29 de dezembro de 2011

Thinley Norbu Rinpoche, 1931 - 2011

TERÇA-FEIRA, 27 DE DEZEMBRO DE 2011


Thinley Norbu Rinpoche, 1931 - 2011


Tristemente comunico que o grande mestre, Thinley Norbu Rinpoche, faleceu hoje pela manhã em Nova York, Estados Unidos. Thinley Norbu Rinpoche era o filho mais velho de S.S. Dudjom Rinpoche e era o pai de Dzongsar Khyentse Rinpoche e Dungse Garab Rinpoche.

Thinley Norbu Rinpoche no Butão em 2009

Thinley Norbu Rinpoche

Enviado via iPhone

__._,_.___


Atividade nos últimos dias:


Pelas bençãos do Senhor Nascido-do-Lótus, pela aspiração de Arya Tara, através da verdade da originação interdependente, possa a vida de Ani Zamba Chözom permanecer firme e beneficiar seres como eu.

Escrito pelo Notório Dzongsar Khyentse Norbu Rinpoche sob a mira de uma arma de fogo, a pedido de Zamba Thinley.



Que se realizem espontânea e imediatamente as excelentes aspirações de Ani-La;

Que todos os seres se vejam livres do sofrimento e da raiz do sofrimento e reconheçam a felicidade e a raiz da felicidade;

Seja tudo auspicioso!

13 de dezembro de 2011

DOAÇÕES PARA RETIRO DE ANI ZAMBA


DOAÇÕES PARA ANI ZAMBA:
BANCO DO BRASIL
AGENCIA: 1100-2
POUPANÇA 14.822-9
VARIAÇÃO 01

QUAISQUER DUVIDAS ENTREM EM CONTATO COM:


Vice-presidente: Frederico Calazans Pena (e-mail: fredan@uol.com.br)



mensagem de ANI ZAMBA:

"
Olá a todos,
Como talvez vocês já saibam, estou de volta ao Brasil após uma longa jornada pela África do Sul. Acabo de terminar a orientação de um workshop de fim-de-semana em Salvador e estou partindo para Mucuge na terça-feira. Espero que no próximo mês eu possa ficar e me preparar para meu retiro de um ano em Monte Azul antes de partir para me juntar a Alan Wallace no sul do Brasil em janeiro.
Estarei acessível até fevereiro, quando eu irei fechar as fronteiras do meu futuro retiro se tudo der certo.
Se qualquer um puder ajudar a custear minhas necessidades durante esse retiro no próximo ano será profundamente apreciado pois preciso de um salário mensal para um auxiliar durante esse período, para me levar comida e cuidar da manutenção de Monte Azul.
Se cuidem, amor, Az"
....
FONTE: ANIZAMBA.ORG
http://www.anizamba.org/560621
 Doações (Donations) para a Associação Visão de Dipankara (Dipankara’s Vision Association):

Sobre o projeto: http://www.jasoneng.com/dipamkara/index.htm

CNPJ (Association register number): 07.299.081/0001-11
Banco do Brasil (the number of the bank is 001)
Agência (Agency number - CC): 1100-2. The ZIP Code of the bank is 46750-000 (Mucugê – BA – Brasil).Conta (Account number): 15298-6

I would like to clarify that any donations that are offered towards the expenses of my forthcoming retreat should not be put into the above account but should be deposited into my personal account under the name of SUSAN DAWN LEE (this is my name at birth)
The bank is the same as above
Banco of Brasil or Bank of Brasil
Agency or branch number 1100-2
Conta (account number)- 14.822-9 and you must state after the account number variation 01 which is a specific kind of account called "poupanca" here.
Any problems with depositing your donations please contact our vice president Frederico who will clarify any doubts you may have
Vice-presidente: Frederico Calazans Pena (e-mail: fredan@uol.com.br)


Por gentileza, efetuado qualquer depósito, enviar mensagem para o e-mail acima informando valor e data.

10 de dezembro de 2011

MEDITAÇÃO -


MEDITAÇÃO
por Dudjom Rinpoche

Uma vez que tudo se
origina na mente, sendo esta a causa raiz de toda a experiência, seja
"boa" ou "ruim", primeiro é necessário trabalhar com sua
própria mente, não deixá-la se perder errantemente . Corte o desnecessário acúmulo
de complexidade e fabricações que acolhem confusões na mente. Corte o problema
pela raiz, por assim dizer.

Permita-se relaxar
e sentir alguma amplitude, deixando apenas a mente ser, tranquilizar- se
naturalmente. Seu corpo deveria ficar parado, a fala silenciosa e a respiração
como ela é, fluindo livremente. Aqui, há uma sensação de se soltar,
desdobrar-se, deixar-se ser.

Com o que este
estado de relaxamento se parece? Você deveria ficar como alguém depois de um
dia de trabalho muito duro, exausto e pacificamente satisfeito, a mente pronta
para descansar. Algo se ajeita ao nível intestinal e sentindo o descanso em seu
intestino, você começa a experimentar uma leveza. É como se você estivesse
derretendo.

A mente é tão
imprevisível - não há limite para a criação fantástica e sutil que surge, ou
seus humores e aonde ela vai levar você. Mas você também pode experimentar um
estado lamacento e semi-consciente à deriva, como se houvesse uma cobertura
sobre sua cabeça - uma espécie de torpor de sonho. Este é um modo de quietude,
nomeadamente estagnação, uma cegueira sem mente, turva.

E como você sai
desse estado? Alerte-se, endireite as costas, expire o ar viciado para fora de
seus pulmões e direcione sua atenção para o espaço claro a fim de trazer
frescor. Se você permanecer nesse estado estagnado você não vai evoluir, por
isso quando este revés surge, limpe-o de novo e de novo. É importante
desenvolver a vigilância, permanecer alerta com sensibilidade.

Assim, a
consciência lúcida de meditação é o reconhecimento tanto de imobilidade como de
mudança e é a clareza tranquila de pacificamente permanecermos em nossa
inteligência básica. Pratique isto, pois só realmente fazendo-o que se
experiencia a fruição ou se começa a mudar.

Ver em Ação

Durante a meditação
a mente de alguém, estando uniformemente estabelecida em seu próprio modo
natural, é como água parada, serena, sem ondulação ou vento; e quando qualquer
pensamento ou mudança surge naquela quietude, se forma como uma onda no oceano,
desaparecendo nele novamente. Deixada naturalmente, se dissolve, naturalmente.
Seja qual for a turbulência da mente que irrompa - se você deixar que assim
seja - ela por si própria irá extinguir-se, liberar-se; assim a visão a que se
chega através da meditação é que tudo o que aparece não é outra coisa senão a
auto exibição ou projeção da mente.

Ao continuar na
perspectiva dessa visão nas atividades e eventos da vida cotidiana, a apreensão
da percepção dualista do mundo como realidade sólida, fixa e tangível (que é a
causa raiz de nossos problemas) começa a afrouxar e se dissolve. A mente é como
o vento. Ela vem e vai, e através de certeza crescente nessa visão, começa-se a
apreciar o humor da situação. As coisas começam a ser percebidas um pouco como
irreais, e o apego e a importância que se dá aos eventos começam a parecer
ridículos ou pelo menos mais leves.

Assim desenvolve-se
a capacidade de dissolver a percepção, ao continuar o fluxo da consciência de
meditação na vida cotidiana, vendo tudo como o jogo auto-manifesto da mente. E
imediatamente após a meditação sentada, a continuação dessa consciência é
ajudada ao fazer aquilo que você tem que fazer com calma, tranquilamente, com
simplicidade e sem agitação

Assim, em um
sentido, tudo é como um sonho, ilusório, mas mesmo assim com humor continua-se
fazendo as coisas. Se você estiver andando, por exemplo, sem solenidade ou
auto-consciência desnecessários, alegremente caminhe em direção ao espaço
aberto da verdade tal como ela é. Quando você come seja o reduto da verdade, do
que é. Ao comer, alimente as negatividades e ilusões na barriga do vazio,
dissolvendo- os no espaço; e quando você estiver urinando considere que todos os
seus obscurecimentos e bloqueios estão sendo limpos e lavados.
 
Até o momento eu
contei-lhes a essência da prática resumidamente, mas é preciso perceber que
enquanto nós continuamos a ver o mundo de uma maneira dualista, até que
estejamos realmente livres do apego e da negatividade e tenhamos dissolvido
todas as nossas percepções exteriores na pureza da natureza vazia da mente,
ainda estamos presos no mundo relativo de "bom" e "ruim",
"ações positivas e negativas"; devemos respeitar essas leis e estar
conscientes e responsáveis por nossas ações.

Pós-Meditação

Após a meditação
sentada formal continue essa percepção luminosa e ampla nas atividades
cotidianas, em tudo, e gradualmente a consciência será reforçada e a confiança
interna irá crescer.

Levante-se com
calma da meditação, não pule imediatamente ou com pressa, mas seja qual for sua
atividade, preserve um leve sentimento de dignidade e equilíbrio e faça o que
você precisar fazer com tranquilidade e relaxamento de mente e corpo. Mantenha
a sua consciência centrada luminosamente e não permita que sua atenção se
distraia. Continue esse encontro do fio da atenção plena e consciência, apenas
siga o fluxo.

Ao caminhar,
sentar, comer ou dormir, tenha um sentido de tranqüilidade e presença de
espírito. Em relação a outras pessoas seja honesto, gentil e simples;
geralmente seja agradável em seus modos e não se deixe arrastar por conversas e
fofocas.

O que quer que você
faça, de fato, faça de acordo com o Darma, que é a maneira de aquietar a mente
e subjugar negatividades.

Bodisatva | Mensagem de S.S. o Dalai Lama à Congregação Budista Global

Link to Bodisatva

Posted: 28 Nov 2011 01:48 PM PST
Dalai LamaSua Santidade o Dalai Lama fez um comunicado à Congregação Budista Global no dia 25 de novembro de 2011, por ocasião do encontro em Nova Delhi, de 27 a 30 de novembro de 2011, publicada no site oficial de Sua Santidade no dia 28 de novembro. Tradução livre de Jeanne Pilli. Clique aqui para ler o texto original em inglês.
“Em 29 de novembro de 1956, por ocasião do  2.500° aniversário do Parinirvana do Buda, eu tive a oportunidade de encontrar líderes indianos e representantes de diversos países budistas aqui em Nova Delhi. Naquela época, eu fiz um relato detalhado sobre o desenvolvimento histórico do budismo no Tibete e sobre a excepcional relação indo-tibetana. Desde então, o mundo, incluindo Índia e Tibete, bem como as tradições budistas em diferentes países, tem testemunhado muitas mudanças.
Até os últimos 50 anos ou mais, as diversas comunidades do mundo budista tinham apenas uma vaga idéia distante da existência uns dos outros e pouco apreço sobre o quanto elas tinham em comum. Como o ensinamento do Buda criou raízes em diferentes lugares, evoluíram naturalmente certas variações no estilo em que foi mantido e praticado. De fato, o próprio Buda deu ensinamentos diferentes de acordo com as predisposições de seus discípulos em diferentes momentos. O que distingue a nossa situação contemporânea é que quase todas as várias tradições budistas que evoluíram em diferentes lugares estão agora acessíveis a qualquer um que esteja interessado. Além do mais, aqueles de nós que estudam e praticam essas várias tradições budistas agora podem se encontrar e aprender uns com os outros.
O Buda Sakiamuni atingiu a iluminação em Bodhgaya há cerca de 2.600 anos, e eu acredito que seus ensinamentos permanecem originais e relevantes até hoje. Movido por uma preocupação espontânea em ajudar os outros, após sua iluminação, o Buda passou o resto de sua vida como um monge sem moradia, compartilhando sua experiência com aqueles que desejassem ouvir. Suas visões sobre a originação interdependente e sua recomendação de não causar mal a ninguém, mas ajudar a quem for possível, enfatizam a prática da não-violência. Isto continua sendo uma das forças mais potentes para o bem no mundo de hoje, pois não-violência é estar a serviço de todos os seres.
A renúncia de Sidarta – que escolheu viver uma vida sem ter onde morar – simboliza a prática de treinar a moralidade; os seis anos de ascetismo simbolizam seu treinamento em concentração; e atingir a iluminação através da prática de sabedoria sob a árvore Bodhi representa a importância de cultivar a sabedoria. O papel destes três treinamentos na vida do Buda ressalta sua importância na nossa prática diária. Para sermos capazes de levar estas práticas, temos que estudar os ensinamentos do Buda contidos no Tripitaka.
Em um mundo crescentemente interdependente nosso bem-estar depende de muitas outras pessoas. Outros seres humanos têm direito a paz e felicidade que é igual ao nosso; portanto temos a responsabilidade de ajudar aos que necessitam. Hoje, em um novo milênio, nosso mundo requer que aceitemos a unicidade da humanidade. Muitos dos nossos problemas e conflitos mundiais surgem porque perdemos a capacidade de enxergar a natureza humana básica que conecta todos nós como uma família humana. Nós esquecemos que, à despeito das diferenças superficiais entre nós, as pessoas são iguais em seu desejo básico por paz e felicidade. Parte da prática budista envolve treinar nossas mentes através da meditação. Mas para o nosso treinamento para acalmar a mente, para desenvolver qualidades como amor, compaixão, generosidade e paciência ser efetivo, temos que colocá-lo em prática no nosso dia-a-dia. Ainda que o nosso mundo continue a se desenvolver materialmente, há uma necessidade crescente similar no nosso senso de valores internos. O século XX foi um século de guerra e violência; agora precisamos trabalhar para vermos que o século XXI é um século de paz e dialogo. Nós budistas podemos contribuir com isso aprendendo com outras tradições religiosas e compartilhando qualidades típicas da nossa própria tradição.
Há grande ênfase na prática de amor e compaixão nos ensinamentos do Buda, bem como nos ensinamentos de outras tradições espirituais, mas é importante reconhecer que amor e compaixão são fundamentais para as relações entre seres sencientes em geral e entre seres humanos em particular. Eu acredito que não devemos mais falar sobre ética budista, ética hindu, cristã ou muçulmana, porque esses valores são universais. O Budismo não explica a virtude de valores como honestidade e integridade de uma forma diferente de como o Cristianismo ou o Islamismo a explica. Por isso, nos últimos anos, tenho achado mais apropriado falar sobre a necessidade de promover uma ética secular. Refiro-me a esses valores como ética secular porque acreditar numa religião ou em outra ou não ter crença em nenhuma delas não afeta a necessidade que temos de tais valores. O fundamento básico da humanidade é amor e compaixão. É por isso que se mesmo poucos indivíduos que simplesmente tentarem criar paz mental e felicidade em si próprios e agir com responsabilidade e amorosidade em relação aos outros, estes poderão ter uma influência positiva em sua comunidade. Eu acredito que o Budismo tem mesmo um papel especial a desempenhar no nosso mundo moderno. Isso porque, diferente de outras religiões, unicamente o Budismo propõe o conceito de interdependência, que está intimamente de acordo com a ciência moderna. Nós podemos pensar no Budismo em termos de três categorias: filosofia, ciência e religião. A parte religiosa envolve princípios e práticas que dizem respeito apenas aos budistas, mas a filosofia budista de interdependência bem como a ciência budista sobre a mente e as emoções humanas são de grande benefício a qualquer um. Como sabemos, a ciência moderna tem desenvolvido um entendimento altamente sofisticado do mundo físico, incluindo trabalhos sutis sobre corpo e cérebro. A ciência budista por outro lado, tem se dedicado a desenvolver um conhecimento detalhado e em primeira-pessoa sobre muitos aspectos da mente e das emoções, áreas ainda relativamente novas para a ciência moderna. Cada uma delas tem portanto conhecimentos cruciais que se complementam. Eu acredito que a síntese dessas duas abordagens tem grande potencial para levar a descobertas que enriquecerão nosso bem-estar físico, emocional e social.
Embora a tradição contemplativa budista e a ciência moderna tenham evoluído a partir de raízes culturais, intelectuais e históricas diferentes, eu acredito que em essência elas compartilham de interesses comuns significativos, especialmente na perspectiva filosófica básica e em metodologia. Do ponto de vista filosófico, o Budismo e a ciência moderna compartilham a mesma visão sobre a ausência dos absolutos, seja descritos como um ser transcendente, como uma entidade eterna imutável ou como um substrato fundamental de realidade. Tanto o budismo quanto a ciência preferem descrever a evolução e emergência do cosmos e da vida em termos de interrelações complexas de leis naturais de causa e efeito. De uma perspectiva metodológica, ambas as tradições enfatizam o papel do empirismo.
Por exemplo, na tradição investigativa budista, entre as três fontes reconhecidas de conhecimento – experiência, razão e testemunho – é a evidência da experiência que tem precedência, vindo a razão em segundo e o testemunho por último. Isto significa que na investigação budista da realidade, ao menos em princípio, a evidência empírica deveria triunfar sobre a autoridade das escrituras, não importando quão profundamente venerada uma escritura possa ser. Mesmo na caso de conhecimento derivado da razão ou inferência, sua validade deve derivar em última instância de fatos observados na experiência.
O motivo primário subjacente à investigação budista da realidade é a busca pela superação do sofrimento e pelo aperfeiçoamento da condição humana; portanto, a tradição investigativa budista tem se direcionado primariamente à compreensão da mente humana e suas várias funções. Nosso objetivo ao buscar formas de transformar nossos pensamentos, emoções e propensões ocultas é encontrar uma forma de viver mais virtuosa e gratificante. Então, um intercâmbio genuíno entre o conhecimento e experiência acumulados do Budismo e da ciência moderna pode ser profundamente interessante e potencialmente benéfico.
Em minha própria experiência, tenho me sentido profundamente enriquecido por engajar em conversas com neurocientistas e psicólogos sobre questões como a natureza e papel das emoções negativas, atenção, imaginário, bem como a plasticidade do cérebro. Sou grato aos inúmeros eminentes cientistas com quem eu tive o privilégio de participar em diálogos que têm continuado por estes anos sob os auspícios do “Mind and Life Institute”, cujas conferências anuais se iniciaram em 1987 em minha residência em Dharamsala, India.
É claro que a maioria das pessoas sente que sua própria prática religiosa é a melhor. Eu mesmo sinto que o Budismo é o melhor para mim. Mas isto não significa que o Budismo seja o melhor para todos. O importante é o que é adequado para uma pessoa ou um grupo de pessoas em particular. A religião, para a maioria de nós, depende da nossa formação familiar e de onde nascemos e fomos criados. Eu penso que geralmente é melhor não mudar. No entanto, quanto mais entendemos os meios uns dos outros, mais podemos aprender. Declarando meu respeito por todas as fés religiosas, eu não advogo a tentativa de unificar as várias tradições. Eu acredito firmemente que precisamos de diferentes tradições religiosas para atender necessidades e disposições mentais da grande variedade de seres humanos. Todas as principais tradições religiosas fazem do tornar a humanidade melhor sua principal preocupação e todas levam a mesma mensagem. Quando as vemos como instrumentos essenciais para desenvolver boas qualidades humanas como compaixão, tolerância, perdão e auto-disciplina, podemos apreciar o que têm em comum.
Eu estou convencido de que o obstáculo mais significativo à harmonia interreligiosa é a falta de contato entre as diferentes comunidades religiosas e consequentemente a falta de apreciação mútua de seus valores.  No entanto, neste mundo de hoje crescentemente complexo e interdependente, temos que reconhecer a existência de outras culturas, grupos étnicos diferentes e, é claro, de outras fés religiosas. Quer gostemos ou não, a maioria de nós vivencia a diversidade diariamente.
Até mesmo entre as várias tradições budistas que vieram a surgir em diferentes tempos e lugares, há aqueles que vêem a coleção de escrituras preservadas em pali como sua fonte e aqueles que consideram a tradição em sânscrito. Eu acredito que é chegado o tempo da comunicação livre uma com a outra, daqueles que consideram a tradição pali em dialogo com os que consideram a tradição sânscrita. Afinal, todos os diferentes ramos vêm de raízes e troncos comum. Como monge tibetano, ainda hoje considero a mim mesmo como um estudante da tradição Nalanda. A forma que o Budismo foi estudado e ensinado na Universidade de Nalanda representa o zênite de seu desenvolvimento na Índia. Se quisermos ser Budistas do século XXI é importante nos engajarmos no estudo e análise dos ensinamentos do Buda, como tantos fizeram até então, ao invés de simplesmente confiarmos na fé.
Portanto, o estudo e prática dos ensinamentos do Buda são necessários para preservá-los e promovê-los. A Sanga desempenhou um papel central nisso nos tempos do Buda e fico feliz pela tradição continuar até os dias de hoje. Consequentemente, é importante que os membros da comunidade monástica mantenham seus votos para sustentar a pureza do Buda Darma.
No passado, dada a natureza dos diferentes cenários sob os quais o Buda Darma floresceu em nossas diferentes sociedades, não havia muitas oportunidades para os Budistas se reunirem e discutir questões de interesse comum. Esta congregação tem provido uma oportunidade crucial muito necessária. Agora e no futuro precisamos encorajar e promover o intercâmbio de conhecimentos e experiência entre as diferentes tradições e melhorar a comunicação entre nós. Espero que esta seja a primeira de muitas dessas ocasiões que nos permita promover um melhor entendimento e contribua de forma mais efetiva para a felicidade humana e paz mental por todo o mundo. Por ocasião do 2.600° aniversário da iluminação do Buda em Bodhgaya, eu ofereço meus cumprimentos a esta eminente Congregação Budista Global.”
S. S. o Dalai Lama, 25 de Novembro de 2011


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Dipamkara Maceió


Posted: 26 Nov 2011 06:29 AM PST

Confinados na escura e estreita prisão de nossas próprias criações, que nós tomamos como todo o universo, poucos de nós podem sequer começar a imaginar outra dimensão da mente. Patrul Rinpoche conta a história de um velho sapo que tinha vivido toda a sua vida em um poço úmido. Um dia, um sapo do mar foi visitá-lo.

"De onde 
você vem?", Perguntou o sapo no poço.
"Do grande oceano," ele respondeu.
"Quão grande é o seu oceano?"
gigantesco."
"Você quer dizer cerca de um quarto do tamanho do meu poço aqui?"
"Maior".
"Maior? Você quer dizer metade do tamanho? "
"Não, ainda maior."
"Ele é. . . tão grande quanto este poço? "
"Não há comparação." "Isso é impossível! Eu tenho que ver isso. "

Então eles partiram juntos. Quando o sapo do poço viu o oceano, foi um choque tão grande que sua cabeça simplesmente explodiu em pedaços.

(Glimpse of the day - Sogyal Rinpoche - publicado em 25 de novembro de 2011)

Em Inglês:
Leia mais >>
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MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS





Registro de Blog MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS Mar 27, '07 11:20 AM
para todos






Vivemos numa sociedade, acelarada, cheia de ritmo, cheia de estimulos, e esquecemo-nos com grande frequência que dentro do nosso lar existem " crianças ", crianças essas que eu chamo-as de " esponjas " pois absorvem todo o nosso stress. Depois falamos de crianças hiperativas, da falta da concentração nas aulas, na hiperatiividade em casa, na sua auto-estima, por vezes como não temos tempo para as acompanhar da melhor maneira ...usamos medicação frequentamos medicos, e essa solução nem sempre resolve.
Podemos sempre dar-lhes a oportunidade de se olharem a elas mesmas de se observarem.
Tal como nós as nossas crianças também são vitimas do nosso muito stressado.
Ensinar a nossa criança a meditar significa ajudá-la a ligar-se com o seu eu interior, incluíndo a sua imaginação, a sua auto-estima, os seus pensamentos positivos, saber vê-la e senti-la o quanto ela é especial, ajudá-la por ela a geriri os seus proprios conflitos.
Meditação não significa estar muito quieto, de pernas cruzadas e olhos fechados, significa sim, dar-lhes tempo e espaço para serem criativas, para praticarem a atenção e estarem livres de preocupações, e da ansiedade transmitida diariamente.
Este processo pode beneficiar muitos pais no seu envolvimento com as crianças.
Ter tempo para relaxar pode, no mínimo, reduzir a ansiedade e aumentar a capacidade de resolução de problemas. Por vezes, o simples facto de focar a atenção numa tarefa diferente permite que surjam ideias novas e frescas. A meditação pode ainda ajudar uma criança zangada ou frustrada a acalmar-se e a repensar uma situação.
1º para ensinar as crianças a relaxar e meditar, consiste em fazer com que elas se sentem ou deitem numa posição e local confortáveis, como elas se sentirem melhor! não existe nenhuma postura obrigatória só o conforto dela.
2º A respiração O inicio da técnica mais importante - aprender a respirar, respirar fundo uma ou duas vezes e deixem que os seus olhos se fechem, se assim quiserem .
Crianças mais velhas podem simplesmente querer tempo para descansar um pouco ou pensar em privado. Para outras crianças, continuar com mais algumas respirações profundas pode ser o suficiente. Aqui estão algumas outras sugestões para incorporar alguns momentos calmos, meditativos na vida da sua criança.
1. Use imagens mentais
Faça com que a sua criança imagine que é molinha como uma boneca de trapos, com cada parte do seu corpo (braços, pernas, cabeça...) a sentir-se cada vez mais como gelatina. Ou então peça-lhe que imagine as ondas numa piscina ou no mar. Peça-lhe que permita que o seu corpo sinta a água suave nos seus braços e pernas e, por fim, passar através destes. Talvez possam gostar duma visita amigável de um golfinho, uma estrelinha do mar ou alguns peixes tropicais coloridos. Peça-lhe que imagine uma conversa em que as criaturas usam palavras relaxantes e talvez até lhe tragam uma mensagem especial. Deixe que a criança escolha a cor da água, da areia e dos peixes. A imaginação, não a realidade, é a chave nesta situação.
Existem muitos lugares diferentes para onde os seus pensamentos a podem levar (talvez ao parque ou ao seu passeio favorito). A imaginação de cada um irá levá-lo onde quiser ir mentalmente e observar.
Os pensamentos podem ser aventureiros e empolgantes, não têm de ser sempre algo calmo. A intenção é apenas fazer com que ela crie um espaço seguro de ambiente alegre onde possa se refugiar.
2. Use afirmações positivas " EU GOSTO DE MIM " uma das principais desenvolvimento da auto-estima.
Existem varias formas de interagir, a questão está em qual a melhor para o meu filho!
Acho muito interessante outra das técnicas, com mais ritmo, pois fazem-nos sentir especiais.
Esta consiste em:
Sentar-se calmamente...depois abanar a cabeça rapidamente e fazer ruído ao expirar( deitar todo o ar para fora )
Mexer o braços, sacudi-los!
Ficar quieto
Expirar de novo pela boca para deitar todo o ar para fora.
Fechar os olhos calmamente.. respirar e por um enorme, sintam o que sentirem neste momento é sorrir.
Depois devagarinho vamos abrindo os olhos, gradualmente
O pensamento mais importante a ser absorvido é realmente " Eu gosto de Mim "
No fim Celebramos com uma musica ao seu gosto!
Nunca esquecer: Afirmações positivas " eu sou sou capaz "


Para organizar um encontro contacte :. 96 710 18 29
ou mail : paula.leitao@netcabo.pt
Grata pela atenção

Brincar de meditar



Equilíbrio


Brincar de meditar

Com jeitinho, dá para ajudar o pimpolho a desenvolver práticas contemplativas

por Denise Bobadilha | foto André Spinola e Castro

Em vez de passar os dias preenchendo os horários com judô-natação- inglês-balé-computação-escola, há crianças que reservam alguns minutos diários para a meditação. Sim, meditação, aquele ato consciente de retirar-se, normalmente em quietude, que parece impensável para seres tão ligados no 220 como crianças. Mas elas podem, sim, meditar. E fazem isso com prazer, desde que o ato de meditar não seja mais uma obrigação como o judô-natação-etc.-etc. a que muitos pais submetem seus filhos. Se você já imaginou aquele moleque que não larga o videogame transformado num anjinho sentado em posição de lótus, repetindo mantras por horas, calma lá. Embora tenha, em linhas gerais, os mesmos objetivos e benefícios que traz para os adultos, a meditação para crianças segue três regras básicas. A primeira delas é que a criança não deve se sentir obrigada a praticá-la. A segunda é que o baixinho deve meditar por pouco tempo, alguns minutos apenas as crianças se distraem muito. A terceira dica é que toda meditação deve seguir uma orientação de adultos, pelo menos no início.
A criança não aprende a meditar e nem, quando os pais dizem é hora de meditar, ela, como por mágica, vai para o quarto e começa a prática, como se estivesse estudando para a prova de ciências. Não é assim. O ideal é que haja uma evolução natural: a criança começa com um minuto por dia, depois de ouvir uma história ou seguindo uma orientação passo a passo. Algo suave como: Feche os olhinhos, pense no ar que está enchendo o seu peito, conte... ar entrando, ar saindo... ar entrando, ar saindo... agora preste atenção no toque do sino... E por aí vai. A intenção é levar a criança a um estado ainda mais avançado que o do simples relaxamento; é como se o cérebro se desligasse de pensamentos por alguns momentos.
Depois de meditar por um minuto num dia, o pequeno pode conseguir por dois minutos, três, quatro. Em seguida, pode ter vontade de fazer por conta própria, quando quiser. Acredite: não é impossível. Com os gêmeos Bruno e Gabriel Damásio, de 10 anos, meditar faz parte do dia-adia. Outro dia um deles me disse que às vezes repete um mantra durante a aula ou no intervalo, conta a mãe, Luciana Damásio. Os meninos foram introduzidos muito cedo no budismo tibetano, mas sem obrigações: nunca foram ensinados a meditar, o interesse apareceu por conta própria.
Também foi assim com Alexandre, de 7 anos, filho da artista plástica Fernanda Valadares. Eu gosto muito de repetir mantras, parece que eu fico descansado, é gostoso, conta o menino. A mãe diz que Alexandre se aproxima espontaneamente enquanto ela está meditando com mantras. Às vezes ele fica por um tempo até surpreendente, mais de 10 minutos, relata Fernanda.

Olhar interior
E para que uma criança medita? Porque, como os adultos, elas também sofrem com o estresse diário, mesmo que não pratiquem judô, natação e outras 20 atividades semanais. Elas precisam escapar das preocupações a proximidade de uma prova ou a desavença com um colega, por exemplo e podem aprender a se conectar consigo mesmas. Verdade que a infância é momento de gastar energia e descobrir o mundo exterior. Mas há quem defenda a meditação por considerar que as crianças hoje estão superexpostas a estímulos externos. A prática ajuda a torná-las mais concentradas e relaxadas e quem convive com os pimpolhos sabe o quanto isso pode ser benéfico. Quando aplicada corretamente, a meditação ensina a criança a ter autocontrole, diz a psicóloga norteamericana Deborah Rozman, autora de Meditação para Crianças. Segundo ela, estudos comprovaram que a meditação ajuda pequenos muito inquietos a controlar o temperamento. Crianças arteiras ou hiperativas têm mais dificuldade de meditar, mas são extremamente beneficiadas quando conseguem, completa Márcia de Luca, fundadora do Centro Integrado de Yoga, Meditação e Ayurveda (Ciyma), de São Paulo.
Desligar-se por alguns minutos dos problemas passados e futuros tem efeitos físicos e psíquicos comprovados por diversos estudos. A meditação ajuda a liberar endorfina, que produz sensação de bem-estar, ao mesmo tempo que diminui a produção de adrenalina (que, nas crianças, está sempre lá em cima) e cortisol (hormônio ligado ao estresse). Cinco minutos de meditação antes da aula ajudam a criança a absorver o aprendizado, diz Márcia de Luca, que já deu orientação a professores.
Uma bela maneira de colocar a criança em contato com a meditação é através de atividades lúdicas. No templo de budismo tibetano Odsal Ling, em Cotia, acontece no primeiro domingo de todo mês a Ciranda do Dharma, voltada para crianças de 5 a 11 anos. O lama Norbu conta histórias com algum princípio budista e depois faz atividades relacionadas. Por exemplo: quando foi contada a história do padeiro sovina que aprendeu a dividir o pão, as crianças da Ciranda fizeram diversos pães.
No final, há meditação e recitação de mantras.Coisa rápida, que as crianças adoram. Usamos algum instrumento de apoio, como um sino, para ajudar no foco da meditação, explica o lama Norbu. No budismo tibetano, a meditação é feita por meio de um mantra ou verso indicado para cada pessoa. Tradicionalmente, as crianças não recebem treinamento para a meditação antes dos 11 anos, mas, com orientação adequada, práticas simples de meditação podem ser introduzidas para crianças menores.
A idade ideal para começar a prática não é consenso entre os iniciados. Um conceito muito utilizado é o de que a criança está pronta para meditar quando consegue acompanhar uma história, prestando atenção algo como assistir a O Rei Leão até o fim. Minhas crianças começaram com 4 anos, diz Susan Kramer, norte-americana que começou a trabalhar essa meditação em 1965 e é autora de livros sobre o assunto, nenhum deles traduzido no Brasil. Ela diz que basta colocar a criança deitada de costas, relaxada como uma boneca de pano, para iniciar uma meditação guiada. Contar a inspiração e a expiração duas vezes já é um começo.
Márcia de Luca acredita que a meditação pode ser introduzida por volta dos 8 anos. O método de Márcia é o difundido pelo guru indiano Deepak Chopra, no qual se repete o que ele chama de som primordial individual, escolhido a partir da hora e do local de nascimento de cada pessoa.
Mais importante que descobrir quando começar é perceber quando se deve parar. Se a criança não se interessa pela meditação, não vale a pena obrigar ou se chatear. Ela pode se interessar pelo assunto mais tarde. Ou não. Só não pode achar que a prática é uma obrigação a mais no dia-a-dia. Isso iria contra todos os possíveis benefícios da meditação.

PARA SABER MAIS
LIVROS
Meditação para Crianças, Deborah Rozman, Editora Ground NA INTERNET
www.odsalling.org - site do templo de budismo Odsal Ling
Child Meditation for Children, de Susan Kramer

Mais E-books sobre meditação para crianças disponíveis para download pago no site www.lulu.com.


Em vez de passar os dias preenchendo os horários com judô-natação- inglês-balé-computação-escola, há crianças que reservam alguns minutos diários para a meditação. Sim, meditação, aquele ato consciente de retirar-se, normalmente em quietude, que parece impensável para seres tão ligados no 220 como crianças. Mas elas podem, sim, meditar. E fazem isso com prazer, desde que o ato de meditar não seja mais uma obrigação como o judô-natação-etc.-etc. a que muitos pais submetem seus filhos. Se você já imaginou aquele moleque que não larga o videogame transformado num anjinho sentado em posição de lótus, repetindo mantras por horas, calma lá. Embora tenha, em linhas gerais, os mesmos objetivos e benefícios que traz para os adultos, a meditação para crianças segue três regras básicas. A primeira delas é que a criança não deve se sentir obrigada a praticá-la. A segunda é que o baixinho deve meditar por pouco tempo, alguns minutos apenas as crianças se distraem muito. A terceira dica é que toda meditação deve seguir uma orientação de adultos, pelo menos no início.
A criança não aprende a meditar e nem, quando os pais dizem é hora de meditar, ela, como por mágica, vai para o quarto e começa a prática, como se estivesse estudando para a prova de ciências. Não é assim. O ideal é que haja uma evolução natural: a criança começa com um minuto por dia, depois de ouvir uma história ou seguindo uma orientação passo a passo. Algo suave como: Feche os olhinhos, pense no ar que está enchendo o seu peito, conte... ar entrando, ar saindo... ar entrando, ar saindo... agora preste atenção no toque do sino... E por aí vai. A intenção é levar a criança a um estado ainda mais avançado que o do simples relaxamento; é como se o cérebro se desligasse de pensamentos por alguns momentos.
Depois de meditar por um minuto num dia, o pequeno pode conseguir por dois minutos, três, quatro. Em seguida, pode ter vontade de fazer por conta própria, quando quiser. Acredite: não é impossível. Com os gêmeos Bruno e Gabriel Damásio, de 10 anos, meditar faz parte do dia-adia. Outro dia um deles me disse que às vezes repete um mantra durante a aula ou no intervalo, conta a mãe, Luciana Damásio. Os meninos foram introduzidos muito cedo no budismo tibetano, mas sem obrigações: nunca foram ensinados a meditar, o interesse apareceu por conta própria.
Também foi assim com Alexandre, de 7 anos, filho da artista plástica Fernanda Valadares. Eu gosto muito de repetir mantras, parece que eu fico descansado, é gostoso, conta o menino. A mãe diz que Alexandre se aproxima espontaneamente enquanto ela está meditando com mantras. Às vezes ele fica por um tempo até surpreendente, mais de 10 minutos, relata Fernanda.

Olhar interior
E para que uma criança medita? Porque, como os adultos, elas também sofrem com o estresse diário, mesmo que não pratiquem judô, natação e outras 20 atividades semanais. Elas precisam escapar das preocupações a proximidade de uma prova ou a desavença com um colega, por exemplo e podem aprender a se conectar consigo mesmas. Verdade que a infância é momento de gastar energia e descobrir o mundo exterior. Mas há quem defenda a meditação por considerar que as crianças hoje estão superexpostas a estímulos externos. A prática ajuda a torná-las mais concentradas e relaxadas e quem convive com os pimpolhos sabe o quanto isso pode ser benéfico. Quando aplicada corretamente, a meditação ensina a criança a ter autocontrole, diz a psicóloga norteamericana Deborah Rozman, autora de Meditação para Crianças. Segundo ela, estudos comprovaram que a meditação ajuda pequenos muito inquietos a controlar o temperamento. Crianças arteiras ou hiperativas têm mais dificuldade de meditar, mas são extremamente beneficiadas quando conseguem, completa Márcia de Luca, fundadora do Centro Integrado de Yoga, Meditação e Ayurveda (Ciyma), de São Paulo.
Desligar-se por alguns minutos dos problemas passados e futuros tem efeitos físicos e psíquicos comprovados por diversos estudos. A meditação ajuda a liberar endorfina, que produz sensação de bem-estar, ao mesmo tempo que diminui a produção de adrenalina (que, nas crianças, está sempre lá em cima) e cortisol (hormônio ligado ao estresse). Cinco minutos de meditação antes da aula ajudam a criança a absorver o aprendizado, diz Márcia de Luca, que já deu orientação a professores.
Uma bela maneira de colocar a criança em contato com a meditação é através de atividades lúdicas. No templo de budismo tibetano Odsal Ling, em Cotia, acontece no primeiro domingo de todo mês a Ciranda do Dharma, voltada para crianças de 5 a 11 anos. O lama Norbu conta histórias com algum princípio budista e depois faz atividades relacionadas. Por exemplo: quando foi contada a história do padeiro sovina que aprendeu a dividir o pão, as crianças da Ciranda fizeram diversos pães.
No final, há meditação e recitação de mantras.Coisa rápida, que as crianças adoram. Usamos algum instrumento de apoio, como um sino, para ajudar no foco da meditação, explica o lama Norbu. No budismo tibetano, a meditação é feita por meio de um mantra ou verso indicado para cada pessoa. Tradicionalmente, as crianças não recebem treinamento para a meditação antes dos 11 anos, mas, com orientação adequada, práticas simples de meditação podem ser introduzidas para crianças menores.
A idade ideal para começar a prática não é consenso entre os iniciados. Um conceito muito utilizado é o de que a criança está pronta para meditar quando consegue acompanhar uma história, prestando atenção algo como assistir a O Rei Leão até o fim. Minhas crianças começaram com 4 anos, diz Susan Kramer, norte-americana que começou a trabalhar essa meditação em 1965 e é autora de livros sobre o assunto, nenhum deles traduzido no Brasil. Ela diz que basta colocar a criança deitada de costas, relaxada como uma boneca de pano, para iniciar uma meditação guiada. Contar a inspiração e a expiração duas vezes já é um começo.
Márcia de Luca acredita que a meditação pode ser introduzida por volta dos 8 anos. O método de Márcia é o difundido pelo guru indiano Deepak Chopra, no qual se repete o que ele chama de som primordial individual, escolhido a partir da hora e do local de nascimento de cada pessoa.
Mais importante que descobrir quando começar é perceber quando se deve parar. Se a criança não se interessa pela meditação, não vale a pena obrigar ou se chatear. Ela pode se interessar pelo assunto mais tarde. Ou não. Só não pode achar que a prática é uma obrigação a mais no dia-a-dia. Isso iria contra todos os possíveis benefícios da meditação.

PARA SABER MAIS
LIVROS
Meditação para Crianças, Deborah Rozman, Editora Ground NA INTERNET
www.odsalling.org - site do templo de budismo Odsal Ling
Child Meditation for Children, de Susan Kramer

Mais E-books sobre meditação para crianças disponíveis para download pago no site www.lulu.com.

Praticando o Darma Através da Meditação

Praticando o Darma Através da Meditação




Conteúdo: Temos aqui uma introdução e a breve descrição de um roteiro de prática de meditação e contemplação que começa com a etapa de tranqüilização da mente em meditação formal e vai, através de 23 itens, até a última etapa do nobre caminho óctuplo. A descrição começa com a abrangência e os limites deste tipo de abordagem e o perfil dos praticantes a quem pode ser útil segue pela motivação, pelo significado da felicidade e por sete formas de resumir o que seja "caminho espiritual", passa então para a descrição do roteiro propriamente dito e termina com o exame das experiências de lucidez, liberdade e compaixão ilimitadas.

Utilidade: Para os praticantes entenderem um contexto geral do caminho budista de contemplação e meditação e poderem localizar os desafios que se oferecem adiante e avaliarem as etapas onde restaram falhas - fontes ocultas de obstáculos sutis por vidas e vidas. Este texto oferece também um eixo referencial onde cada um saberá o que fazer prioritariamente.




O Caminho de Contemplação e Meditação

Há várias maneiras de penetrar no Darma. Este processo que descrevemos agora é o que começa com a própria meditação. Ele pertence ao Mahayana, é um método que combina estudo, instrução e meditação, está baseado nos sutras. Não há nenhuma prática de visualização, recitação de mantras, etc. - pelo contrário, é um processo analítico que utiliza a meditação como instrumento. Utilizamos de ponta a ponta todos os processos cognitivos - nenhuma prática ligada a qualquer yidam ou preces, sadhanas, enfim, nenhum elemento do vajrayana. Não utilizamos nenhum elemento construído, é um processo que busca diretamente lucidez sem nenhum elemento intermediário que não a cognição e serenidade.

No vajrayana criamos para depois dissolver, aqui não há visualização de qualquer Yidam, ou terra pura, apenas o nobre e sereno sentar. Através do efeito combinado da meditação silenciosa e do processo analítico, removemos todos os elementos até reconhecermos o aspecto incessante da natureza não-construída.

É um processo de purificação gradual: pela lucidez removemos progressivamente nossa fixação ao que foi construído. Em nenhum momento é necessário ter fé ou qualquer outra crença. Não é um processo intelectual, no qual geramos uma teoria. Também não privilegiamos nenhum estado mental especial, seja ele instrumento do caminho ou não, e progressivamente ultrapassamos os diversos estados mentais, produtos de nosso próprio carma eliminando a fixação. É o caminho de dissolução das fixações ao que é virtual.

Não consideramos nenhum elemento puro ou impuro, esta análise não pertence ao processo, mas reconhecemos incessantemente liberdades que não víamos antes. A palavra essencial é liberdade. Olhamos os processos mentais e emocionais não no sentido de localizar o que é bom ou ruim, mas no sentido de eliminarmos as marcas que produzem limitação em nossa liberdade. Quando removemos os obstáculos a visão se amplia, é apenas isto. Não é que existam elementos bons e ruins de fato. A visão Hinayana funciona de outro modo, o bom e o ruim é que legitimam uma visão de mundo. Porém, na visão Mahayana não temos panoramas que possam fixar visões finais e elementos positivos e negativos. A visão que temos do mundo está determinada por fatores sutis e estes fatores é que de fato nos aprisionam. Focamos, então, diretamente o que aprisiona, não os elementos bons e ruins criados pela visão condicionada operando desde estes fatores sutis.

Quando olhamos um filme, há coisas boas e ruins, mocinhos e bandidos, e nos aliamos automaticamente aos elementos que nos são simpáticos. De dentro do contexto do filme dizemos: "é mais adequado me conectar aos personagens positivos", não quero ligar-me aos assassinos, ladrões, estupradores, etc. Como iríamos nos ligar a eles? Assim é a visão Hinayana, operando segundo este enfoque, a mente raciocina segundo o roteiro do filme, aceita a estória e tenta seguir os valores positivos. Na visão Mahayana percebemos que há uma tela e uma luz que é projetada, então podemos nos livrar do próprio contexto proposto pelo roteiro do filme, reconhecemos que há um roteiro e como a experiência de realidade é criada e passa a dominar nossas emoções e dirigir nossa mente. Vemos que nossa identidade está claramente além daqueles personagens.

Na nossa vida cotidiana é o mesmo. As experiências também obedecem fatores sutis que não reconhecemos. Devido a isto, por vidas infindáveis operamos dentro daqueles padrões submetidos a experiências específicas de mundos "virtuais" particulares. A liberação não é estar num lugar seguro dentro do filme, um lugar limpo e bom, mas ver que o processo do filme é construído, é virtual, não é sólido, e, especialmente, que carrega em si liberdades reais, ainda que ocultas e insuspeitadas aos que se fixam na estória. As liberdades são o foco.

Mais adiante desenvolvemos a capacidade de penetrar livremente no contexto do "filme incessante da vida" para ajudar os seres a reconhecer liberdades reais, ocultas pela limitação de sua experiência convencional.

Essencialmente o que fazemos é atravessar esses diferentes panoramas sem ficar cegos pelas visões que surgem. Nosso objetivo é encontrar a estabilidade e a natureza não-construída que está além das aparências. Podemos brincar com isso em uma metáfora: por maiores que sejam os incêndios e explosões nos filmes, a tela nunca queima. A tela é capaz de sustentar as maiores monstruosidades e permanecer incólume, é impossível atingi-la. Assim é nossa própria natureza básica. Conectados ao filme, temos toda a experiência de transitoriedade e nos sentimos inseguros.

No avanço deste processo de retirada de solidez das aparências internas e externas pela prática de meditação, num determinado ponto o próprio personagem que o vive acaba desaparecendo. Não há como isso não acontecer, o personagem é um processo construído e a experiência de liberdade frente a ele acaba aparecendo. Num certo ponto cessa a experiência de alguém que galga etapas ou que passa por essas experiências.

A palavra "mundo" é apenas mais uma manifestação dessa separatividade. Há um ponto onde todas as perguntas sobre deus, iluminação, espaço, tempo, somem. Quanto mais avançamos nos aspectos sutis desse processo de dissolução, menos as teorias, compreensões e cognições fazem sentido. Essas palavras estão dentro da busca de uma compreensão de "como surgiu o mundo", mas, observe, essa pergunta traz dentro de si mesma a noção de separação. É a pergunta de alguém que observa algo separado de si.

Com o progresso da prática esses elementos eventualmente desaparecem. Na linguagem dos mestres: é como uma névoa que se dissipa, ninguém sabe para onde foi; é como um eco, não há origem para aquele som, mas ele surge. Quando procuramos a origem, não há alguém que tenha produzido o som. O efeito existe, mas não há uma identidade que o produza.

A experiência das vidas anteriores, os carmas acumulados, as experiências de mundo, isso tudo é apenas uma faísca. Surgem e desaparecem. Todas as complicações também são assim. Num momento surge samsara inteiro que dura por éons, mas isso nada mais é que uma faísca atmosférica na eternidade. É como um sonho. Parece denso, pesado, mas quando a pessoa acorda, não tem nenhuma importância. Ali dentro, aquilo é vital, muito importante. É como açúcar na água, não sabemos para onde foi. É como uma frágil gota de orvalho. Também é um halo ao redor do sol - surge não se sabe de onde, e desaparece não se sabe como. Tem uma aparência, mas não tem solidez. É como um rosto visto em uma nuvem. Está lá, podemos achar auspicioso, podemos achar bonito, podemos achar parecido com o pai, com o avô. Podemos acreditar que é uma mensagem, mas é apenas um rosto numa nuvem. Também como um arco-íris - surge magicamente e se dissolve magicamente.

Quando cruzamos por esse ponto, cessa a separatividade e percebemos todas as aparências como experiências de aparências. Vemos que toda a densidade anterior existiu inseparável de nossa ingenuidade. Não é boa nem má, é ingenuidade. Quando esse ponto é cruzado, então todos os elementos se transformam. A impermanência, por exemplo, deixa de ser um infortúnio. Passa a ser evidência da liberdade. Se as coisas fossem permanentes, não haveria mudança, não haveria liberdade. A evidência da não-solidez de todas as coisas é a própria evidência de liberdades ocultas aos olhos ingênuos. Essa é a descrição do caminho Mahayana que utiliza a meditação como processo principal.

(Isto foi falado pelo Lama Padma Samten no Cebb - Caminho do Meio, Viamão, na primavera de 1999, transcrito de forma direta e revisado por Padma Dorje e aprovado pelo próprio lama.)
Visão do Caminho da Meditação

Há três formas de introdução ao Darma pelo caminho da meditação. A primeira diz respeito à motivação, a segunda diz respeito à felicidade, e a terceira diz respeito à descrição do caminho espiritual nos termos utilizados pelos mestres.
Motivação

Para quem esta abordagem é útil? Para os seres em perigo iminente ou sensação de desgraça, ele não funciona. Por exemplo, para alguém que é atropelado, se esvaindo numa estrada, não adianta dizer "sente em meditação" - não vai funcionar. Outras práticas podem ser boas nesse caso, P'howa ou alguma outra, mas essa não vai funcionar. Ou a pessoa está faminta, sem comer a dois dias, e chega a um centro de Darma: "hoje você vai receber instruções Mahayana". Não serve, é claro. Ou uma pessoa que levou um tiro, por exemplo. Elas querem um prato de comida, querem cuidados médicos, nada de meditação para elas. Quando olhamos em volta vemos muitos seres com a experiência de atropelamento, metaforicamente falando. Nós mesmos, entre um atropelamento e outro, entramos aqui. Somos realmente felizardos...

Depois há seres que não estão soterrados sob quatro montanhas, eles não têm sensação de desgraça, apenas propósitos muito definidos. Estão sobre o domínio de um conjunto de idéias que os impede de avançar, todo o tipo de ideologias e fanatismos. Isto inclui seres que estão sobre o domínio de outros. Eventualmente os maridos as esposas, namorados, pais, mães, filhos, as pessoas próximas a nós, estão em situações desse tipo.

Depois há os seres que estão no reino dos deuses. Se o sofrimento impede a prática dos seres sob quatro montanhas que experimentam o inferno, a felicidade dos seres na condição do reino dos deuses também a impossibilita. Tanto a felicidade quanto o sofrimento nos aprisionam, nos tornam insensíveis ao processo de meditação. Curiosamente isso inclui processos internos e externos de felicidade, ou seja, inclui também os estados meditativos equivocados.

Então para o quarto conjunto de seres, aqueles que conscientemente desejam a felicidade de um tipo mais permanente, e que conscientemente desejam se afastar do sofrimento, para esses seres é dirigido o ensinamento.

Na conclusão da explicação sobre a motivação, incluímos a perspectiva Mahayana ampla de querer tudo isso não só para si próprio, mas para todos os seres.

Nessa motivação jamais pensamos em causar mal aos outros ou obter benefício próprio a custa de sofrimento dos outros. A princípio apenas queremos a felicidade para nós e nos afastar do sofrimento, é o primeiro ponto e realmente é muito difícil.
Felicidade

Aprofundando o conceito de felicidade, podemos dividi-lo em dois grupos. A felicidade que está na dependência de fatores transitórios, e a experiência de felicidade estável que está além das construções. O segredo da motivação budista quanto a felicidade é buscar a segunda opção, por razões óbvias. A felicidade transitória obtemos hoje, amanhã se torna sofrimento.

Há um casal se separando, porque acontece? É muito doloroso. Eles se amavam e tinham uma conexão, uma casa bonita, dois filhos, uma porção de coisas funcionando e produzindo felicidade. Na separação, cada uma dessas coisas vira elemento de sofrimento, filhos, amigos, conta bancária. Se ficam com um, se dividem, se ficam com o outro, em todos os casos sofrimento. Tudo que a pessoa tem vira ponto de sofrimento, isso é a roda da vida, a felicidade na dependência de condições. Quando a roda gira, e estamos embaixo, tudo que causava felicidade traz agora sofrimento. Assim vemos inúmeras situações. A pessoa funda uma empresa, tem um sócio, todos fazem aquilo crescer, num certo momento as diferenças causam a separação. O amigo era solidez, agora é apenas inimigo. Se a empresa fica na mão do outro, ele deseja que ela afunde. "Ele está usando minha energia vital, não é justo". Centenas de casos como este.

Assim é a roda da vida. Não é que aconteça só conosco ou só com os outros - não é uma crise pessoal - a roda da vida é simplesmente assim. Quando isso acontece conosco, o melhor que temos a fazer é rir, "de novo a mesma coisa". Se quisermos satanizar o outro, isso não fica muito bem. Por pior que seja, melhor rir. Seria uma ingenuidade raciocinar em termos de contraposição. Por isso dizemos que quando pensamos em felicidade estável em dependência de fatores externos, é ingenuidade. Buscamos aquilo que está além das construções. Com isso cobrimos os dois primeiros itens, motivação e felicidade.
Caminho Espiritual

Aqui sete formas breves de descrever o caminho espiritual:

1. Se alguém pergunta o que é o caminho budista, dizemos que é o Nobre Caminho de Oito Passos. Essa resposta é completa.

2. Se quisermos explicar de outra maneira, podemos dizer que é a remoção dos obstáculos que criam a experiência cíclica. Essa experiência é o que cria o aspecto de solidez do que vemos. No entanto sempre estivemos livres da experiência cíclica, da mesma forma que a tela do cinema está naturalmente livre das explosões que exibe.

3. Podemos colocar isso de forma mais direta, a natureza de nossa mente já é perfeitamente luminosa e livre. Então o caminho budista é o caminho que descortina a natureza de nossa mente como luminosa, leve, livre. É o caminho que nada adiciona, que nada cria, nada treina, e nada estabiliza. Dito assim pode parecer estranho, sempre nos pareceu que estivemos treinando, estabilizando, etc. O que fazemos na verdade é criar uma espécie de "veículo de praticante", e esse veículo vai ser abandonado mais tarde. Com nosso veículo usual ordinário, em geral não atingimos a liberação.

No meio do filme nos tornamos Charles Bronson, então alguém argumenta que você pelo menos tem raivas justas, estando na forma de Charles Bronson. O caso é que não achamos justo sentir nenhum tipo de raiva, mas inevitavelmente acabamos operando dentro daquela lógica. Por essa razão criamos um elemento transitório. Não negamos a coerência daquilo, faz parte de ajudar os outros seres perceber a coerência com que eles agem. Só que é indispensável perceber que essa coerência é construída, que existe uma liberdade adicional. Se negamos a coerência com que os outros estão atuando, a retiramos o chão de seus pés. Por essa razão devemos evitar a visão filosófica. Ela tenta estabelecer uma nova visão, mas isso apenas polariza o processo. O melhor é dizer que o ser está certo mas perceber que existem alternativas. Nossa habilidade é reconhecer a liberdade dos outros.

Esses são os vários corolários do caminho espiritual, várias formas de descrever o processo. "Basta remover as construções sobrepostas, dissolver uma por uma as transitoriedades". Esse processo é dramático, as realidades se sustentam dessa forma.

4. Outra forma de explicar é como o caminho de tranqüilizar a mente. Normalmente ela apenas pula incessantemente de um lugar para outro, interrompendo esse processo de giro ela retoma seu ponto de equilíbrio natural. A mente não é um processo estável, quase sempre está ligada ao processo do galo.

5. Outra forma de explicar o caminho inteiro é dizer que é uma purificação de corpo, fala e mente, até que se tornem corpo vajra, fala vajra e mente vajra. O corpo, fala e mente então manifestam os três corpos da iluminação, nirmanakaya, sambhogakaya e Darmakaya.

6. Garab Dorje, o primeiro guru humano da linhagem nyingma diz, "o caminho inteiro tem três etapas, na primeira etapa ouvimos e geramos a visão, depois meditamos com o poder da visão, e então, tendo liberado os obstáculos agimos de forma livre para benefício de todos os seres." Podemos explicar o caminho budista dessa forma: ouvir, meditar e agir.

7. Outra forma ainda baseia-se em quatro etapas de treinamento da mente que fazemos incessantemente. Pensamos nos ensinamentos, contemplamos nossa vida, ações e objetos mentais sobre o ponto desses ensinamentos, meditamos focando as coisas a partir da natureza não-construída, e finalmente dissolvemos as aparências e nos liberamos da aparência condicionada que as coisas manifestam.

Essas são várias formas de visão do caminho inteiro. Isso completa a terceira parte desse sobrevôo da visão pelo caminho Mahayana.
Roteiro de Prática

A prática em si é aqui proposta em 23 etapas sucessivas. O objetivo deste roteiro é facilitar a visão e a prática do caminho. Outras formas de organização podem ser propostas. A presente abordagem toma a tranqüilização e a lucidez como os instrumentos básicos da busca a liberação da experiência da roda da vida. O método básico é a meditação sentada e a prática na vida cotidiana, de tal modo que progressivamente não haja mais diferença entre a experiência da meditação e as experiências anteriores e posteriores.

As primeiras três são etapas de tranqüilização. O objetivo é desenvolver uma estabilidade que nos permita olhar a realidade, que nos torne menos reativos. Se estivermos muito reativos, muito acelerados, apenas reagimos e não há possibilidade de qualquer sabedoria. Essas etapas são para que saibamos que podemos respirar e estabilizar corpo, fala e mente. Sem isso não há qualquer possibilidade de dirigir o processo, não há como colocar um veículo de sabedoria no nosso caminho. Nesse ponto, e mesmo antes disso, precisamos daquele que vai caminhar, aquele que vai gerar tranqüilidade, aquele que está dominado por uma instabilidade.

Então, na quarta etapa, seguimos um grupo de atividades que vai até a décima primeira etapa, nesse intervalo trabalhamos purificando a motivação. Pensamos, contemplamos, meditamos e repousamos a mente, fazemos isso incessantemente. Com esse processo conseguimos enfim gerar a motivação correta. Acalmamos a mente com as primeiras três etapas, e com essa lucidez podemos avaliar a verdadeira circunstância da nossa experiência cíclica.

A princípio estamos completamente imersos na experiência cíclica, então, usando essa mente mais calma, examinando conscientemente os processos internos com base nessa artificialidade, usamos essa tranqüilidade, ainda que pouca, para examinar profundamente nossa experiência cíclica. Vamos lembrar que existe alguém que nos ajuda nesse processo, que existem ensinamentos, que há seres que passaram por isso, que geraram uma lucidez que se mantém viva geração após geração. Então examinamos que nosso corpo humano é precioso, que dispomos de condições muito favoráveis, sendo que a maior é que o Buda veio, pregou o Darma e os ensinamentos sobreviveram, então nós estamos em condições de praticar esses ensinamentos. O fato de virmos como seres humanos possibilita esse acesso. Esses ensinamentos são raros e quase inexplicáveis, eles são transcendentes mas se manifestam no mundo condicionado, há uma magia nisso. Então reconhecemos que temos condições humanas perfeitas, que podemos acessar isso, e reconhecemos que nossa vida pode ser tocada pelas bênçãos dos Budas. Podemos ter a experiência de uma vida realmente preciosa. Isso diz respeito aos fatores positivos de que dispomos. Em cada um desses casos, ouvimos, pensamos, reconhecemos e examinamos se estamos conscientes disso enquanto agimos no mundo.

Então, na nona etapa, reconhecemos que estamos sobre o domínio da impermanência, que todos esses fatores positivos são transitórios e podem acabar a qualquer momento.

Na décima etapa, reconhecemos que ainda que tenhamos ouvido ensinamentos, ainda que estejamos tranqüilizando a mente, reduzido o fluxo dos pensamentos, ainda que ouçamos ensinamentos freqüentemente, ainda assim o carma nos domina. Estamos a mercê dele, a mercê de impulsos.

Então surge a décima primeira etapa. Ela é a compreensão de que a dependência a fatores produz sofrimento inevitável, a dependência a esses impulsos cármicos inevitavelmente produz um sofrimento, seja esse carma aparentemente positivo ou negativo. A experiência de sofrimento é inevitável. Ela se traduz como vedanas ou como jana-marana, ou ainda como jeti, que são as circunstâncias da vida em que nos sentimos aprisionados. (roda da vida)

Se realmente ouvimos, pensamos, contemplamos nossa vida de acordo com essas etapas, quando chegamos na décima primeira surge uma decisão, que é tomar refúgio na natureza não-construída. Queremos enfim nos afastar de tudo que tenha a ver com a experiência cíclica. Então nos refugiamos no Buda, no Darma e na Sanga. Entendemos o significado disso, ouvimos a respeito longamente, contemplamos, estabilizamos isso, e enfim repousamos novamente. Fazemos isso com cada um dos três refúgios. Conscientes do que isso significa, tomamos essa decisão. Tomamos refúgio na própria natureza não-construída, representada pelo Buda, nos ensinamentos que brotam dessa natureza e geram liberdade com relação às construções.

Os médicos e enfermeiros não rejeitam a doença. Eles desenvolvem meios de superar essa aversão comum. Eles têm apego, não conseguem ver alguém doente que já vão atrás. "Não se mate, não se jogue pela janela". Esse é um ponto muito importante, não nos afastamos do samsara no sentido "vade retro samsara", apenas geramos uma liberdade com relação a este processo. Não é uma aversão. Há uma liberdade, os médicos andam pelo meio da doença. O objetivo é ganhar uma estabilidade que está além das doenças, para ser capaz movimentar-se nesse âmbito sem desconforto.

Então surge todo tipo de especulação, "qual a profecia budista para a nova era? Ser abduzido por extraterrestres?". Na visão budista fazemos o voto de ser o último a ser evacuado. Os outros seres fazem o voto de serem os primeiros. Se enxergam desgraça, fogem. Todos os seres que têm treinamento, têm uma consciência além das desgraças. Os praticantes budistas fazem esse voto, o Dalai Lama disse que enquanto houver espaço, ele retorna para benefício dos seres.

O importante é colocar a motivação correta na compreensão deste tema. A desgraça acontece, não importa se o ano acaba ou se passa um astro destruidor. No mundo atualmente morrem 10 milhões a cada ano. Não precisamos mais desgraça nenhuma. Considerando que cada homem casa em média com 2 mulheres, sempre vai haver alguma desgraça envolvida... Calculem o número de namoradas então, é como luzes que se apagam e acendem num grande painel... Vejam como é vasto o mundo onde os lamas têm que atuar..., 6 bilhões de seres com poucas chances. A situação é gravíssima.

Com estas etapas concluídas as três seguintes estão engatilhadas. Quando chegamos ao ponto de tomar os três refúgios, então naturalmente vamos entender a décima quinta etapa. É importante examinarmos o que nos leva aos impulsos das ações não-virtuosas de mente. Se estão desenraizadas, isso significa que os três refúgios estão completos. As quatro ações de fala também são um controle de qualidade. Se os refúgios foram feitos de fato, essas ações não-virtuosas de corpo, fala e mente não brotam. Até a décima quarta etapa estamos ainda no primeiro passo do Nobre Caminho de Oito Passos ensinado pelo Buda. Para percebermos como esse estudo é vasto, não foram descritos especificamente os seis reinos, os doze elos, os três animais - todos estes elementos estão dentro da décima etapa (onde examinamos o carma).

Então, ao concluirmos a décima sétima etapa, e a quarta do Nobre Caminho de Oito Passos, surge uma coisa extraordinária. O primeiro elemento realmente transcendente. Finalmente eliminamos todos os elementos artificiais de segurança que geramos através da experiência cíclica. As ações não-virtuosas têm sido nosso elemento de segurança - quando as coisas vão mal, ou matamos ou roubamos ou temos má-vontade. São os instrumentos que a temos para nos movimentarmos condicionadamente na experiência cíclica. Quando abdicamos disso, estamos nus, completamente expostos, sem defesas.

Neste ponto ouvimos sobre a fé, sobre a natureza não-construída. Abdicamos de tudo aquilo que está baseado num elemento de vitória e derrota. Estamos como num mato cheio de espinhos com a pele nua, nesse momento nos abrimos para a experiência transcendente do Buda. Vivemos enfim além da experiência cíclica, e nesse momento surge uma estabilidade inexplicável. A serenidade daquilo que é como é, não como um elemento de força. É imune a uma percepção particular, imune a todas as atribulações impermanentes. É como perceber que a tela não explode com as explosões do filme.

Neste ponto estamos sempre em meditação. Nesse momento já temos estabilidade na dissolução das aparências invasivas. Existem elementos externos que fazem parte desse processo. Nessa etapa ainda existe uma fé mesclada com uma liberdade, há uma sensação de abandono e fragilidade. É como a certeza de um ser muito frágil que olha no olho do outro muito maior, e não sabe como, mas não tem medo de ser amassado. Se for, não tem importância, o ser não é mais forte que a verdade que anima aquele pequeno ser. A pessoa simplesmente não recua, não penetra nas 10 ações não-virtuosas. Porém sua fé não elimina a sensação de ser destruída, ainda há um vínculo com uma existência individual. O ser é uma espécie de santo irado e exaltado. Exaltação é uma boa palavra, os terapeutas olhariam e mandariam tomar algum remédio... A pessoa não olha para o tamanho do problema, ela tem uma firmeza inabalável.

Um exemplo que me ocorre é do zen budismo. Não pensem que só os mosteiros de hoje tem problemas. Certa vez uma monja muito linda num mosteiro no Japão, não sei bem como, mas era um mosteiro misto, despertou os ventos de um dos monges. Sabe-se lá o que ele falou para ela. Ele vivia insistindo, e a monja completamente serena. Um dia ela entra nua, numa sala cheia de monges meditando, e diz para o tal rapaz "aqui você tem o que pediu."

É uma certeza que cruza qualquer barreira. Ela ainda tinha uma consciência individual, uma sensação de ganho ou perda, mas o outro não pode fazer nada, porque não há medo de qualquer tipo. Mas a sensação de vitória está presente, a décima oitava etapa é uma confiança ilimitada. Essa confiança é o que enfim permite a experiência de uma existência além das identidades, além de ganhos e perdas.

Como poderíamos acessar essa região? Nas etapas subseqüentes ela se purifica, mas a princípio nos perguntamos o que nos permite a experiência de estar vivos, o que nos dá a sensação de vida. Isso não está na dependência de uma identidade. Quando percebemos isso, dizemos "sempre foi assim, nunca foi diferente". E essa é uma característica da liberação. Temos a sensação de que sempre foi assim. É diferente de uma experiência de construção. "Nunca tinha sido assim, que loucura, ufa, até que enfim, que alívio agora", quando dizemos isso, é uma garantia de que estamos num estado particular, não na liberação. Se for algo que se consegue, eventualmente vamos perder. A liberação não é assim. Quando dizemos "ah! Sempre tive isso e nunca tinha visto", então sim talvez seja uma experiência verdadeira.

Enfim descobrimos que compaixão, amor, alegria, equanimidade, são qualidades transcendentes. São qualidades que se manifestam transcendendo a identidade. Isso só é possível porque há dezoito etapas anteriores, subdivididas. Essas quatro qualidades são como refulgências da natureza não-construída.

Quando as quatro qualidades incomensuráveis surgem, o aspecto mais importante é que são transcendentes, correspondem ao décimo nono item deste roteiro de meditação. São qualidades que não podem ser praticadas dentro de uma identidade, por isso elas se manifestam dessa forma.

Recapitulando, estamos no quinto passo do Nobre Caminho. O primeiro vai até o terceiro item, o segundo vai até o décimo primeiro item, o terceiro até o décimo quarto, o quarto até o décimo sétimo, o quinto até o vigésimo item deste roteiro.

A vigésima etapa trata de seis caminhos transcendentes. São práticas que só são possíveis enquanto não são praticadas por um alguém. Estão de fato além de alguém e outro, por isso chamam-se "paramitas", elas nos levam em direção à margem da liberação. Se uma identidade, ainda que mínima, está na prática dessas virtudes, elas não poderiam ser chamadas "paramitas". As qualidades incomensuráveis, como a compaixão, por exemplo, já são uma manifestação além das identidades. A existência delas é maior do que uma identidade, e assim também é com as paramitas. Não é que o Buda beneficie os seres, ele não vê separação entre ele e os seres, a mente dele não é local.

A experiência maior não aconteceu ainda. Ainda há alguma solidez nesse processo. Então surge a vigésima primeira etapa, o Buda senta sob a árvore, e essa estabilidade não é apenas de corpo, é relacionada com o "corpo ampliado", digamos assim. Em nossa experiência ordinária de corpo, sentimos algo que nos cutuca e nossa mente opera, estamos centrados nessa experiência. Esse é o limite da mente que opera através dos sentidos.

Livres dos sentidos, podemos adivinhar coisas para frente e para trás no tempo. Essa é a característica da liberação. Sempre tivemos essa característica. Pensamos "minha filha está em casa, já é tarde, amanhã tem prova". Nenhuma dessas conclusões pertence a natureza dos sentidos, a aula de amanhã não é um som especial que ouvimos. Mas há um sentido de plasticidade, no que seria o tempo e o espaço. Descobrimos que, de acordo com esse movimento aparente, temos emoções, nos sentimos vivos, temos propósitos, urgências. Isso não é local, nem depende de fatores locais, não é geograficamente condicionado.

O que pacificamos e estabilizamos já não é somente esse corpo biológico que vemos aqui. Podemos usufruir da experiência não construída em cada elemento construído. Primeiro reconhecemos a consistência dele como inseparável de nós, o aspecto do próprio objeto como inseparável de nós. Normalmente atribuímos significados automáticos quando permitimos o surgimento dos objetos. E, contemplando assim, penetramos nessa 22a etapa, o último bloco, na operação mental que surge junto com a percepção e reconhecimento das aparências.

Entramos nessa prática para perceber como se processam os processos de cognição. Temos 44 formas de atribuições de significados. Essa etapa está descrita no "Sutra do Coração". Aqui furamos o véu de Maya. Enfim entendemos o Buda quando ele diz "ao abrir os olhos os seres fitam a névoa". Isto fica claro. Há várias etapas dentro desse processo: rejeição da névoa, transcendência da névoa ou pacificação da névoa. Em determinada etapa consideramos isso a prisão, depois algo de que podemos nos livrar, depois pacificamos reconhecendo-a como inseparável da natureza ilimitada, contemplamos com um sorriso o processo todo. Isso nos habilita a quarta forma de lidar com a névoa: retornar a ela para benefício dos seres. Vemos que isso é um processo que sempre esteve presente, quando as "fichas caem", a gente vê que isso sempre foi assim.

Na vigésima terceira etapa temos o samma-samadhi, uma experiência de absorção na natureza ilimitada, livre de quaisquer construções. É como se fosse a serenidade absoluta da natureza não construída. Com relação a isso existe uma completa liberação da individualidade, não há nenhum "eu" envolvido. Isso é particular, o samsara cessou, quando Buda levanta ele volta aos olhos que reconhece a natureza livre dos seres. É a liberação do carma. Na vigésima Segunda, há uma discriminação completamente livre. O Buda passeia por todos os mundos, vê os bodisatvas, ele se reconhece inseparável, instantaneamente conectado com todos eles. Entendemos então quando o Buda descreve que "todos os fenômenos manifestam o som do Darma". Essa é a vigésima segunda etapa. Em samma-samadhi o Buda não está mais num mundo olhando além das aparências, ele cessa a experiência dos mundos. Mas ainda assim, mesmo sem perder a liberdade, ele retorna para benefício dos seres.

Samma-samadhi é o nome técnico do oitavo passo do Nobre Caminho, que corresponde à iluminação, a vigésimo terceiro item deste roteiro, é Darmakaya. Os Budas com essa visão ilimitada manifestam-se nos vários mundos particulares. A partir de Darmakaya incessantemente surgem os corpos da iluminação. Na vigésima terceira etapa ele não vê os seres de forma separativa. Então ele emana os corpos inseparáveis da iluminação. Não gera Sambhogakaya porque há uma "perda de qualidade", isso se dá porque nesse momento a forma é pura. Os Budas estão fora da roda da vida, eles não estão jogando nenhum jogo, ainda que suas formas surjam. A forma normalmente gera impulsos, ao estilo da cobra e do galo, e então temos consciências separadas de todas as coisas. Essas são as três experiências correspondentes à roda da vida. Os Budas estão livres dos três animais.

De fato a própria experiência da "mente" cessa na vigésima segunda etapa, ela normalmente opera inseparável do galo, exige uma operação conjunta com a percepção condicionada automática. A natureza mais sutil do galo é a percepção. Quando vemos A, B surge ao lado. Quando vemos qualquer objeto, dizemos "eu gosto daquela cor", e, do processo de percepção brotam os ventos correspondentes. Na vigésima terceira não há mais nenhum, para que ele exista é necessário algum tipo de apego. O processo separativo em si já cessou a mais tempo, desde a décima oitava etapa. Mas ainda resta um apego aos objetos. Quando ele é elucidado, há um processo automático de revelação de significados. A mente, aquilo que opera até a décima oitava etapa, aqui entra na etapa de dissolução.

A iluminação é a nossa condição natural, se é da mente, então temos que usar a palavra "mente" num outro sentido. Mas a natureza última existe, do contrário criamos uma outra dualidade. A mente é uma expressão da natureza última, mas essa experiência convencional de mente que nós temos inevitavelmente vai cessar. Essa experiência está na dependência de um personagem que joga um jogo. Dentro da compaixão a mente ainda opera, mas há um ponto em que ela não mais vai operar mas segue a natureza ilimitada que gera os inúmeros mundos. O Buda manifestou-se através disso. Ele se utilizou de um corpo. Quando a morte chega ele diz "eu não vim e eu não vou". Todo mundo entende um Buda que veio, ele diz "vim para um mundo de sonho pregar um Darma de sonho para seres de sonho". Ele sempre possuiu a percepção ilimitada, ele sempre foi Darmakaya. Mas os seres mantém uma noção geográfica, ele nasceu ali e fez tais e tais coisas, e as pessoas só conseguem ver dessa forma, o que, em si mesmo é um milagre, ele ter surgido historicamente!

Aquilo que pensa, esquadrinha, precisa de elementos sólidos. Quando eles não surgem mais, resta a mente ilimitada. Essa natureza é poderosa no sentido de que pode gerar os próprios processos limitados, a natureza de Darmakaya é liberdade.

É bonito ver como de descreve o surge o corpo humano no ensinamentos vajrayana, no princípio ele é auto-gerado, ele se desloca através das montanhas, ele é além da geografia. Ele é o aspecto mais sutil da nossa identidade, e ela é auto-surgida, é translúcida. Ela se desloca, e depois vai agregando elementos que vão solidificando esse processo, e camada por camada surge essa aparência que temos agora. Quando de Darmakaya começam a surgir as formas, elas não se estabelecem com ossos e células, mas quando olhamos isso mais de perto, vemos que ela nunca se dissolveu para dar lugar a carne e ossos, ela é ainda etérea hoje. Então podemos perceber essa característica: segue operando e segue se estruturando. Da mesma maneira que um casamento se estrutura, com um carro, uma casa, um papel, famílias que se entrelaçam, isso cria uma solidez. Tudo começou quando um olhou para o outro no banco escolar. Se na semana seguinte ela tivesse adoecido e não tivesse aparecido na aula, não haveria casamento.

Quando recitamos "gate gate paragate parasamgate bodhi soha", estamos expressando a ultrapassagem do véu. Sem ultrapassar o véu não há como. Ele representa o "Sutra do Coração", que libera isso tudo. Sem isso o processo segue, a mente pode ser mais ampla, mas ela é a mente, "gate gate" corresponde ao cruzar o rio, por isso ele é considerado o maha-mantra, o mantra que não tem nenhuma construção. Por isso os bodisatvas-mahasatvas não tem medo, eles repousam além das construções. O "Sutra do Coração" é assim chamado porque é o cerne da sabedoria transcendental revelado através dos 44 itens de contemplação apontados no sutra. Vemos lá que "forma é vazio, vazio é forma, forma nada mais é do que vazio", e assim por diante com morte, iluminação, um por um desses itens. Cada um deles tem 4 aspectos que tem que ser reconhecidos, então multiplicamos e temos 176 pontos de contemplação. Vendo isso entendemos porque Asanga ficou doze anos em retiro, porque Bodidarma ficou 9 anos diante de uma parede e porque o próprio Buda praticou por seis anos em reclusão na floresta.








Enquanto "budismo" sugere mais um sistema de crenças, "prática do dharma" sugere um plano de ação. As Quatro Nobres Verdades não são proposições em que se deve acreditar; são desafios à ação.

- Stephen Batchelor (do livro "Budismo sem crenças")