outros será apenas uma piada.
Portanto, manter a ética que é livre de apego a este mundo
É a prática de um bodhisattva.
Essa é a grande verdade, não necessitaríamos da polícia.
A ética do espírito, a ética que reconhece as causas de felicidade e as causas de sofrimento. A ética de ser realmente feliz. Esta é a ética que deve praticar um Bodhisattva, ser boa pessoa.
Faltam algumas estrofes, vamos entrar já para o final.
[36] Em resumo:
O que quer que você faça, em qualquer lugar onde esteja,
Olhe para o seu estado mental.
Manter continuamente a consciência atenta
Para realizar benefício aos outros
É a prática de um bodhisattva.
[37] Dedicar o mérito realizado pelos seus esforços
Para superar o sofrimento
De todos os seres sencientes -
Através da sabedoria completamente pura,
Livre dos conceitos de doador, recebedor e doado -
É a prática de um bodhisattva.
Devemos gerar na nossa mente um hábito novo, não só um hábito do refúgio na verdade absoluta e mantermos sempre a mente dentro deste refúgio, e transformá-lo em um objeto de refúgio para os demais seres. Ademais disso, dedicar os méritos. Toda virtude que vamos gerando, na nossa prática, no nosso caminho, vamos dedicar para o bem dos seres. Então assim, nossos atos, nossa atividade virtuosa há de ter uma dimensão incomensurável, porque não só é o bem que geramos, se não a virtude, gerada pelo bem gerado, também é dedicada para o bem dos seres.
É como dar uma volta sobre o bem, então a virtude fica ainda maior e ficamos completamente vazios. Evitamos o erro sutil de um ego que rouba os méritos "agora eu sou um ser virtuoso", "agora eu faço o bem para os seres".
Até esse mérito gerado pela minha atividade eu também dedico.
Esse é o caminho dos Bodhisattvas.
Ele fica sempre completamente vazio, com a mente completamente pura, completamente transparente. E é essa mente que tem a capacidade de se expandir. E a expansão é um estado de iluminação, é um estado de união com a sabedoria universal, para o bem dos seres.
Isso é um Bodhisattva.
"Para aqueles que desejam treinar no caminho do bodhisattva,
Apresentei estas Trinta e Sete Práticas de um Bodhisattva,
Baseadas no significado relatado nos sutras, tantras e shastras,
De acordo com as palavras dos seres sagrados.
Porém, já que é difícil para uma pessoa de baixo intelecto, como eu,
Compreender em profundidade a vasta conduta dos bodhisattvas,
Peço a paciência dos seres sagrados
Com quaisquer erros da lógica escrita, e assim por diante.
Por este mérito, possam todos os seres sencientes,
Através da suprema bodhichitta absoluta e relativa,
Se tornar como o senhor Avalokiteshvara,
Que está além dos extremos do nirvana e do samsara."
Assim conclui o texto de Thogme Zangpo.
Vamos agora fazer um breve propósito, já que recebemos estas preciosas instruções, e que seja de uma forma breve e rápida.
Normalmente, em cada estrofe dessas a gente fica dias. Os grandes mestres de quem eu recebi treinamento, cada semana era para uma estrofe, ou até três estrofes.
É precioso, eles conseguem ficar falando horas sobre a preciosa existência humana, por exemplo.
E falam de uma forma tão preciosa e tão nova. Sobre a bodhichitta, já ouvi dezenas de ensinamentos, onde foram em uma semana, cinco dias, somente sobre bodhichitta.
Então, isso é muito breve, o que a gente fez hoje. É mais do que nada, uma apresentação rápida do que é o caminho do bodhisattva.
É muito mais profundo do que o que vocês podem haver captado. Cada estrofe dessas, em si, é uma meditação que se pode ficar uma semana nela. Meditando só nela vocês vão ter uma compreensão muito mais profunda do que é um bodhisattva, do que é o caminho do bodhsattva.
Então, agora vamos fazer um propósito, depois de ouvir esta apresentação do caminho do bodhisattva, que é como lembrar de cultivar a semente da iluminação, que é depositada na nossa mente, através desta breve exposição.
Então geramos o propósito:
"De agora em diante, começando desde hoje, desde já, nós nos comprometemos a atingir o estado de um Buda - um estado, uma dimensão da consciência completamente pura, completamente liberada de todas as imperfeições, que possui todas as qualidades radiantes de amor por todos os seres como um amor de mãe pelo seu único filho.
Começando hoje e até nós alcançarmos o coração do Despertar, na presença de todos os Budas e Bodhisattvas, seres santos e iluminados, das dez direções e também, na presença do mestre, do mestre sagrado da sabedoria universal, que se manifesta na mente de todos os mestres gurus, lamas, por favor, todos estes seres iluminados, que girem, que voltem seus pensamentos para nós. Confiando no poder do mérito acumulado pela prática da generosidade, ética, e das outras virtudes, tendo as realizado, nós mesmos, ou levando outros a realizar-las; como os Budas e Bodhisattvas do passado desenvolveram o desejo de alcançar o perfeito e insuperável Despertar para o benefício de todos os seres, da mesma forma, começando hoje e até que alcancemos o Coração do Despertar, também nos comprometemos a manter o desejo de atingir o Despertar.
Quando alcancemos o Despertar, guiaremos os seres residentes nos três reinos inferiores aos três reinos superiores. E guiaremos aqueles dos três reinos superiores que estão submetidos às emoções perturbadoras de sua atividade negativa à tranqüilidade. Encorajaremos aqueles que residem na tranqüilidade para que eles se engajem no Grande Veículo. Proclamamos estabelecer os bodhisattvas do Grande Veículo no estado do perfeito Buda, da completa iluminação."
Esse é um propósito nobre e muito elevado, que abraça a todos os seres, incluindo os bodhisattvas, nas terras dos bodhisattvas, incluindo os seres nobres, que é o fruto da liberação pessoal, incluindo seres que estão em um estado inferior, para que transmigrem para estados superiores. Os seres dos estados superiores, para que realizem o ser nobre. E o ser nobre, que engaje no caminho do bodhisattva, e que todos os bodhisattvas alcancem a iluminação.
Esse é o propósito de um mahasattva, como Avalokisteshvara, e esse deve ser o nosso propósito, ao "semblar" na nossa mente a aspiração e a aplicação de cultivar esta semente da bodhichitta, que nos levará até a iluminação completa, para o bem de todos os seres.
Como compromisso diário, é muito importante gerar a mente do refúgio. A mente do refúgio é a mente que está sempre na expansão e na união.
Então devemos lembrar isso, estamos muito acostumados ao "eu", então para isso o compromisso que se gera quando reconhece e empreende o caminho da aspiração a um bodhisattva, o caminho do aprendizado, da aprendizagem do bodhisattva, é gerar o recurso, e a motivação nobre do bem viver.
Então, aqui a gente tem a oração que se faz na tradição. Repete-se em todos os centros budistas, em todas as escolas de todos os mosteiros.
Então, tomar refúgio no Buda, que é a mente iluminada, no Dharma e na sublime assembléia.
Tomo refúgio até o Despertar, pelo mérito resultante da minha prática, da generosidade, e das demais perfeições. Possa eu realizar o Estado do Buda, para benefício de todos os seres.
Temos, em tibetano, para os que tem uma interdependência:
"SAGYE CHO TANG TSO GY CHO NAM LA
JANGCHUB BARTU DANI KYAB SU CHI
DA GYI JIN SO GYPEI SONAM GI
DROLA PEN CHIR SANGYE DRUP PAR SHO"
Só para estabelecer uma conexão com o tibetano, que é a ponte destes preciosos ensinamentos, estes versos de quatro linhas foram escritos pelo grande mestre budista indiano Atisha, que passou muitos anos no Tibete, no século XI.
Recitando pelo menos três vezes ao dia manteremos o nosso compromisso no caminho de aprendizagem de um Bodhisattva.
As duas primeiras linhas, "No Buda, no Dharma e da Sublime Assembléia, Eu tomo o refúgio até o Despertar", são uma expressão da tomada de refúgio; a Sublime Assembléia designa o conjunto daqueles que pelo menos alcançaram a primeira Terra dos Bodhisattvas.
A terceira linha, "Pela prática da generosidade e demais perfeições", declara o voto da Bodhichitta de ação; "generosidade e demais perfeições", que refere às seis paramitas: generosidade, ética, diligência, paciência, concentração-atenção e sabedoria.
O quarto verso, "Possa eu realizar o Estado de Buda para o benefício dos seres," declara o voto da Bodhichitta de aspiração.
Então, assim concluímos os ensinamentos, a transmissão breve da apresentação do caminho do Bodhisattva.
As seguintes estrofes não foram lidas na palestra:
[17] Mesmo se alguém, igual ou inferior a você,
Tratá-lo com desprezo e arrogância -
Colocá-lo respeitosamente acima de você,
Como você faria com seu professor,
É a prática de um bodhisattva.
[19] Mesmo sendo bem conhecido e respeitado,
Tão rico quanto Vaisharavana -
Tendo visto que a riqueza e a glória mundanas são sem essência,
Estar livre da arrogância
É a prática de um bodhisattva.
[27] Tudo o que é danoso é como um tesouro de jóias
Para o bodhisattva, que deseja os prazeres da virtude.
Assim, cultivar a paciência sem ódio ou ressentimento,
Diante de qualquer um,
É a prática de um bodhisattva.
[28] Apesar dos ouvintes e realizadores solitários
Realizarem benefícios para si mesmos,
Eles se esforçam como se colocassem fogo em seus cabelos.
Fazer esforços dos quais nascem
As boas qualidades que beneficiam a todos os seres
É a prática de um bodhisattva.
[29] As emoções e crenças obscuras
São completamente conquistadas pela meditação analítica,
Que foi totalmente integrada com a meditação estabilizadora.
Compreendendo isto, praticar estados meditativos estáveis,
Além dos quatro estados de absorção mental do reino sem forma,
É a prática de um bodhisattva.
[30] Já que a iluminação perfeita não pode ser obtida
Apenas com cinco perfeições, sem sabedoria,
Cultivar a sabedoria que é livre dos conceitos,
Possuidora da pureza tríplice e dos meios hábeis,
É a prática de um bodhisattva.
[31] Se você não examinar sua confusão,
Você pode se tornar um charlatão
Disfarçado como um praticante de Dharma.
Portanto, sempre examinar a própria confusão
E então deixá-la para trás.
É a prática de um bodhisattva.
[32] Devido à força das emoções e crenças obscurecidas,
Falar das falhas dos bodhisattvas
Cria máculas em si mesmo.
Portanto, não falar das falhas daqueles
Que estão no grande caminho
É a prática de um bodhisattva.
[33] As atividades do ouvir, contemplar e meditar
Tornam-se maculadas quando discutimos sobre bens e serviços.
Deixar o apego aos lares de amigos e benfeitores
É a prática de um bodhisattva.
[34] Ao falar de maneira rude,
A conduta de um bodhisattva torna-se maculada
E os outros seres sencientes são perturbados.
Portanto, abandonar as palavras rudes
E desagradáveis às mentes dos outros
É a prática de um bodhisattva.
[35] Uma vez acostumado aos estados densos e crenças primitivas
E habituado às emoções obscuras,
É difícil de revertê-las com antídotos.
Portanto, brandindo a arma da atenção,
Conquistar os estados mentais obscuros imediatamente quando surgirem
É a prática de um bodhisattva.
______________
Tomo refúgio até o Despertar.
Pelo mérito resultante da minha prática da Generosidade
( e das demais Perfeições )
Possa eu realizar o Estado de Buddha
Para o benefício de todos os seres.
Última atualização ( Ter, 08 de Julho de 2008 21:58 )