31 de julho de 2011


Dano auto-infligido


[...] Quando vemos uma pessoa como cem por cento desagradável, sem nenhum atributo, sentimo-nos justificados em nosso desprezo. Quando sentimos aversão, tendemos a organizar o quadro como uma grande caricatura. Mas ninguém é uma caricatura. Para dissolver isso, preste mais atenção. Deve haver algo mais acontecendo.
Um inimigo é alguém que nos causou dano ou a alguém a quem consideramos, intencionalmente ou não, por meio de trapaças, abusos ou fraudes. Se a sua resposta for o ódio, o inimigo venceu. O inimigo deseja causar dano, e se a nossa resposta for contorcer nosso coração pela raiva, o efeito da ação do inimigo encontrou eco.
A pessoa que deseja nos causar dano deve ficar satisfeita ao nos atingir com o primeiro soco da sua agressão, e dobrará o resultado com o ressentimento infligido por nós. Na longa corrida, nossa própria raiva e ressentimento nos causarão um sofrimento maior do que qualquer dano infligido por outra pessoa. Quando nossa resposta é o ódio, nosso inimigo acertou em cheio. Por outro lado, podemos interromper o jogo dizendo: “Você me ofereceu de presente seu ódio, mas eu escolhi não aceitar.” Isso é possível.

23 de julho de 2011

As Sementes de Mostarda

As Sementes de Mostarda


buda-discipula


As Sementes de Mostarda
Uma viúva, chorando, foi visitar Buda. Seu único filho havia morrido. Buda sorriu e lhe disse:

- Vá até a cidade e peça sementes de mostarda, mas deve ser em casas onde ninguém tenha perdido nenhum ente querido.

A mulher rapidamente foi até a cidade e começou a bater nas portas. Em todas as casas lhe diziam: "Podemos lhe dar quantas sementes quiser, mas a condição não será cumprida, porque muitos parentes morreram nesta casa". Mas ela não desistia. "Deve haver alguma casa onde a morte não seja conhecida", pensou.

Ao entardecer, exausta de tanto caminhar e bater nas portas, compreendeu que "a morte é parte da vida. Não é pessoal. Não é uma calamidade pessoal que só tenha acontecido comigo".

Com esse entendimento, voltou a Buda. Ele lhe perguntou: - Onde estão as sementes? Ela sorriu e caiu aos seus pés. - Inicie-me. Quero conhecer aquilo que nunca morre. Não peço para recuperar meu filho, porque mesmo que pudesse recuperá-lo, ele morreria novamente. Ensine-me como encontrar dentro de mim mesma isso que nunca morre.

Disponível em:
http://www.yogabrasil.org/contos-indianos/523-as-sementes-de-mostarda-.html

O que fazer quando alguém morre,por Chagdud Khadro

Fonte: Chagdud Gonpa Brasil

O que fazer quando alguém morre

Chagdud Khadro

Estabeleça o refúgio e a boditchita

Quando um ser humano ou animal morre em nossa presença, devemos deixar de lado o choque, o pesar e outras emoções ou atividades que nos distraiam e pensar: “Este momento após a morte é uma oportunidade de liberação. Agora, vou oferecer o meu apoio nesta transição.” Devemos ter confiança nas bênçãos da nossa linhagem espiritual, na nossa compaixão, nos meios hábeis da nossa meditação e no carma positivo do falecido. O próprio fato de estarmos presentes em tal momento indica uma interdependência cármica. Assim, buscamos refúgio e invocamos o poder de nossa intenção e treinamento espirituais.

Bata de leve no alto da cabeça

Se possível, bata de leve no chacra da coroa do falecido para direcionar a consciência sutil para cima. Evite tocar em outras áreas do corpo, especialmente nas solas dos pés, para evitar um movimento desfavorável da consciência para baixo. Contudo, se você não puder evitar que outros manipulem o corpo, não perca tempo com discussões. Ao invés disso, ponha em prática o seu método com atenção total.

Sussurre no ouvido

A audição é o último dos sentidos a parar de funcionar, por isso é útil sussurrar no ouvido do falecido: “Agora que você respirou pela última vez, direcione a sua mente para a natureza absoluta de sabedoria e compaixão.” Também é benéfico sussurrar mantras, especialmente o mantra de Amitaba ou o mantra darani longo de Akshobia, logo após o último suspiro. Se a pessoa não for budista, talvez seja preferível fazer uma recitação mental, silenciosa.

Powa e a meditação de Tara Vermelha para os mortos

Se você tiver feito o treinamento do Powa dos Três Reconhecimentos de Amitaba, deve iniciar a prática de transferência o mais cedo possível. Assim como a recitação de mantra, a prática de Powa pode ser feita baixinho ou em silêncio, ou, se for apropriado, até em um outro quarto.
Também é muito eficaz fazer a meditação de Tara Vermelha para os falecidos, incluída na prática concisa de Tara Vermelha. Essa prática, escrita por S.Ema. Chagdud Tulku Rinpoche, é uma prática de transferência no sentido de que através dela fundimos a consciência do falecido com a mente iluminada de Tara, que tem presente, acima de sua cabeça, Amitaba, o senhor da família Lótus. Contudo, para fazer essa prática é preciso ter a iniciação de Tara Vermelha.

Outras preces e meditações para o momento da morte

Muitas sadanas longas contêm preces especiais para a transição do momento da morte que não requerem iniciação. No final da sadana de Powa, há uma prece a Amitaba; no final da Chuva de Bênçãos, há a “Ieshe Sanglam” a Guru Rinpoche. Será muito útil memorizar ou ter sempre consigo tais preces, pois não há como prever quando precisaremos delas.
As preces ao guru e à deidade meditacional apóiam a transição do falecido ao rodeá-lo com um ambiente de fenômenos puros. A dedicação do mérito gerado pela prática cria ainda mais benefícios.

Avisar os lamas, as sangas e outros praticantes

No momento da morte podemos delegar a tarefa de avisar os mentores espirituais, amigos ou parentes, para que possamos nos concentrar na prática. O momento da morte pode provocar muita atividade, e nós, como praticantes, precisamos nos focar nas prioridades e oferecer aquilo que possa trazer maior benefício.
Se você pedir a alguém que avise os lamas, as sangas e os praticantes em retiro, deve em seguida mandar emails com o nome da pessoa, a relação dela com você, a idade, o local e as circunstâncias da morte dela. É apropriado fazer oferendas em nome do falecido e patrocinar lamparinas e cerimônias especiais. As sangas colocarão o nome do falecido em suas listas de preces, e este nome será lido quando fizerem a prática de Tara.

Nunca é tarde…

Algumas práticas como a de Powa e as cerimônias tradicionais de 49 dias para os mortos devem ser realizadas dentro de um determinado período. Outras práticas, porém, podem ser feitas contanto que nos lembremos do falecido. Entre estas estão a prática de Akshobia , a oferenda de sur, o patrocínio de tsogs em nome do falecido, contribuições em nome dele para instituições que desenvolvam projetos humanitários ou espirituais e o salvamento da vida de animais que de outra forma morreriam logo. O mérito de nossas oferendas beneficia os falecidos onde quer que tenham renascido. Se tiverem despertado para o estado búdico, o mérito consuma a intenção deles.

21 de julho de 2011

Tomar as rédeas - recebido via e-mail

Blog Samsara - Tomar as rédeas


Posted: 20 Jul 2011 02:18 PM PDT

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Tomar as rédeas é a chave para a felicidade.
O estado mental de um praticante budista deve ser estável, e não deve estar sujeito a muitos eventos conflitantes. Tal pessoa irá sentir tanto alegria quanto dor, mas nenhuma será fraca ou intensa demais. Estabilidade é desenvolvida através da disciplina. O coração e a mente se tornam mais cheios de energia, mais decididos e, assim, menos vulneráveis a eventos externos.
Nas profundezas do ser humano reside a sabedoria que pode sustentá-lo diante de situações negativas. Desse modo, eventos não mais o carregam, porque ele controla as rédeas.
De modo parecido, quando algo bom acontece, também é possível tomar as rédeas. Tomar as rédeas é a chave para a felicidade. No Tibete, temos um ditado: “Se você está fora de si de tão alegre, as lágrimas não estão longe”. Isso mostra quão relativas são o que chamamos de alegria e dor.
XIV Dalai Lama (Tibete, 6 de julho de 1935 ~ hoje)
“The Dalai Lama’s Little Book of Inner Peace”
(Dharma Quote of The Week – Snow Lion, 17/12/2010)
Eventos:

Textos relacionados:
  1. Tomar refúgio de verdade
  2. Tomar o futuro em nossas mãos
  3. Tomar refúgio
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Prece de Aspiração por Dzongsar Khyentse Rinpoche

(fonte desta imagem:http://www.chronicleproject.com/stories_241.html)

Prece de Aspiração
por DKR.
2011


Nós e muitos outros iremos entrar no excelente caminho do  Buddhadharma,
Não cairemos no abismo do samsara,
Não renasceremos na selva do desejo e da raiva,
Não seremos queimados no inferno da visão errônea,
Jamais ouviremos o rugir das bestas da inveja e do ciúme,
Jamais seremos atingidos pela flecha envenenada da emoção,
Não seremos separados dos amigos virtuosos.
A partir de agora até a iluminação seremos sempre nutridos pelo alimento da não-distração,
E quando nós realmente chegarmos ao fim das nossas vidas,
Com este mérito, vamos seguir todos os seres sublimes do passado, seguir os seus passos, e renascer no campo dos Budas
Para isso pedimos a todos os Budas do passado para vir e receber-nos,
Imploramos a todas as deidades que nos dêem suporte,
Imploramos a todos os bodhisattvas a ser o nosso amparo,
Imploramos a todos os dakinis para nos encorajar,
E dedicamos este mérito, para que possamos ser a causa da iluminação de todos.



We and many others will enter into the quintessential path of the Buddhadharma,
We will not fall into the abyss of samsara,
We will not be reborn in the jungle of desire and anger,
We will not be burnt in the hell of wrong view,
We will never hear the roaring beasts of envy and jealousy,
We will never be struck by the poisonous arrow of emotion,
We will not be separated from virtuous friends.
From now until enlightenment we will always be nurtured by the sustenance of nondistraction,
And when we actually come to the end of our lives,
With this merit we will follow all the sublime beings of the past, follow in their footsteps, and be reborn in the Buddhafield.
For this we beseech all the past Buddhas to come and receive us,
We beseech all the deities to support us,
We beseech all the bodhisattvas to be our railing,
We beseech all the dakinis to encourage us,
And we dedicate this merit so that we will be the cause for enlightenment of all. 

MANTRAS SÃO VETORES DE PODER


LOTUS OM MANI PADME HUM

No Tibete, a tradição budista admite que a recitação dos mantras traz efeitos benéficos, essas palavras podem agir sobre a mente.

As palavras vibram através do som pronunciado, elas são os vetores de um poder muito grande.  É um sinal claro de seu poder, que é exercido em vários domínios, como se pode constatar facilmente.

Além disso, todo mundo sabe a importância que as palavras desempenham em nossos estudos, dos quais são um veículo indispensável. Um provérbio tibetano salienta muito bem a força da palavra:

As palavras não tem nem pontas, nem corte,
Mas podem ferir o coração de um homem.

Os tantras ensinam que o corpo do ser humano é inervado por uma rede de 72 mil canais sutis (sânsc. nadis), cujas extremidades acredita-se terem a forma de letras, mais particularmente das dezesseis vogais e das trinta consoantes do alfabeto sânscrito. Os ventos (sânsc.prana) que circulam nos canais são influenciados por essas formas, o que explica o fato de os humanos possuírem a faculdade de produzir uma grande variedade de sons, cuja combinação proporciona a riqueza da língua. A estrutura da rede dos canais sutis parece muito menos elaborada dos animais; é por isso que só dispõe de pouquíssimos sons para se comunicarem.

Um sexto elemento
Contudo, a configuração dos canais sutis não basta para conferir a possibilidade de se exprimir de maneira complexa. O corpo e a mente são, com efeito, compostos por cinco elementos: a terra, o fogo, o ar e o espaço. Os humanos possuem, um sexto elemento que falta aos animais: o elemento consciência primordial (sânsc. jnana).
Por causa desse elemento, o corpo humano é chamado "corpo vajra sêxtuplo". A consciência primordial permite, de um lado, exprimir-se com ajuda de um vocábulo muito amplo e, de outro lado, compreender o sentido do que nos é dito. Ela permite também a reflexão, a informação e o conhecimento.

Os mantras constituem um aspecto da linguagem cuja criação requer capacidades particulares. Tomemos alguém que tenha atingido um nível já bastante superior em relação à humanidade comum: a primeira terra de bodhisattva. Ele possui doze poderes cêntuplos: a capacidade de conhecer os acontecimentos de cem vidas passadas e de cem vidas futuras, de ir a cem campos puros simultaneamente, de escutar simultaneamente o ensinamento de cem buddhas, de permanecer ao mesmo tempo em cem estados meditativos, etc. Entretanto, mesmo um tal ser não pode criar um mantra.

À medida que um bodhisattva percorre a seqüência das dez terras, a potência de seus doze poderes é multiplicada por dez. Chegando à sétima terra, ele fica, além disso, totalmente livre do véu das emoções conflituosas. Mas, a faculdade de compor um mantra ainda lhe é vedada.

Na oitava terra, é produzida uma nova etapa na progressão do bodhisattva que confere à sua mente dez domínios: sobre a duração da vida, sobre os estados de absorção meditativa, etc., e principalmente, sobre o sentido das palavras, tanto que, a partir desse nível, a composição dos mantras torna-se possível.

Na décima terra, graças à "meditação semelhante ao vajra", o bodhisattva atinge a realização última, o estado de Buddha. Um Buddha que possui a onisciência tem, por definição, a faculdade de criar todas as categorias de mantras.

É apenas no nível das três últimas terras de bodhisattva, as "três terras puras", e do estado de Buddha, que a visão de todos os elementos que compõem o samsara e o nirvana é suficientemente vasta para que as implicações dos sons e das palavras sejam perfeitamente compreendidas, o que autoriza a enunciação de um mantra.

Os mantras assim criados veiculam o poder de purificar a mente e tornar evidente sua verdadeira natureza. Portanto, sua função é extremamente benéfica.

Tomemos como exemplo o mantra de Avalokita (Chenrezi), dito "mantra de seis sílabas", Om Mani Peme Hung. Atribui-se a cada uma das sílabas os seguintes poderes:

elas fecham a porta dos renascimentos
nas seis classes de seres do samsara;

elas eliminam as seis emoções conflituosas de base:
elas permitem realizar as seis sabedorias;
elas conduzem à prática perfeita das seis paramitas, etc.

Essas qualidades extraordinárias do mantra de seis sílabas foram descritas pelo próprio Buddha, assim como por Guru Padmasambhava.

Os mantras foram enunciados pelos buddhas e pelos bodhisattvas com ajuda das palavras e sons da língua sânscrita, considerada como língua ideal sobre a terra, superior a qualquer outra. Como o som desempenha um papel muito importante no uso dos mantras, os tibetanos nunca os traduziram para sua língua, mas os transcreveram graças a um sistema de transliteração que permite conservar o som sânscrito, utilizando o alfabeto tibetano. Assim, eles preservaram o poder espiritual inerente à sonoridade sânscrita e à enunciação original do mantra. Os efeitos dos mantras são muito vastos e muito poderosos.

kalu.dharmanet.com.br
http://neusarochatelesterapiaholistica.blogspot.com/2010/07/mantras-sao-vetores-de-poder.html

Como construir uma Sangha


Toda vez que vejo uma pessoa desprovida de raízes, eu a considero um fantasma faminto. Na mitologia budista, o termo “fantasma faminto” é usado para designar uma alma errante, extremamente sedenta e esfomeada, mas cuja garganta é por demais estreita para que a comida ou a bebida possam passar. Durante a lua cheia do sétimo mês lunar, no Vietnã, oferecemos comida e bebida aos fantasmas famintos. Sabemos que é difícil para eles aceitarem nossas dádivas, de forma que entoamos um Mantra para Alargar a Garganta dos Fantasmas Famintos. Existem tantos fantasmas famintos, e nossas casas são tão pequenas, que temos que fazer essas oferendas no jardim.
Os fantasmas famintos anseiam por serem amados, mas por mais que os amemos e cuidemos deles, eles não tem capacidade de receber o nosso afeto. Eles podem, em princípio, entender que existe beleza na vida, mas são incapazes de entrar em contato com ela. Parece que algo se interpõe em seu caminho, impedindo-os de entrar em contato com esses fatores vivificantes e curativos da vida. Eles só querem esquecer de que existe vida, de forma que se voltam para o álcool, para as drogas ou para o sexo, a fim de que estes os ajudem a esquecer. Se dissermos: “Não façam isso”, eles não ligarão a mínima. Já ouviram bastantes advertências. Eles precisam de algo em que acreditar, algo que lhes prove que a vida tem sentido. Todos precisamos de algo em que acreditar. 
Para ajudar um fantasma faminto, temos que ouvi-lo com toda a atenção, proporcionar-lhe uma atmosfera familiar e de irmandade, e então ajudá-lo a encontrar algo bom, belo e verdadeiro em que acreditar.
Uma tarde, em Plum Village, vi uma mulher que parecia exatamente um fantasma faminto. Plum Village, naquela época do ano, era muito linda – as flores desabrochavam e todo mundo sorria – mas ela não via nada. Pude sentir o seu sofrimento e a sua dor. Ela caminhava sozinha e parecia estar morrendo de solidão a cada passo. Viera a Plum Village para estar em companhia de outras pessoas, mas quando chegou não tinha capacidade de ficar na companhia de ninguém.
Nossa sociedade gera milhões de fantasmas famintos, pessoas de todas as idades – já vi alguns com dez anos incompletos – completamente desprovidas de raízes. Nunca foram felizes em casa, e não tem nada em que acreditar e nada a que pertencer. Essa é a principal enfermidade do nosso tempo. Sem ter nada em que acreditar, como sobreviver? Como encontrar energia para sorrir ou para entrar em contato com uma tília ou com um lindo céu? Você está perdido, e vive sem o menor senso de responsabilidade. O álcool e as drogas estão destruindo o seu corpo.

Nosso governo acredita que a forma de lidar com os problemas da droga no país é tentando evitar que sejam contrabandeadas e prendendo os traficantes e os usuários. Mas a disponibilidades das drogas representam um aspecto secundário do problema. 
A causa principal reside na falta de sentido da vida de tanta gente, na ausência de algo em que acreditar.
Se você abusa das drogas e do álcool é porque não está feliz – você não aceita a si mesmo, nem à sua família, nem à sua sociedade, nem à sua tradição e quer renunciar a tudo. 

Temos que descobrir um meio de reconstruir as bases da nossa comunidade e oferecer às pessoas algo em que acreditar. As coisas que lhe foram oferecidas no passado podem, talvez, ter sido muito abstratas e apresentadas de forma por demais coercitiva. Talvez você tenha pensado que a ciência traria bem estar à sociedade, ou que o marxismo traria justiça social, e suas crenças foram estilhaçadas. Mesmo o Deus para o qual você rezava – o mesmo que o presidente Bush invocou para ajudar os Estados Unidos a derrotar o Iraque – era muito pequeno. Muitas das pessoas que representavam suas tradições não vivenciaram, elas mesmas, os valores mais profundos dessas tradições; apenas falavam em nome dessas tradições e tentavam forçar você a acreditar nelas, e você se sentiu afastado.

A consciência é algo em que podemos acreditar. Ela consiste na nossa capacidade de perceber o que está ocorrendo no momento presente. Acreditar na consciência é seguro e de modo algum abstrato. Quando bebemos um copo de água e sabemos que estamos bebendo um copo de água, ali está presente a consciência. Quando sentamos, andamos, levantamos ou respiramos, e sabemos disso, entramos em contato com as sementes da consciência que existem dentro de nós, e depois de alguns dias nossa consciência ficará mais forte. A Consciência é um tipo de luz que nos mostra o caminho. É o Buda vivo dentro de cada um de nós. A consciência faz nascer a compreensão, o despertar, a compaixão e o amor.

Não só os budistas, mas também os cristãos, os judeus, os muçulmanos e os marxistas aceitam que cada um de nós tem a capacidade de ser consciente, que cada um de nós traz dentro de si a semente da consciência. Se soubermos como regar essa semente, ela crescerá, e nós reviveremos, aptos a gozar as maravilhas da vida. Conheço muitas famílias que estiveram a ponto de se romper e cuja harmonia foi restaurada graças à prática da conscientização. Por isso, se você me perguntar no que eu acredito, responderei que acredito na consciência. A fé é o primeiro dos cinco poderes pregados pelo Buda. O segundo é a energia e o terceiro, a consciência; o quarto, a concentração e o quinto, a compreensão. Se você não tiver fé, se não acreditar em nada, não terá energia. É por isso que a fé suscita a energia. 

Um bom amigo é alguém que pode inspirar fé.

Quando tocamos o chão, podemos sentir a estabilidade da Terra. Podemos também sentir a estabilidade do sol, do ar e das árvores – podemos contar que o sol nascerá amanhã e que as árvores estarão diante de nós. Temos que depositar a nossa fé naquilo que é estável. Quando construímos uma casa, erguemo-la sobre um terreno sólido. 

Quando dizemos: “Eu procuro refúgio no sangha”, significa que depositamos nossa fé numa comunidade de companheiros praticantes que é sólida. Um professor, assim como os seus ensinamentos, pode ser importante, mas os amigos constituem o elemento mais importante da prática. É difícil, ou mesmo impossível, praticar sem um sangha.
Quando olhamos profundamente para descobrir o nosso verdadeiro “eu”, constatamos que aquilo que temos chamado de eu é constituído totalmente de elementos que nada têm a ver com o “eu”. Nosso corpo e nossa mente têm suas raízes na sociedade, na natureza e nas pessoas que amamos. Alguns de nós podem não gostar de falar ou de pensar em suas raízes, por terem sofrido muita violência por parte da sua família ou da sua cultura. Queremos deixar essas coisas para trás e buscar algo novo. É fácil compreender porque nos sentimos assim, mas quando nos habituamos a olhar profundamente, descobrimos que nossos antepassados e nossas tradições subsistem em nós. Podemos estar revoltados com eles, mas mesmo assim eles estão presentes, incitando-nos a voltar atrás e entrar em contato com suas dores e suas alegrias. Não temos outra alternativa senão a de entrar em contato com as raízes que estão dentro de nós. A partir do momento em que estabelecemos essa conexão, uma mudança ocorre dentro de nós, e nossas dores começam a se desvanecer. 
Compreendemos que somos um elemento que integra a seqüência de nossos antepassados, e também somos o caminho para as gerações futuras.

Não podemos jogar fora uma coisa e correr atrás de outra. Seja a nossa tradição cristã, judaica, islâmica ou outra qualquer, temos que analisar os caminhos trilhados pelos nossos antepassados e descobrir na tradição os melhores elementos, tanto para nós como para nossos filhos. 

Temos que viver de forma que os nossos ancestrais, que existem dentro de nós, possam se libertar. No momento em que pudermos proporcionar alegria, paz, liberdade e harmonia aos nossos antepassados, proporcionaremos alegria, paz, liberdade e harmonia a nós mesmos, aos nossos filhos e aos filhos de nossos filhos, ao mesmo tempo.

Muitas pessoas sofreram abusos ou maus-tratos por parte de seus pais, e muitas outras foram rejeitadas ou severamente criticadas por eles. Agora, em suas consciências armazenadoras, essas pessoas têm tantas sementes de infelicidade que não querem nem mesmo ouvir o nome do pai ou da mãe. Quando encontro alguém assim, sempre ofereço a meditação da criança de cinco anos, que consiste numa massagem de conscientização.
“Inspirando, vejo-me como uma criança de cinco anos de idade. Expirando, sorrio para esta criança que existe dentro de mim”. Durante a meditação, você procura se ver como uma criança de cinco anos. Se puder olhar em profundidade para essa criança, você verá que é vulnerável e que pode ser ferido facilmente. Um olhar severo ou um grito podem causar formações internas na sua consciência armazenadora. Quando seus pais brigam e gritam entre si, os seus cinco anos de idade recebem muitas sementes de sofrimento. Ouvi jovens dizerem: “O presente mais precioso que meus podem me oferecer é a sua própria felicidade’. Por viver infeliz, seu pai o fez sofrer muito. Agora você está se vendo como uma criança de cinco anos de idade. Quando você sorrir para essa criança que existe dentro de você, sorria com compaixão. “Eu era tão jovem e delicado e fui agraciado com tanta dor”. 

No dia seguinte, eu aconselharia a fazer a seguinte prática: “Inspirando, vejo meu pai como uma criança de cinco anos de idade. Expirando, sorrio para essa criança com compaixão”. Não estamos acostumados a vermos os pais como uma criança de cinco anos. Pensamos neles como tendo sido sempre pessoas adultas, severas e dotadas de grande autoridade. Não dedicamos tempo algum para ver nosso pai como um menino jovem e delicado, que também podia ser facilmente magoado por outras pessoas. De forma que a prática consiste em visualizar o seu pai como um menino de cinco anos – frágil, vulnerável e facilmente ferido. Se ajudar, você pode abrir o álbum de família e estudar a imagem do seu pai quando menino. Quando estiver apto a visualizá-lo como uma criança vulnerável, compreenderá que ele pode ter sido vítima do pai dele, seu avô. Se ele recebeu de seu pai muitas e muitas sementes de sofrimento, é claro que ele não saberá tratar bem o filho. Então ele o fez sofrer, e o círculo do samsara continua. Se você não fizer exercícios de conscientização, fará exatamente o mesmo com seus filhos. A partir do momento em que enxergar o seu pai como uma vítima, a compaixão nascerá no seu coração. Quando sorrir para ele com compaixão, você começará a introduzir na sua dor a conscientização e a compreensão. Se praticar dessa forma durante muitas horas ou muitos dias, a raiva que você sente dele desaparecerá. Um dia, você sorrirá pessoalmente para seu pai e o abraçará, dizendo: “Eu o compreendo, pai. Você sofreu muito durante a sua infância”.

Através da meditação, redescobrimos o valor de nossas famílias e nossas raízes, incluindo aqueles valores soterrados sob anos de sofrimento. Cada tradição guarda algumas pedras preciosas, frutos de milhares de anos de experiência. Agora elas vieram a nós, e não podemos ignorá-las ou negá-las. Mesmo a comida que comemos, encerra em si nossos ancestrais e nossos valores culturais. Como podemos dizer que não temos nada em comum com a nossa cultura? Podemos descobrir maneiras de honrar as nossas tradições, como também outras tradições. A meditação nos ensina o caminho para remover barreiras, limites e discriminações, a fim de distinguir dentro do “eu” os elementos que não o integram. Por meio da prática, podemos remover os perigos da separação e criar um mundo onde nossos filhos possam viver em paz.

As divisões entre pessoas, nações e crenças religiosas muito contribuíram durante séculos para nossa infelicidade. Temos que realizar a nossa prática de modo a libertar essas tensões dentro de nós entre as pessoas, para que possamos nos expandir e nos comprazer uns com os outros, como irmãos e irmãs. Pouco importa a tradição em que você realiza a sua prática. Se você chegar à compreensão da natureza das relações entre os seres, essa é a verdadeira meditação.

Algumas pessoas, alguns fantasmas famintos, tornaram-se tão desenraizados que é realmente impossível para nós pedir-lhes que retornem às suas próprias raízes pelo menos por enquanto. Temos que ajudá-los, oferecendo-lhes uma alternativa, uma segunda oportunidade. Pessoas desse tipo vivem à margem da sociedade, e, como árvores que não tem raízes, não podem absorver o alimento de que necessitam. Encontrei pessoas que meditavam há vinte anos e eram ainda incapazes de se transformar, por serem totalmente desprovidas de raízes. A prática consiste em ajudá-las a conseguir algumas raízes, para encontrar um lugar onde possam se fixar.

Na Ásia fizemos um esforço no sentido de moldar as práticas comunitárias, baseando-as na família. Chamávamos uns aos outros de irmãos no dharma, irmãs no dharma, tios no dharma, tias no dharma, e chamávamos o nosso mestre de pai no dharma ou mãe no dharma. As crianças em Plum Village me chamam de “Mestre Vovô”. Sempre me aproximo delas como um avô, não como alguém estranho à família. 

Um centro de meditação deve proporcionar esse tipo de calor humano, esse tipo de irmandade familiar que continuará a nos alimentar.
Imagens do Centro Budista Shenphen Choling 

No contexto de uma família espiritual, temos uma oportunidade real, uma segunda chance de nos enraizarmos. Os membros do sangha estão cientes de que estamos em busca de amor, e eles no tratam de forma a termos a melhor oportunidade de nos fixar nessa segunda família. 
Dão o melhor de si para cuidar bem de nós, agindo, no que nos diz respeito, como irmãos e irmãs. Depois de três ou seis meses, nasce um sorriso em nossos lábios, quando alguma relação sincera entre nós e outro membro do sangha é vista e reconhecida, pois eles sabem que estamos começando a fazer progresso e que a transformação será possível. Novas raízes estão começando a despontar.

Relações interpessoais constituem a chave para sermos bem sucedidos na prática. Sem uma relação íntima e profunda com pelo menos uma pessoa, é improvável que ocorra essa transformação. Com o amparo de uma pessoa, você tem estabilidade e apoio e, mais tarde, pode chegar a uma terceira pessoa e, finalmente, vir a ser um irmão ou uma irmã para todos no sangha. Você demonstrou vontade e capacidade para viver em paz e harmonia com todos os membros do sangha.

É meu profundo desejo que comunidades praticantes do Ocidente se organizem dessa forma, como famílias, rodeadas de uma atmosfera amistosa, calorosa, a fim de que as pessoas sejam bem sucedidas em sua prática. 
Um sangha onde cada pessoa é como uma ilha que não se comunica com os demais, não ajuda em nada. É apenas uma série de árvores sem raízes. A cura e a transformação não podem acontecer nessa atmosfera. Precisamos estar enraizados se quisermos ter a oportunidade de aprender e praticar a meditação.
A família nuclear é uma invenção bem recente. Além do pai e da mãe, existem apenas um ou dois filhos. Às vezes, numa família tão pequena, não existe ar suficiente para se respirar. Quando surgem problemas entre os pais, toda a família sente os efeitos. A atmosfera da casa é pesada, e não há nenhum lugar para onde fugir. Algumas vezes a criança pode ir ao banheiro e trancar a porta só para ficar sozinha, mas ainda não há saída; a atmosfera pesada invade também o banheiro. Assim, a criança cresce cheia de sementes de sofrimento e depois a transmite a seus filhos.
Antigamente, tios, tias, avós e primos viviam todos juntos. As casas eram rodeadas de árvores, sob cuja sombra podiam pendurar redes e organizar piqueniques, e as pessoas não enfrentavam muitos dos problemas que enfrentam hoje. Quando os pais tinham problemas, as crianças podiam sempre dar uma fugida, indo para junto de um tio ou de uma tia. Elas ainda contavam com alguém que olhasse por elas, de forma que a atmosfera não era tão ameaçadora. Acredito que as comunidades que cultivam a prática de viver conscientemente podem substituir nossas grandes famílias antigas, porque quando chegamos a elas, conhecemos muitos tios, tias e primos que podem nos ajudar. 

Pertencer a uma comunidade em que as pessoas de reúnem como irmãos e irmãs no dharma, e onde as crianças têm muitos tios e tias, é uma coisa maravilhosa. Temos que aprender a criar esse tipo de família. Temos que considerar os outros membros da comunidade como nossos irmãos e irmãs. Isso já é uma tradição no Oriente, e pode ser aprendido no Ocidente. Podemos extrair o melhor das duas culturas.
Aqui no Ocidente, tenho visto muitos pais separados. Pais separados podem também beneficiar-se com a prática de uma comunidade. Eles podem pensar que é necessário tornar a casar para ter mais estabilidade, mas eu não concordo. Você pode ter mais estabilidade agora, sozinho, do que tinha quando estava com um companheiro. Uma outra pessoa que chega à sua vida pode destruir a estabilidade que você tem agora. É mais importante buscar refúgio em si mesmo, reconhecendo a instabilidade que você já tem. Ao fazê-lo, você se torna ainda mais sólido, e transforma a você mesmo num refúgio para seu filho e para seus amigos. 

De forma que, em primeiro lugar, você precisa tornar a você mesmo uma pessoa estável e abrir mão da idéia de que você não pode ser você mesmo, a menos que “aquele alguém” esteja com você. Você é suficiente. Quando você se transforma em um confortável eremitério, dotado de ar, de luz e ordem no seu interior, você começa a sentir paz, alegria e felicidade e a ser alguém em que os outros podem confiar. Seus filhos e todos os seus irmãos e irmãs no dharma podem confiar em você.

Portanto, antes de mais nada, regresse à sua morada solitária e arrume as coisas de dentro para fora. Você pode se beneficiar com a luz solar, com as árvores e com a Terra. Você pode abrir as janelas para que esses elementos saudáveis e estáveis entrem, e para que você se torne uma coisa só com o seu meio circundante. Quando os fatores desestabilizantes tentarem entrar na sua morada, feche as janelas e barre-lhes a entrada. Quando trovoadas, ventos fortes ou um grande calor quiserem se introduzir, não permita que entrem. Ser um refúgio para si mesmo constitui uma prática básica. Não confie em pessoas que você não conhece bem, pessoas que podem ser instáveis. Volte-se para si mesmo e procure refúgio na sua própria morada.

Se você é mãe e está criando seu filho sozinha, tem que aprender a fazê-lo. Você tem também que ser pai; caso contrário, continuará a precisar de alguém para desempenhar o papel de pai para seu filho, e você perderá a sua soberania, perderá a sua morada. Se puder dizer: “Posso aprender a ser mãe e pai para o meu filho. Posso vencer por mim mesma, com a ajuda de meus amigos e de minha comunidade” -, isto é um bom sinal.
O amor do pai é diferente do amor da mãe. O amor materno é de certo modo incondicional. Você é a criança da sua mãe; é por isso que você é amado por ela. Não existe outra razão. Uma mãe procura usar o corpo e a mente para proteger essa parte sensível, vulnerável, de si mesma. Ela tem a tendência de considerar o filho como uma extensão de si mesma, como se fosse ela mesma. Isso é bom, mas pode criar problemas no futuro. Ela tem que compreender, gradualmente, que seu filho ou sua filha é uma pessoa distinta.
O amor paterno é um pouco diferente. O pai parece dizer: “Se você fizer assim, terá o meu amor; se não o fizer, não terá”. É um tipo de acordo. Eu também tenho essa característica. Sou capaz de disciplinar meus discípulos e também tenho a capacidade de amá-los como uma mãe. Sei que não é fácil para uma mãe ser pai, mas se você tiver um bom sangha, e boas relações nesse sangha, outros membros de seu sangha podem vir a ser um tio ou uma tia para seu filho. Numa comunidade que siga a prática, pais sozinhos podem ser auto-suficientes. A pessoa é capaz de desempenhar tanto o papel de mãe como o de pai, e ainda beneficiar-se com a ajuda de outros adultos.
No Ocidente, é grande o número de pais sozinhos. Precisamos de retiros e seminários para discutir a melhor maneira de criar nossos filhos. Não aceitamos a forma antiga de criá-los. Mas, ao mesmo tempo, não desenvolvemos completamente formas modernas de criação. Precisamos nos basear na nossa própria experiência e prática e acrescentar à vida no núcleo familiar. Quando a vida do núcleo familiar se combina com a vida de uma comunidade desse tipo, um sangha pode ter muito sucesso. Você pode trazer os filhos a esse centro de prática muitas vezes, e tanto você como eles sairão beneficiados pela atmosfera lá reinante. O centro também se beneficiará com a sua presença. As crianças são jóias que podem contribuir para a realização da prática. Se estão felizes, todos os pais e não pais apreciarão a prática. 

É uma alegria encontrar-nos no meio de um sangha em que as pessoas estão, juntas, realizando bem a prática. A forma de andar, de comer e de sorrir de cada um pode se converter numa real ajuda para nós. Ela está andando por mim, eu estou sorrindo por ela, e o fazemos juntos, como um sangha. Praticando juntos, assim, podemos esperar que se realize uma verdadeira transformação dentro de nós. Não temos que praticar intensamente ou forçar a nós mesmos. Temos apenas que procurar participar de um bom sangha no qual as pessoas sejam felizes, vivendo intensamente cada momento, e a transformação advirá naturalmente, sem muito esforço.
Penso que a construção de um sangha é a arte mais importante que temos que aprender. Mesmo que sejamos ótimos em meditação e bem versados nos sutras, se não soubermos como construir um sangha, não poderemos ajudar os outros. Temos de construir um sangha que se seja feliz, onde a comunicação seja franca. Temos de cuidar de cada pessoa, atento às suas dores, às suas dificuldades, às suas aspirações, aos seus temores e esperanças, para torná-las mais felizes e descontraídas. Isso requer tempo, energia e concentração.
Imagens do Centro Budista Shenphen Choling 
Todos nós precisamos de um sangha. Se ainda não temos um, deveríamos despender nosso tempo e nossa energia construindo-o. Se você é psicoterapeuta, médico, assistente social ou batalhador pela paz, ou se estiver trabalhando na área ambiental, você precisa de um sangha. Sem um sangha, você não terá amparo suficiente, e em breve perderá as forças. Um psicoterapeuta pode selecionar entre os pacientes aqueles que superaram suas dificuldades, e que o reconhecem como amigo, como irmão, e organizar um grupo de pessoas para atuar como um sangha, para estar juntos, em paz e alegria dentro de uma atmosfera familiar. Você precisa de que irmãos e irmãs participem da prática para serem amparados e apoiados. Um sangha pode ajudá-lo nos momentos difíceis. Sua capacidade de ajudar as pessoas pode ser reconhecida, olhando aqueles que estão ao seu redor.
Tenho encontrado psicoterapeutas que não são felizes com suas famílias, e duvido muito que, se precisarmos deles, eles nos possam ajudar. Propus-lhes que formassem um sangha. Entre os membros desse sangha existem pessoas que tiraram muito proveito e que se recuperaram de sua doença, tornando-se amigas do terapeuta.
O sangha tem por finalidade o encontro e a prática em conjunto – respirando, vivendo conscientemente, com paz, alegria, bondade e amor. Isso representaria para o terapeuta um manancial de amparo e de consolo. Não somente terapeutas e pessoas que se dedicam à meditação têm que aprender a arte de construir um sangha, mas todos nós. Não acredito que você possa ir muito longe sem um sangha. Meu sangha cuida de mim. Qualquer conquista que se testemunhe no sangha não pára e me dá mais força.

Para construir um sangha, comece por encontrar um amigo que goste de fazer meditação com você, sentado ou andando, de recitar os preceitos, de fazer meditação durante o chá ou de conversar a respeito. Outros, provavelmente, gostarão de acompanhá-los, e seu pequeno grupo pode passar a se reunir semanalmente ou mensalmente na casa de alguém. Alguns sanghas conseguem mesmo um pedaço de terra e se mudam para o campo para fundar um centro de retiro. É claro que seu sangha inclui também árvores, pássaros, a almofada de meditação, o sino e mesmo o ar que você respira - todas as coisas que o apóiam na prática. Estar entre pessoas que praticam sinceramente juntas, constitui uma rara oportunidade. O sangha é uma verdadeira jóia.

Imagens do Centro Budista Shenphen Choling 
O objetivo consiste em organizar o sangha de forma a que seja o mais agradável para todos. Você jamais encontrará um sangha perfeito. Um sangha imperfeito já basta. Em vez de se queixar demais do seu sangha, faça o melhor que puder para se transformar num bom elemento do sangha. Aceite o sangha e construa sobre ele. Quando você e sua família se dedicam a fazer as coisas conscientemente, vocês são um sangha. Se houver um parque próximo à sua casa, onde você possa levar seus filhos para caminhar meditando, o parque passa a integrar o seu sangha.
Um sangha representa também uma comunidade de resistência, resistindo à velocidade, à violência, às formas insalubres de vida que prevalecem na nossa sociedade. A conscientização tem por finalidade proteger a nós mesmos e aos outros. Um bom sangha pode conduzir-nos à harmonia e à conscientização.
A substância prática é o mais importante. As formas podem ser adaptadas. Durante um retiro em Plum Village, um padre católico me perguntou: “Thây, compreendo o valor da prática consciente. Experimentei a alegria, a paz e a felicidade que ela oferece. Gosto dos sinos, das meditações durante o chá, do silêncio às refeições e das caminhadas. Minha dúvida é como continuarei a praticar depois que voltar à minha igreja?”
Perguntei-lhe: “Existe um sino na sua igreja?”.
“Sim”, ele me respondeu.
“Você toca esse sino?”.
“Toco”.
“Então, por favor, toque o sino da mesma forma que o tocamos aqui. Na sua igreja, vocês comem juntos? Tomam chá com biscoito?”
“Tomamos”.
“Por favor, faça-o como o fazemos aqui, conscientemente. Não existe nenhum problema”.

Quando vocês voltam às suas tradições, quando voltam ao seu sangha, ou instituem um novo sangha, podem apreciar fazer tudo o que fazem, em plena consciência. Não é necessário apartar-se da sua tradição ou da sua família. Mantenham todas as coisas tais quais são e introduzam a consciência, a paz e a alegria no seu contexto.

  Seus amigos, através de vocês, reconhecerão o valor da prática – não através das palavras, mas através do exemplo de vocês.

Sangha forte

 Monges budistas tibetanos preparam uma mandala - arte religiosa feita de areia colorida - durante uma exposição no Thank You Festival Índia, em Bangalore(Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/091123_album.jhtm#fotoNav=14)

"Um dos benefícios de fazer prática com os membros da Sangha é a multiplicação de méritos produzida pelo esforço em grupo. Por exemplo, se uma pessoa canta cem repetições de mantra, ele ou ela acumulará o mérito de cem recitações. Mas se dez pessoas recitam cem mantras juntos, cada um acumulará o mérito de cantar mil mantras.

Além disso, assim como um esforço conjunto é realizado mais rapidamente e melhor se alguém com as habilidades necessárias estiver envolvido, ou assim como uma carga é carregada com maior facilidade se um membro do grupo for mais forte que os outros, a prática espiritual é melhorada pela presença de praticantes avançados. O Buddha disse que a um a cada quatro membros da Sangha é uma encarnação de um bodhisattva. A motivação pura, a intenção e as qualidades de um bodhisattva aumentam a virtude criada pelos outros praticantes. É por isso que, tradicionalmente, a Sangha pratica junta.

O benefício da atividade da Sangha em grupo surge não apenas de nos sentarmos em almofadas de meditação, mas a partir de tudo o mais que fizermos — enquanto não estivermos auto-focalizados, mas sim cortando completamente o auto-agarramento ao trabalhar pelo benefício dos outros. Imbuindo cada ação com a motivação pura, superamos o auto-objetivo. Nosso compromisso é continuar a praticar deste modo até que todo o samsara seja esvaziado.

Todos nós na Sangha temos a grande fortuna de estarmos sob a proteção das Três Jóias. Temos as iniciações e ensinamentos do Vajrayana e os métodos de prática que revelam a natureza da mente. Nunca devemos considerar a Sangha como um grupo casual de amigos, mas sim manter cada praticante em grande estima. Cada minuto juntos é uma oportunidade preciosa e deve ser uma grande fonte e alegria. Conforme praticamos, treinando e re-treinando o corpo, a fala e a mente, permanecemos muito próximos um dos outros, sem barreiras. Assim, não apenas colhemos os benefícios do suporte da Sangha, mas também contribuímos para esse suporte. Vamos juntos nesta vida e nos nos encontraremos novamente em vidas futuras. Até a iluminação, esta mandala nunca se separará."

Chagdud Tulku Rinpoche

20 de julho de 2011

Verdade

"O que é verdade para o sofrimento também é para a felicidade. 
Não podemos esperar que a felicidade venha de fatores externos, como bens materiais, glória, fama ou poder.
Todos sabemos que as pessoas mais ricas e poderosas são muitas vezes as mais atormentadas.
Então, não é cercando a si mesmo com condições externas aparentemente favoráveis que nós poderemos atingir a serenidade real.
Essa paz e felicidade deve vir de dentro, e nós devemos construí-las e desenvolvê-las.
Uma vez que tenhamos atingido este estado de paz, nada e ninguém poderão tirá-lo novamente de nós."

(Shechen Rabjan Rinpoche. Enlightened Mind.
In: Adarsha, nº 2. Lisboa: Ogyen Kunzang Chöling, 1996


http://www.dharmanet.com.br/vajrayana/bodhichitta.htm

17 de julho de 2011

Dalai Lama no Brasil

Dalai Lama vem ao Brasil Novamente

Por admin | 28 de junho de 2011 - 02
Em: Dalai Lama,
Comentários 1

Tenzin Gyatso, monge budista, doutor em filosofia budista, agraciado com mais de 100 títulos honoris causa, Prêmio Nobel da Paz, condecorado por milhares de instituições do mundo todo, XIV Dalai Lama, há tempos deixou de ser apenas o líder espiritual do povo tibetano. Hoje é uma das personalidades mais reconhecidas e admiradas do cenário mundial, patrimônio vivo da humanidade.
Defensor incansável da não violência como compromisso ético de vida; promotor do diálogo entre as culturas e as religiões; pioneiro na aproximação entre as ciências e a espiritualidade — especialmente no campo das neurociências — Sua Santidade percorre o mundo convidando-nos a refletir sobre a necessidade de cultivar uma convivência harmônica conosco, com os outros e com o macro projeto chamado Vida. Sua mensagem simples e sem rodeios, dirigida ao coração dos fatos, o tornaram um mentor e inspirador de milhares de iniciativas, cujo propósito é fazer da vida uma celebração, onde sabedoria e compaixão se entrelacem formando a tapeçaria de uma sociedade justa, eticamente responsável e solidária.

Fonte: http://www.dalailama.org.br/2011/




Dalai Lama no Brasil: 15 a 17 de setembro

Os ingressos deverão ser retirados na Associação Palas Athena a partir do dia 1 de agosto ou dez dias após a confirmação da compra pelo PagSeguro mediante apresentação do documento do participante.

Para participantes de fora de São Paulo os ingressos serão enviados via correio como carta registrada.
Rua Leôncio de Carvalho, 99 – Paraíso – São Paulo

15 de julho de 2011

Nenhum insulto insuportável


Não deveria haver nenhum insulto ou humilhação grande demais para você suportar. Se você alguma vez sentir que é justificável reagir vingativamente, a consequente troca de palavras cruéis e recriminações certamente iria inflamar e multiplicar a raiva nos dois lados. É assim que as pessoas começam a brigar e a matar uns aos outros. Assassinatos e guerras sempre começam com apenas um pensamento raivoso.

Como diz Shantideva:
Não há mal que se compare à raiva,
Não há austeridade que se compare à paciência.
Então, jamais dê vazão à raiva. Seja paciente; além disso, seja grato a alguém que te humilha, já que essa pessoa está te dando uma oportunidade preciosa para fortalecer sua compreensão e prática da bodhicitta.

O grande Jigme Lingpa disse:
Ser maltratado por inimigos
Catalisa sua meditação;
Críticas insultantes que você não merece
Estimulam sua prática;
Aqueles que te prejudicam são professores
Desafiando seu apego e aversão;
Como você poderia sequer retribuir a gentileza deles?
Dilgo Khyentse Rinpoche (Tibete, 1910 – Butão, 1991)
“The Heart of Compassion”, v. 15

Um bálsamo na queimadura do desejo

Posted: 08 Jul 2011 08:35 AM PDT
O desejo é principalmente um impulso.
Você pode desejar salvar o planeta ou libertar todos os seres sencientes do sofrimento.

Mas quando os desejos se entrelaçam com anseio e apegos intensos, nossa experiência demonstra que eles conduzem ao sofrimento.

O desejo geralmente começa com uma imagem. Se a imagem é sedutora e promete prazer, ela dispara uma reação em cadeia. Há uma sede de atrair ou obter o objeto visto na imagem mental. A partir desse ponto, começamos a sobrepor a realidade, percebendo apenas as qualidades desejáveis do objeto. Rapidamente, todas as consequências e aspectos negativos ficam invisíveis.

Experiências prazerosas com frequência dão vazão a mais anseio, já que a pessoa quer sentir de novo a sensação de prazer. Isso gradualmente estabelece um padrão de desejo. Em algum ponto, o prazer pode minguar mas o desejo ainda persiste. Quando uma pessoa constrói um forte desejo por algo que já não é agradável, aí ela realmente está capturada.

Não podemos esperar alguma solução mágica que vá nos livrar subitamente de todos nossos anseios, já que eles foram construídos ao longo do tempo. Mas um treinamento da mente perseverante pode gradualmente erodir essas fortes tendências.

Uma maneira de fazer isso é interromper a identificação com nosso anseio. Geralmente nos identificamos completamente com nossas emoções. Quando somos dominados pelo desejo, somos unos com esse sentimento — ele fica onipresente em nossa mente. A mente, contudo, sempre é capaz de examinar o que está acontecendo com ela.

Tudo que temos a fazer é observar nossas emoções do mesmo modo como observaríamos um evento à nossa frente.

A parte de nossa mente que está consciente do desejo está simplesmente consciente, não está ansiando.

Podemos recuar um passo, compreender que esse anseio não tem solidez, e permitir um espaço suficiente para ele se dissolver nele mesmo.

Deixemos que nossa mente relaxe na paz do estado consciente e desperto, livre da esperança e do medo, apreciando o frescor do momento presente, que age como um bálsamo na queimadura do desejo.
Matthieu Ricard (França, 1946 ~)
(texto publicado em seu blog)

13 de julho de 2011

Renunciar ao apego, não ao mundo

Dê risadas desta charge:http://www.bustelo.com.ar/index.php/blog/2007/01/15/posicion_del_loto/

       Como um seguidor de Sidarta [Buda], você não precisa imitar cada ação dele — não precisa fugir enquanto sua esposa está dormindo. Muitas pessoas pensam que o budismo é sinônimo de renúncia, deixar a casa, família e emprego para trás para seguir o caminho de um asceta.

Essa imagem de austeridade se deve em parte ao fato de que muitos budistas reverenciam os que mendigam, nos textos e ensinamentos budistas, assim como cristãos admiram São Francisco de Assis. Não podemos deixar de nos comover com a imagem de Buda andando descalço em Magadha com sua tigela de mendigar, ou Milarepa em sua caverna vivendo de sopa de urtigas. A serenidade de um simples monge birmanês aceitando esmolas cativa nossa imaginação.

Mas há também um tipo totalmente diferente de seguidor de Buda: o Rei Ashoka, por exemplo, que desceu de sua carruagem real, adornado com pérolas e ouro, e proclamou seu desejo de disseminar o Buda Dharma pelo mundo. Ele ajoelhou, pegou um punhado de areia, e jurou que construiria tantas estupas quanto havia grãos de areia em sua mão. E, de fato, cumpriu a promessa.

Então, a pessoa pode ser um rei, comerciante, prostituta, viciado ou presidente de empresa e ainda assim aceitar os quatro selos*.

Fundamentalmente, não é o ato de deixar o mundo material para trás que budistas valorizam, mas a habilidade de ver o apego habitual a este mundo e a nós mesmos e renunciar ao apego.
Dzongsar Khyentse Rinpoche (1961 ~)
“What Makes You Not a Buddhist”
(O que faz você ser budista?)

* quatro selos:
Todas as coisas compostas são impermanentes
Todas as emoções são dolorosas
Todas as coisas não têm existência própria
O nirvana está além dos conceitos


Imagem encontrada em:http://revistatpm.uol.com.br/blogs/nosares/2009/12/02/cotidiano.html

11 de julho de 2011

Budismo Tibetano - Lama Lena (Kaytup Yeshe) visita Teresina e dará palestra aberta ao publico

 
 Budismo Tibetano - Lama Lena (Kaytup Yeshe) visita Teresina e dará palestra aberta ao publico 
 
 
Lama Lena Yeshe Kaytup
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No dia 12 de Julho de 2011, Teresina recebe a visita da Lama Budista Lena (Kaytup Yeshe), que concenderá um retiro e fará uma palestra aberta sobre o tema "A natureza da mente através do Dzogchen". 

Maiores informações podem ser obtidas pelos telefones (86) 8811-5873, 9412-9939, 9982-3134 ou sangha_teresina@yahoo.com.br ou no bloghttp://shenphencholing.blogspot.com/


Programação

12 JUL TERÇA-FEIRA - 19:30h às 21:30h
TEMA: A NATUREZA DA MENTE ATRAVÉS DO DZOGCHEN

INVESTIMENTO:  No Budismo Tibetano não se cobra pelos ensinamentos, o que se propõe é uma ajuda financeira para que o professor espiritual mantenha suas atividades, pois vivem de nossa generosidade. No caso de Lama Lena, haverão envelopes disponíveis para que seja feita uma oferenda pessoal à professora.

LOCAL: Centro de Budismo Shenphen Chöling Av. Presidente Kennedy, 5585 - Morros - Teresina - PI 64052-800 Telefone[s]: 9412-9939 -8811-5873 – 9982-3134

Começando em 1972, Lama Lena passou três anos estudando com Lama Thubten Yeshe no seu mosteiro no Nepal e sete anos de retiro e prática em uma pequena caverna acima de TsoPema sob a tutela de seu professor raiz, Ven.Wangdor Rimpoche. Nos últimos 25 anos, ela viajou extensivamente com Wangdor Rimpoche como sua tradutora e assistente. Lama Lena também estudou medicina chinesa e tinha um consultório particular em San Francisco Bay Area. Em 2005 ela voltou para Tso Pema para ajudar Wangdor Rimpoche. Ela atualmente mora na montanha acima do Lago de Lotus com suas duas kandros. Quando não está viajando, ensinando ou traduzindo, ela trabalha prestando assistência médica à comunidade de refugiados tibetanos, bem como aos moradores locais indianos e para as tribos das montanhas. A pedido do HE, Zigar Choktrul Rimpoche e Ven.Wangdor Rinpoche - assim como muitos ocidentais e tibetanos estudantes do dharma - ela tem viajado e ensinado sobre as linhagens que ela detém.


http://shenphencholing.blogspot.com/
Lama Lena Yeshe Kaytup
Email: lamalena@customjuju.com
Rewalsar/Tso Pema
Himachal Pradesh, North India
 
Centro de Budismo Shenphen Chöling Av. Presidente Kennedy, 5585 - Morros - Teresina - PI 64052-800