1 de maio de 2012

História da Linhagem de Tara Vermelha

Incontáveis eras atrás, num tempo além do início do nosso tempo, um Buddha
apareceu numa esfera planetária chamada “Profusão de Luzes”. Uma princesa
deste reino, chamada Lua de Sabedoria (tib. Yeshe Dawa), desenvolveu grande fé e devoção e pelo Buddha. Ela prestou homenagem com seu corpo, fala e mente, fazendo inúmeras oferendas ao Buddha e a seu séqüito. Quando, em virtude de suas vasta acumulações de mérito e sabedoria, o pensamento da
iluminação suprema despertou dentro dela, os monges daquele reino
aconselharam-na a rezar para ter um renascimento com o corpo de homem, pois pensavam que tal corpo constituiria um veículo superior para se alcançar a iluminação.
Por haver compreendido a natureza vazia de todos os fenômenos, Yeshe Dawa
reconheceu que não existia qualquer realidade intrínseca, quer no corpo do
homem, quer no corpo da mulher. Entretanto, diante da realidade relativa da
ignorância que insistia nessas diferenciações, ela assumiu o compromisso de
sempre renascer em forma feminina.Finalmente, ela alcançou um profundo estado meditativo, a partir do qual se
tornou capaz de leva incontáveis seres a reinos além do sofrimento. Em nosso
sistema planetário, ela manifestou-se como Tara através da compaixão de
Avalokitehsvara (tib. Tchenrezig), onde então tomou o voto particular de
liberar os seres dos oito grandes medos, que são projeções das negatividades
existentes na mente. São eles: o medo de elefantes, a projeção da
ignorância; o medo do fogo, a projeção da raiva; o medo de leões, a projeção
do orgulho; o medo de ladrões, a projeção das visões errôneas; o medo de
enchentes, a projeção da ganância; o medo de cobras, a projeção da inveja; o
medo de algemas (encarceramento), a projeção da avareza; e o medo de
demônios, a projeção das dúvidas. Esta classificação tradicional dos nossos
medos abrange todo os medos e fobias que se originam de nossos hábitos de
apego e aversão. Em última análise, Tara oferece liberação de quaisquer
medos contidos no sofrimento samsárico. Por esse motivo, é chamada de a
Salvadora Veloz.


História da Linhagem de Tara Vermelha


Tara é o aspecto feminino do Buddha e, da mesma forma que ela é
indissociável do estado desperto iluminado do Buddha, todas as deidades
femininas são aspectos de Tara e indissociáveis dela. Em particular,
prestamos homenagens à vinte e uma Taras que emanam como deusas das famílias padma, vajra, ratna e karma. Os métodos que empregamos para atingir as qualidades iluminadas de Tara foram transmitidos por muitas linhagens de praticantes altamente realizados do budismo tibetano.
A linhagem desta meditação de Tara Vermelha, praticada sob a orientação de
S.E. Chagdud Tulku Rinpoche, teve início de forma enaltecida, como uma
intenção da mente do Buddha Amitabha. De Amitabha passou para
Avalokiteshvara, e daí para uma emanação da própria Tara. De Tara foi ao
renomado mestre budista indiano Nagarjuna, e então para Padmasambhava, o
grande mestre budista que trouxe o budismo Vajrayana ao Tibete no século IX. Padmasambhava transmitiu esse ensinamento ao filho do rei tibetano Trisong Detsen. Ele também o confiou à sua consorte de sabedoria, Yeshe Tsogyal, e pediu que ela o ocultasse como um tesouro, a ser descoberto mais tarde, num tempo em que fosse especialmente benéfico.
Assim, o tesouro do ciclo de Tara Vermelha foi descerrado e codificado mais
de mil anos após Padmasambhava, por Apong Tertön, um grande lama Nyingmapa que viveu neste século. Seu título formal é “A Essência Condensada do Tesouro da Suprema Mente Iluminada: O Ritual de Mandala da Nobre Tara Vermelha, Denominado ‘A Essência Que Realiza Desejos.’”
No final de sua vida, Apong Tertön mandou chamar um monge a quem havia
iniciado na prática de Tara Vermelha e disse-lhe, “Agora, que é chegada a
hora da minha morte, peço-lhe que faça algo por mim. Quando eu tiver 17 anos
em minha próxima vida, venha a mim para conferir a iniciação de Tara
juntamente com a transmissão oral do tesouro em sua íntegra.”
Após a morte de Apong Tertön, os chineses consolidaram sua conquista do
Tibete, e o monge, assim como tantos outros, foi obrigado a fugir. Ele se
tornou refugiado num pequeno país chamado Butão. Apong Tertön renasceu como S.S. Sakya Trizin, chefe da tradição Sakyapa do budismo tibetano. Quando Sakya Trizin chegou aos 17 anos, o monge tentou ir ao seu encontro num local próximo a Dehra Dun, no norte da Índia, mas não conseguiu um passaporte.
Passaram-se muitos anos até que ele, contrastando uma aparência maltrapilha
com a sala de meditação ricamente ornamentada do monastério de Sakya Trizin, conseguisse encontrar seu antigo mestre. Pouco depois do monge conversar com Sakya Trizin por alguns momentos, a congregação de monges presentes na sala de meditação surpreendeu-se com o pedido para que se retirassem e, mais ainda, ao saber que S.S. tomaria uma iniciação de um visitante com uma aparência tão humilde. O monge então conferiu a iniciação de Tara Vermelha a Sakya Trizin e à sua notável irmã, Jetsunma.
A caminho do seu encontro com Sakya Trizin, o monge encontrou S.E. Chagdud Tulku, que se encontrava em Tso Pema, um local sagrado nos Himalaias, ao norte da Índia, onde Guru Padmasambhava estivera em meditação com Mandarava, uma de suas grandes consortes de sabedoria. S.E. Chagdud Tulku sempre havia tido uma ligação com práticas de Tara - sua mãe, que era lama e muito famosa, era na realidade uma emanação de Tara. Em retiro, ele havia realizado extensas práticas de Tara e, apesar de sua afinidade com as deidades vermelhas da família padma, ainda não havia recebido uma prática de Tara Vermelha. Em Tso Pema ele teve muitos sonhos auspiciosos, indicativos de que em breve sua capacidade de beneficiar os outros aumentaria grandemente.
O monge, ao encontrar Rinpoche, disse-lhe que, se recebesse a iniciação de
Tara Vermelha, grandes benefícios apareceria. Rinpoche concordou e, após
receber a iniciação dada pelo monge, cumpriu um prolongado retiro de Tara
Vermelha, durante o qual recebeu muitos sinais de realização.
Embora tenha ganho renome por suas atividades miraculosas como praticante de Tara, Rinpoche não a praticou num círculo mais amplo de pessoas até o
momento de vir para os EUA, quinze anos mais tarde. Em 1980 começou a dar
ensinamentos sobre Tara Vermelha a alguns alunos no Oregon, guiando seu
desenvolvimento pelas etapas de visualização e oferecimento.
O tesouro de Tara Vermelha constitui um ciclo extenso que inclui práticas
preliminares, yoga dos sonhos, práticas curativas, yoga dos canais sutis e
energias (tib. tza lung) e ensinamentos extensos sobre a natureza da mente.
A prática principal foi traduzida e é feita regularmente nos centros Chagdud
Gonpa. As etapas da prática de Tara Vermelha são intercaladas com preces de
homenagens às vinte e uma Taras, escritas por um outro grande lama
Nyingmapa, um contemporâneo de Apong Tertön chamado Kenpo Ngaga.
S.E. Chagdud Tulku também condensou a própria essência da prática em uma
versão mais acessível e concisa em inglês, já traduzida para o português.
Este texto mais curto contém dois níveis de prática: o primeiro é uma
visualização de Tara no espaço à frente, e não requer iniciação; o segundo
inclui a visualização de si mesmo como Tara, e exige iniciação. Por meio da
iniciação, as bênçãos da linhagem são formalmente transmitidas e a mente do
praticante é amadurecida para que realize a profundidade da prática.
S.E. Chagdud Tulku utiliza o texto abreviado como estrutura de apoio para a
yoga dos sonhos de Tara e para as práticas de cura. Como todos os textos
litúrgicos tibetanos (sânsc. sadhana), o texto é dividido em três partes
principais: as preces preliminares, a prática principal e as preces de
conclusão.