Tente ver a verdade. A colher não existe
Garoto: Não tente entortar a colher. É impossível. Apenas tente ver a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: A colher não existe (There’s no spoon).
Neo: A colher não existe?
Garoto: Você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.
Vamos a uma das possíveis interpretações:
“Não tente entortar a colher, é impossível.” Não devemos tentar mudar o mundo externo, pois é impossível, já que não podemos controlar as situações externas.
“Apenas tente ver a verdade. A colher não existe.” A colher não existe por não possuir uma natureza própria. Nada nessa colher a faz “colher”, tanto que ela pode ser entendida somente como um aglomerado de metais e outras substâncias. Ela é apenas uma construção interna da nossa própria mente e só pode existir externamente se surgir dentro de nós ao mesmo tempo.
“Você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.” Se quisermos que algo externo mude, devemos mudar primeiro o nosso interior e a forma de ver e entender o que se passa ao nosso redor.
A realidade além de conceitos
Vou dar um exemplo em relação à maneira como conceituamos as coisas: Um carro nada mais é do que um conceito arbitrário criado por nossa mente para facilitar a identificação das coisas. Ele é composto por uma série de itens: pneus, volante, motor, vidro, metal, plástico e borracha, entre outros e, de maneira externa, não existe por si só. Ele precisa da nossa mente. Se pegarmos cada parte do carro para analisar, veremos que não existe carro algum. Agora analise comigo: o vidro por si só, é o carro? Não é! Então vamos tirar essa parte. A porta é o que faz do carro um carro? Também não. Logo a excluímos também. O motor é o carro? Não. Então o tiramos. Se fizermos isso com todas as partes, não sobrará nada! Veremos que o carro não existe. Mas, quando juntamos novamente todas as partes que não são o carro (porta, banco, volante, motor), ele surge novamente como uma construção da nossa mente.Tá. E para que isso serve e como eu aplico no meu dia a dia?
Se aprendermos a olhar o mundo desta perspectiva, entendendo que as coisas não possuem uma natureza própria, intrínseca, e que tudo é uma construção da mente (a colher não é uma colher, é um pedaço de algum tipo de metal, que existe apenas porque nossa mente “imputa” um conceito para ela surgir como colher), logo veremos que “o quadro é maior”: as pessoas não são nem boas, nem más; as coisas não são nem gostosas, nem ruins etc. A própria mente é que constroi todos esses conceitos e, por isso, não precisamos nos apegar a eles. A partir dessa ideia, então, podemos construir a realidade da maneira como quisermos! Veja um exemplo de como podemos usar essa mudança de perspectiva a nosso favor:Imagine que alguém lhe faça algum mal, seja físico ou verbal. Podemos ficar nervosos ou… reconstruir a maneira de pensar mudando a perspectiva sobre situação. Como já vimos, nós não podemos mudar o que está fora – nesse caso o fato de alguém nos “machucar” – mas podemos lidar com a maneira com que vamos reagir. Só de perceber ou refletir por esse ponto de vista, já ganhamos tempo para pensar e não reagir automaticamente, retrucando na mesma moeda. Afinal, se estamos buscando algo mais elevado para melhorar como seres humanos, deveríamos dar o bom exemplo.
E, como em qualquer processo de aprendizado, isso só é possível com um pouco de prática. Por isso, lembre-se de que:
- As coisas e pessoas não possuem uma natureza intrínseca – nada é bom, ruim, bonito, feio etc. Tudo pode ser como quisermos;
- Qualquer situação pode ser transformada – mudando nossa reação, damos a características, às vezes, até opostas às que normalmente daríamos;
- Experimente fingir que aquela coisa/pessoa/situação é completamente nova para você. Parece ridículo, ignorar o que já conhecemos por experiência, mas é um ótimo exercício.